terça-feira, 3 de outubro de 2017

Por que uma sociedade poupadora enriquece e uma sociedade consumista empobrece

Por que uma sociedade poupadora enriquece e uma sociedade consumista empobrece
Ao contrário do que dizem os intervencionistas, o caminho para a riqueza é a poupança, não o consumo
João tem uma renda de R$ 6.000 por mês. Não está nada mal. Com esse dinheiro, todos os meses ele consegue tranquilamente bancar seus gastos fixos: ele paga o aluguel, o condomínio, a conta de luz, a conta de gás, a internet e a conta de celular.
Com o que sobra, ele decide gastar com lazer e mimos próprios. Sai para jantar com frequência, vai ao boliche duas vezes por semana, vai a baladas todos os sábados, e ainda extrapola o limite do cartão de crédito comprando roupas e perfumes. Ele chega ao final do mês zerado. Gastou tudo o que recebeu e ainda tem dívidas pendentes no cartão de crédito.
Maria trabalha em uma empresa e tem um cargo similar ao de João. Seu salário é aproximadamente o mesmo. Mas o padrão de gastos é completamente diferente. Ao contrário de João, Maria, após quitar todos os seus gastos fixos, poupa o que sobrou e investe.
Ou seja, Maria restringe seu consumo presente. Maria faz o sacrifício de gastar pouco no presente, privando-se de vários prazeres. Isso, obviamente, significa que ela nem sempre se permite a pequenos luxos. Ela não é da mentalidade do "eu mereço, por isso gasto". Muitas vezes ela tem de dizer a seus amigos e amigas que "esta noite não poderei sair".
Difícil e chata a vida de Maria, não?
No curto prazo, de fato pode parecer assim. Já no longo prazo, a história será bem diferente.
Vinte anos depois, João se tornou vítima de suas próprias escolhas. Ele gostaria de sair do seu atual e estafante emprego e poder se dedicar a outras coisas, mas está afundado em um mar de dívidas. Como ele não tem reservas — pois não poupou —, praticamente tudo o que ele recebe como salário vai diretamente para o pagamento de dívidas. Consequentemente, ele não pode se dar ao luxo de sair deste seu emprego e mudar sua rotina. Seus gastos fixos são hoje ainda mais altos, de modo que ele sempre está "com a corda no pescoço". Antigamente, ele trabalhava para ganhar dinheiro. Hoje, ele trabalha para pagar dívidas.
Já Maria está em uma situação completamente distinta. Com bastante dinheiro acumulado — consequência de sua poupança e de sua restrição de gastos —, seu trabalho não mais é uma necessidade de sobrevivência. Ela não mais precisa daquele emprego como se fosse o único recurso para continuar viva. Com efeito, ela está pensando em deixar de ser empregada e se tornar empreendedora. Ela quer investir no ramo da moda. Ela sempre gostou de design de moda e agora está animada a dar uma guinada em sua vida. Está decidida, e investirá sua poupança neste novo projeto.
Seu sonho é, em alguns anos, poder viver do seu próprio empreendimento.
A poupança, a frugalidade, e a capacidade de pensar visando ao longo prazo foi o que ajudou Maria. Se esse comportamento foi positivo para Maria, por que seria negativo caso adotado por todas as pessoas de uma economia?
A falácia de que a poupança afeta a economia
Com enorme frequência escutamos que a poupança é a inimiga do crescimento econômico. Os economistas keynesianos nunca se cansam de enfatizar que o que move a economia é o consumo. Consequentemente, a política econômica correta é aquela que estimula o consumismo, seja por meio do crédito farto e barato, seja por meio de simplesmente dar mais dinheiro às pessoas para que elas possam gastar.
"Mais consumo significa mais demanda, e mais demanda gera maior produção. Eis a receita para a prosperidade!", dizem eles.
Já a poupança — isto é, a frugalidade e a contenção os gastos — seria a inimiga número um desta receita mágica.
Quais os problemas com esta visão? Vários.
Para começar, ela se baseia na crença de que ações individuais voluntárias — as pessoas decidem poupar mais de livre e espontânea vontade — podem ser deletérias para toda a economia. Na visão keynesiana, tal comportamento não é algo racional; não é um comportamento adotado voluntariamente de acordo com as condições econômicas. Ao contrário, trata-se de um comportamento irracional, de um "espírito animal".  É algo que acontece do nada. As pessoas simplesmente param de gastar e começam a poupar.
Sim, se várias pessoas repentinamente decidirem parar de gastar toda a sua renda e decidirem poupar boa parte dela com a intenção de consumir apenas no futuro, isso obviamente terá certos efeitos sobre parte da economia, uma vez que haverá menos demanda por certos tipos de bens e serviços. Isso é algo óbvio e nada controverso.
Mas o que isso gerará? Essa é a questão principal. E ela nos leva ao principal problema com esta visão: ela ignora por completo a verdadeira "função social" da poupança.
Esta função social da poupança, e sua importância para o desenvolvimento das economias, foi destacada pelo economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk, que escreveu em 1910:
Aquilo que todos conhecem como "poupança" tem, como consequência imediata, um lado negativo: o não-consumo de uma fatia de nossa renda. Ou, em termos aplicáveis à sociedade que utiliza o dinheiro, o não-gasto de uma porção do dinheiro recebido anualmente.
Este aspecto negativo da poupança é o mais imediatamente evidente em nosso dia a dia e, com efeito, é o único que as pessoas imaginam existir. São muito poucas as pessoas que realmente param para pensar no destino subsequente das somas de dinheiro poupado; elas apenas imaginam que o dinheiro ficou parado dentro de uma conta bancária.
Mas é exatamente aqui que começa a parte positiva do processo da poupança, o qual irá se completar muito longe do campo de visão do poupador — cujas ações, entretanto, foram as que deram o impulso a toda a atividade que virá a seguir.
O banco irá recorrer a essa poupança de seus depositantes e irá emprestá-la para empreendedores de várias maneiras: empréstimos para a construção civil, empréstimos para a abertura de pontos comerciais, empréstimos para a ampliação de instalações industriais, empréstimos para a construção de fábricas, empréstimos para a contratação de mão-de-obra, empréstimos para capital de giro etc.
Desta maneira, a poupança de uns foi direcionada para o financiamento de atividades produtivas, as quais, sem esta ajuda, não poderiam ter êxito. No mínimo, não alcançariam a mesma eficiência.
Essa é a primeira consequência positiva da poupança: se ela não existisse, não haveria depósitos nos bancos e, consequentemente, não haveria crédito nem para o consumo e nem para o investimento.
Em suma, sem a poupança não há investimento, e sem investimento os países não cresceriam.
[N. do E.: quanto menos poupadora é uma sociedade, mais o governo tenta remediar essa situação expandindo ele próprio o crédito, por meio da simples criação de dinheiro. As consequências são a inflação de preços e os ciclos econômicos ]
No entanto, vários oferecem resistência a esta ideia de que é necessário poupar. Ao próprio Böhm-Bawerk os contrários à poupança diziam que, se todos os indivíduos decidissem poupar 25% de sua renda ao mesmo tempo, isso iria restringir a demanda por bens de consumo, levando a economia a uma forte recessão.
E haveria recessão não somente porque cairia a demanda por bens de consumo, mas também porque a demanda por bens de capital (aqueles utilizados para produzir bens de consumo, como máquinas e ferramentas) iria igualmente cair. Afinal, quem iria comprar uma máquina que fabrica sapatos se ninguém quer comprar sapatos, já que todos decidiram poupar mais? Consequentemente, quem investiria na produção de máquinas?
A esta acusação Böhm-Bawerk respondeu de maneira magistral:
Nesta premissa — de que a poupança significa necessariamente uma redução na demanda por bens de consumo — está faltando uma única, porém muito importante, palavra: 'presente'. 
Para começar, o homem que poupa reduz a sua demanda por bens de consumo presentes, mas de maneira alguma ele reduz seu desejo geral por bens que lhe deem prazer. A "abstinência" gerada pela poupança não é uma abstinência absoluta, ou seja, ela não gera uma renúncia definitiva a todo e qualquer bem de consumo. Ele continua consumindo bens básicos no presente. Mas abrirá mão do consumo, no presente, de bens mais luxuosos. Mas tal renúncia não é definitiva. Ela é apenas uma postergação.
O motivo principal daqueles que poupam é precisamente preparar-se para o consumo futuro; ter meios com os quais suprir suas demandas futuras ou as de seus herdeiros. 
Isso significa, nada mais nada menos, que eles desejam garantir que terão controle sobre os meios que permitirão a satisfação de seus desejos futuros, isto é, sobre o consumo de bens em um período futuro.
Em outras palavras, aqueles que poupam reduzem sua demanda por bens de consumo no presente justamente para poderem aumentar proporcionalmente sua demanda por bens de consumo no futuro.
Ou seja, a poupança é a restrição do consumo presente visando a um aumento do consumo futuro.
O consumismo e a lição de Crusoé
A diferença entre o Robinson Crusoé pobre e o Robinson Crusoé rico é que o rico dispõe de bens de capital.  E para ter esses bens de capital, ele teve de poupar e investir. 
Os bens de capital do Robinson Crusoé rico (por exemplo, uma rede e uma vara de pescar, construídas com bens que ele demorou, digamos, 5 dias para produzir) foram obtidos porque ele poupou (absteve-se do consumo) e, por meio de seu trabalho, transformou os recursos que ele não havia consumido em bens de capital. Estes bens de capital permitiram ao Robinson Crusoé rico produzir bens de consumo (pescar peixes e colher frutas) e com isso seguir vivendo cada vez melhor.
Já o Robinson Crusoé pobre é aquele que não poupa. Consequentemente, ele não dispõe de bens de capital. Logo, todo o seu trabalho é feito à mão. Por isso, ele é menos produtivo. E, por produzir menos e ter menos bens à sua disposição, ele é mais pobre e seu padrão de vida é mais baixo.
O Robinson Crusoé rico é mais produtivo.  E, por ser mais produtivo, não apenas ele pode descansar mais, como também pode poupar mais, o que irá lhe permitir acumular ainda mais bens de capital e consequentemente aumentar ainda mais a sua produtividade no futuro.
Já o Robinson Crusoé pobre consome tudo o que produz. Ele não tem outra opção.  Como ele não é produtivo, ele não pode se dar ao luxo de descansar e poupar. Essa ausência de poupança compromete suas chances de aumentar seu padrão de vida no futuro.
Por isso, sociedades ultra-consumistas são necessariamente sociedades de subsistência. Uma tribo africana consome 100% de sua produção (renda). Como não consegue poupar, não consegue acumular capital. Sem capital acumulado, não consegue aumentar sua produtividade. Sem aumento de produtividade, não sai da pobreza. Nada é mais anti-capitalista que uma sociedade ultra-consumista.
Capitalismo é, acima de tudo, poupança
Não há dúvidas de que o consumo é o propósito supremo de toda atividade humana de caráter produtivo. As pessoas trabalham e produzem para poder consumir; e é assim em todo e qualquer arranjo econômico, tanto em sociedades capitalistas quanto em sociedades não-capitalistas.
Ninguém quer dedicar esforços e recursos para fabricar algo que não será utilizado no futuro.
Mas a característica distintiva do capitalismo é que ele direciona a poupança dos cidadãos para investimentos produtivos. Em outras palavras, ele transforma poupança em capital.
Aqueles que crêem que o capitalismo se sustenta sobre o consumismo desconhecem a própria raiz da palavra "capitalismo". Capitalismo advém de capital. Capitalismo é acumulação de capital. E capital é aquela fatia do nosso patrimônio que aumenta a nossa riqueza futura. Capital é toda a riqueza acumulada — que pertence a empresas ou a indivíduos — e que é utilizada para o propósito de se auferir receitas e lucros futuros.
Capital, em suma, é aquilo que cria riqueza futura para nós mesmos e para o resto da sociedade.
Para acumular capital é necessário poupar. E para poupar é necessário restringir o consumo.
Sendo assim, qual o sentido de dizer que um arranjo cuja própria existência depende da virtude da poupança e do não-consumo só pode sobreviver e prosperar quando se consome maciçamente?
O capitalismo não depende do consumo, mas sim da poupança. Uma sociedade que consome 100% da sua renda será uma sociedade anti-capitalista. Não haveria um único bem de capital existente: não haveria moradias, não haveria fábricas, não haveria infraestruturas, não haveria meios de transporte, não haveria maquinários, não haveria escritórios e imóveis comerciais, não haveria laboratórios, não haveria cientistas, não haveria arquitetos, não haveria universidades, não haveria nada.
Simplesmente, todos os indivíduos estariam permanentemente ocupados produzindo bens de consumo básicos — comidas e vestes — e não dedicariam nem um segundo para a produção de bens de capital, que são investimentos de longo prazo que geram bens futuros. Por definição, se uma sociedade consome 100% da sua renda, ela não produz nenhum outro bem que não seja de consumo imediato.
É a poupança, é o não desejo de consumir tudo o que se pode, o que nos permite direcionar nossos esforços para satisfazer não os nossos desejos mais imediatos, mas sim nossas necessidades futuras: com a poupança, produzimos bens de capital que irão, por sua vez, fabricar os bens de consumo de que podemos necessitar no futuro.
Mas como saber o que produzir?
A objeção final torna-se óbvia: dado que temos de poupar agora para consumir mais no futuro, como serão os investimentos?
Ou seja, mesmo se houver uma maior demanda futura por bens de consumo, como os empreendedores irão saber quais tipos de investimentos em capital deverão fazer?  E quais tipos de bens, e em quais quantidades, devem planejar ofertar no mercado em preparação para esta maior demanda futura?
A resposta de Böhm-Bawerk foi mostrar que a produção é sempre voltada para o futuro — um processo no qual se utiliza meios produtivos hoje com o intuito de se ter bens de consumo para serem vendidos amanhã. 
O exato propósito da concorrência empreendedorial é testar constantemente o mercado, de modo a antecipar da melhor maneira as demandas do consumidor, corrigir as existentes e perceber as que estão mudando.
Empreendedorismo é, acima de tudo, a arte de saber antecipar corretamente as demandas dos consumidores e direcionar os recursos presentes de modo a fabricar bens que atenderão aos desejos dos consumidores no futuro. Não é fácil. É uma arte dominada por muito poucos. E estes poucos que a dominam irão auferir grandes lucros.
A concorrência, portanto, é o método de mercado que faz com que a oferta seja sempre correspondente às demandas dos consumidores.  E se erros forem cometidos — e eles serão —, os prejuízos resultantes deste prognóstico errôneo funcionam como estímulo para que se faça ajustes apropriados na estrutura de produção, ou para que se realoque mão-de-obra e recursos para outras linhas de produção.
Quando deixado funcionando livremente, o mercado exitosamente garante que as demandas tenderão a igualar a oferta, e que os horizontes temporais dos investimentos serão compatíveis com a poupança disponível necessária para manter e expandir a estrutura do capital no longo prazo.
E qualquer tentativa de manipular esse arranjo — por exemplo, por meio da redução artificial das taxas de juros — inevitavelmente gerará ciclos econômicos.
Conclusão
A poupança é vital para que exista um futuro melhor. É ela que deve ser estimulada, e não o consumismo, o endividamento, o crédito subsidiado ou o controle de preços.
Poupar sempre é bom. Se o fazemos, isso significa que somos mais pacientes e, consequentemente, podemos gerar processos de produção mais completos, de maior duração, e com mais etapas intermediárias. Sem a poupança, jamais teria sido possível o surgimento de tratores, máquinas ceifadoras, escavadeiras e, acima de tudo, nenhuma das inovações tecnológicas que hoje estão revolucionando a maneira como nos comunicamos, como Facebook, Twitter, Skype, Gmail, Instagram, SnapChat etc.
Todas estas criações foram possíveis porque alguém, em algum momento, decidiu poupar, e esta poupança foi direcionada para o investimento.

FONTE  http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2665

O consumismo não gera crescimento econômico - e sua defesa é o cerne da teoria keynesiana

O consumismo não gera crescimento econômico - e sua defesa é o cerne da teoria keynesiana
A confusão que gera recessões e empobrecimento
Uma das falácias econômicas mais perniciosas e difundidas é a crença de que o consumo é a chave para uma economia sólida e em contínuo crescimento.
Ouvimos essa ideia constantemente na imprensa e nas conversas casuais, especialmente em épocas de recessão econômica. As pessoas dizem coisas como: "Ah, se todos começarem a comprar novamente, a economia voltaria a crescer" ou "Se conseguíssemos colocar mais dinheiro nas mãos dos consumidores, sairíamos dessa recessão".
Essa crença no poder do consumo não apenas conduziu grande parte da política econômica nos últimos anos, com seus infindáveis pacotes de estímulo, como também estimular o consumo sempre foi o objetivo supremo de todas as políticas econômicas adotadas por governos.
Tal ideia é uma herança do equivocado pensamento keynesiano.  Ela ignora o fato de que é a produção, e não consumo, a fonte de riqueza.  Se o que se quer é uma economia saudável, então é imprescindível criar as condições para que empreendedores possam produzir e criar riqueza.  Igualmente importante é criar as condições para que pessoas e empresas possam poupar o suficiente para financiar toda essa produção e, também, para consumi-la no futuro.
Quanto mais poupança, maior a quantidade de fundos a serem emprestados.  Quanto maior a quantidade de fundos a serem emprestados, menores os juros.  Quanto menores os juros (e os juros serão baixos por uma consequência de mercado, e não por manipulação de um Banco Central), mais economicamente viáveis serão os investimentos de longo prazo, que são os que realmente enriquecem uma economia e geram maiores salários.
Simultaneamente, quanto maior a poupança, maior a capacidade de consumo futura da população.  Mais demanda haverá para os investimentos de longo prazo iniciados hoje.
É tentador dizer que essa questão do consumo é uma espécie de enigma "do ovo e da galinha": afinal, qual é o benefício de se produzir coisas se não houver ninguém para consumi-las? A solução para essa charada é reconhecer que somente temos o poder de consumir se antes produzirmos e vendermos algo para então termos os meios de consumir. É impossível consumir sem antes você ter produzido e vendido (como a sua força de trabalho, por exemplo).
Iniciar a análise pelo consumo pressupõe que o indivíduo já adquiriu os meios. Contrariamente a essa análise, a riqueza é criada por meio de atos de produção que rearranjam recursos de uma maneira que as pessoas valorizam mais do que arranjos alternativos.  Esses atos são financiados com a poupança que vem de indivíduos que se abstêm do consumo.
A criação de riqueza e os consumidores
Em uma economia capitalista, a riqueza está majoritariamente na forma de capital. 
Capital é toda a riqueza acumulada que pertence a empresas ou a indivíduos, e que é utilizada para o propósito de se auferir receitas e lucros.  O capital abrange todas as fábricas, minas e fazendas agrícolas, bem como todos os maquinários e equipamentos, todos os meios de transporte e de comunicação, todos os armazéns, lojas, escritórios, imóveis comerciais e residenciais, e todos os estoques de materiais, componentes, suprimentos, bens semimanufaturados e bens acabados que são propriedades de empresas.
Capital, portanto, é a riqueza empregada na produção, e subsequente venda, de bens e serviços.  Essa riqueza é o alicerce tanto da oferta dos produtos que as pessoas compram quanto da demanda pela mão-de-obra que as pessoas vendem. 
Quanto maior a riqueza dessa economia, maiores serão os salários reais.  E por dois motivos: haverá uma maior oferta de bens produzidos e uma maior demanda pela mão-de-obra de assalariados. 
Tributar os lucros dessas empresas significa privar-lhes de fundos que elas utilizariam para adquirir bens de capital e pagar salários.  Déficits governamentais também geram o mesmo efeito, pois são majoritariamente financiados com o dinheiro que essas empresas emprestam para o governo.  Portanto, tanto a tributação quanto os déficits governamentais irão reduzir a demanda por (e a produção de) bens de capital e a demanda por mão-de-obra.  Em outras palavras, déficits governamentais e tributação reduzem o nível da produção, contribuem para a elevação dos preços e impedem o aumento de salários.
Consumidores e seu ato de consumo não são e nem podem ser os responsáveis pelo desenvolvimento industrial de nenhum país.  Consumidores possuem uma miríade de necessidades e desejos, os quais permaneceriam totalmente não realizados caso empreendedores e capitalistas não investissem sua riqueza e capital acumulado para encontrar maneiras de suprir essas necessidades e desejos. 
Empreendedores e capitalistas irão investir sua riqueza e capital na criação e desenvolvimento de novos e aprimorados produtos, bem como de mais eficientes e menos custosos métodos de produção, tudo para satisfazer os desejos dos consumidores.  E quando tais aprimoramentos forem introduzidos, só então os consumidores irão adquiri-los, e frequentemente em ampla escala. 
As empresas e indústrias que produzirem os melhores produtos, ou os mais baratos, e com isso conquistarem grandes fatias de mercado, irão se expandir continuamente, tornando-se assim grandes integrantes do sistema econômico.
Isso, no entanto, não significa que haverá um aumento geral no número de empregos.  Por exemplo, ao passo que o desenvolvimento da luz elétrica levou a um grande aumento no número de empregos relacionados à produção de lâmpadas incandescentes e de fiação elétrica, tal fenômeno também levou a uma quase total extinção da produção de velas, lanternas e lâmpadas a gás, com uma correspondente perda no emprego nestas áreas. 
Similarmente, quando o automóvel substituiu o cavalo e a charrete, o vasto número de empregos criados na indústria automotiva foi acompanhado de uma maciça perda de empregos nos setores de construção de charretes, ferraria, criação de cavalos, fabricação de selas e cultivo de aveia.
Não há estímulos benéficos
Por tudo isso, o ato de colocar mais recursos nas mãos dos consumidores por meio de pacotes de estímulo governamental falha exatamente porque a riqueza transferida provém, acima de tudo, dos produtores. Isso é óbvio quando o gasto é financiado por impostos; porém, é igualmente verdadeiro quando se trata de déficits do governo e inflação.
Em caso de déficits, como dito, a riqueza vem das compras de títulos do governo pelos produtores. Com a inflação monetária, o efeito é outro.
Levados pela crença de que é o consumo o que gera emprego, economistas keynesianos defendem estimular o consumo por meio da inflação monetária — isto é, da criação de quantias adicionais de dinheiro.  Tal procedimento tem o potencial de aumentar o emprego apenas sob determinadas circunstâncias: somente se aqueles vendedores de bens de consumo que estiverem sendo premiados com esse volume adicional de gastos dos consumidores pouparem e investirem essas suas receitas adicionais.  Nesse caso, eles poderão expandir sua produção e contratar mais mão-de-obra. 
Porém, se eles também consumirem essas suas receitas adicionais, ou se o governo tributar essa receita adicional — e ele fará isso —, não haverá aumento nos gastos para mão-de-obra ou bens de capital.  Consequentemente, não haverá aumento no emprego. 
O poder da inflação monetária em promover o emprego também depende de os sindicatos serem fracos ou até mesmo não existentes.  Se existirem sindicatos e eles forem poderosos, então eles irão se aproveitar da inflação para exigir maiores salários nominais — mesmo em meio a um maciço desemprego —, anulando desta forma a capacidade de um maior volume de gastos por mão-de-obra aumentar o emprego.
Obviamente, é desnecessário enfatizar que a inflação faz com que o poder de compra de todas as pessoas, e em especial dos mais pobres, seja reduzido, o que irá afetar diretamente o poder de consumo futuro — que é exatamente o contrário do almejado por essa política.
Em nenhum desses casos, portanto, o governo criou riqueza.  Tampouco o consumo o fez. A capacidade de consumir continua dependendo de atos anteriores à produção.
Se o que se quer é um estímulo econômico de verdade, então os empreendedores devem ser liberados para fazer suas atividades.  E a maneira certa de se fazer isso é criando um ambiente mais propício para a produção, em vez de penalizar a poupança que a financia.
Culpe Keynes
Historicamente, foi o keynesianismo quem introduziu a ênfase no consumismo como a força-motriz da economia. Antes da revolução keynesiana, a crença padrão entre os economistas era que a produção era a fonte da demanda e que encorajar a poupança e a produção era a maneira de gerar crescimento econômico.
Essa era a compreensão correta da Lei de Say. Como o próprio Jean-Baptiste Say escreveu no início do século XIX:
O estímulo ao mero consumismo não é benéfico para o comércio; a dificuldade está em ofertar os meios e em produzir, e não em estimular o desejo pelo consumo; e já vimos que somente a produção fornece tais meios. Portanto, é o objetivo do bom governo estimular a produção, e do mau governos estimular o consumo.
É claro que "estimular a produção" nada mais é do que deixar os produtores livres para buscarem o lucro como desejarem, dentro de um arcabouço liberal-clássico. Isso não significa que o governo deve beneficiar artificialmente produtores, assim como não deve estimular o consumo.
A grande ironia é que os esquerdistas frequentemente argumentam que o capitalismo é sinônimo de "consumismo". Eles genuinamente pensam que os defensores do livre mercado acreditam que mais consumo promove crescimento econômico.  Consequentemente, somos acusados de fornecer uma espécie de cobertura ideológica para justificar aquele consumismo que, na visão deles, destrói vidas e desperdiça recursos.  O que esses críticos de esquerda não percebem é que os economistas clássicos nunca viram o consumo como sendo a força-motriz do crescimento econômico e da prosperidade.  Quem introduziu essa ideia foi Keynes e quem a entronizou foram os economistas keynesianos críticos do livre mercado.
Graças ao keynesianismo, a manipulação dos elementos que compõem a equação do PIB (consumo, investimento e gastos governamentais) se tornou o foco de todas as políticas macroeconômicas. Foi o arcabouço teórico keynesiano que levou à criação das estatísticas de PIB e que implicitamente gera as incitações para mais consumo.
Por mais de 150 anos, os defensores do livre mercado viram o consumismo como destruidor de riqueza, e a poupança como a sua criadora. Eles nunca defenderam que "estimular o consumo" era o caminho para a prosperidade. Portanto, eles não podem ser acusados de justificarem a "cultura consumista". E o mesmo é verdadeiro para os defensores do livre mercado do século XX, como Mises e Hayek.
Se a esquerda progressista quer lamentar o enfoque da economia moderna no consumo, então ela deveria voltar suas artilharias para os intervencionistas keynesianos.

FONTE  http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2427

A ideia de que os gastos dos consumidores geram empregos atenta contra a lógica

A ideia de que os gastos dos consumidores geram empregos atenta contra a lógica
Quem gera empregos são empreendedores que antecipam corretamente o mercado
Comecemos pelo básico: dizer que a economia é conduzida pela demanda (gastos) dos consumidores é o equivalente a colocar a carroça na frente do boi.
O que conduz a economia é a produção. O consumo, por definição, só pode vir depois da produção. A produção deve necessariamente vir antes do consumo.
Para que eu possa demandar (consumir) algo, eu tenho antes de ter produzido algo. Se eu não produzo nada que tenha valor no mercado, não terei renda e consequentemente minha demanda será zero.
A produção, portanto, tem necessariamente de vir antes da demanda (consumo). A demanda é consequência da produção, e não a causa dela.
Os gastos gloriosos
No entanto, não apenas continua popular a tese de que a economia é conduzida pela demanda, como também é quase que universalmente aceita a tese de que são os gastos dos consumidores o que gera empregos. Quanto mais os consumidores gastam, mais empregos são gerados.
Esta tese é ainda mais popular nos meios acadêmicos porque ela dá suporte à ideia keynesiana de que o governo deve "estimular" a economia quando há uma recessão, seja por meio de políticas fiscais ou monetárias. Quanto mais o governo gastar ou quanto mais ele estimular o endividamento das pessoas (por meio de uma política monetária expansiva), mais empregos serão gerados.
Em seu cerne, a ideia é que se os gastos em bens e serviços aumentarem, então mais pessoas serão necessárias para produzir estes bens e serviços. Consequentemente, mais pessoas terão empregos e ganharão salários, podendo então comprar mais bens e serviços, criando assim um moto-perpétuo.
O problema é que, embora esta lógica seja atraente — porque simplista e de fácil entendimento —, ela se baseia em uma pressuposição totalmente falsa. Não existe essa relação entre gastos do consumidor e emprego, a qual os keynesianos juram ser óbvia.
O primeiro erro
Como explicado acima, tratar a economia como se ela fosse conduzida pelos gastos é ver a realidade de maneira invertida.
E tal erro é normalmente cometido por quem não inclui o empreendedorismo em seus modelos econômicos e desconhece o papel dos empreendedores em uma economia. Isso é corriqueiro nas modelagens formais do atual ensino da ciência econômica.
Se pensarmos que a economia é algo mecânico, circular e em constante equilíbrio, então de fato não há motivos para se considerar a figura do empreendedor. Neste cenário, a economia passe a ser como Hamlet sem o príncipe dinamarquês: um sistema destituído de atores e de ação.
Sob este prisma, a economia é como uma máquina em moto-perpétuo, que funciona por meio de gastos que se movem em um fluxo circular, com recursos homogêneos.

Ou seja, não há uma estrutura do capital complexa, não há varias etapas de produção, não há preferências temporais.  Há apenas gastos, os quais fazem automaticamente o serviço de "gerar emprego e crescimento".
Só que tal visão mecanicista da economia é totalmente irreal. O mercado é um processo dinâmico, e não apresenta "equilíbrio". E o empreendedorismo é a força-motriz deste dinamismo.
O mundo real é dinâmico e está em contínuas mudanças. E é daí que surgem os empregos.
O papel do empreendedorismo
Antes da avalanche keynesiana — que se resume a abolir a visão dinâmica do mercado e a ver toda a economia como um fluxo circular homogêneo —, os economistas tinham a correta visão do funcionamento da economia: o que conduz toda a economia não é a demanda e o gasto, mas sim o empreendedorismo e a produção.
Com efeito, John Stuart Mill, em sua Quarta Proposição Fundamental sobre o capital, já dissera que "a demanda por mercadorias não é o mesmo que demanda por mão-de-obra". Tal constatação é clara quando se passa a levar em conta a função do empreendedor.
Empreendedorismo é perceber oportunidades que não estão especificadas nos dados conhecidos por todos. É o ato de ver uma nova maneira de alocar meios para alcançar um fim. Empreendedorismo não é apenas tentar melhorar algo que já existe; empreendedorismo é criação. Empreendedores criam riqueza ao alocar corretamente recursos escassos para usos mais produtivos. Empreendedorismo, em suma, é descobrir oportunidades ainda não percebidas de lucro, e agir em cima dessas oportunidades.
O que fazem os empreendedores? Eles tentam antecipar quais serão as demandas futuras dos consumidores, e então contratam mão-de-obra, compram maquinário e produzem bens e serviços de acordo com esta estimativa. Em outras palavras, eles contratam mão-de-obra e produzem antecipadamente na esperança de que conseguirão vender, no futuro, estes bens e serviços.
Se irá de fato haver ou não demanda para os bens e serviços produzidos por este empreendedor é algo que dependerá totalmente dos consumidores e da maneira como eles irão avaliar os bens e serviços oferecidos (o preço cobrado está de acordo?). Irá depender também de quais outros bens e serviços concorrentes os consumidores poderão comprar (e se os preços da concorrência forem menores e a qualidade maior?). Igualmente relevante é como será o comportamento futuro dos consumidores, pois em algumas situações eles preferirão poupar a consumir.
Portanto, eis o que ocorre: primeiro, o empreendedor tem de antecipar corretamente a demanda dos consumidores; depois, ele tem de antecipar corretamente qual preço poderá ser cobrado pelo produto final; finalmente, o empreendedor tem de ver se será capaz de produzir este bem a um custo suficientemente baixo, de modo a tornar todo o empreendimento viável.
Em outras palavras, os empreendedores arcam com todas as incertezas de seu empreendimento. Eles tentam antecipar como os consumidores irão valorar seus bens e serviços, e, baseando-se nesta estimativa, eles estimam os preços. Tais preços, por sua vez, irão determinar se todo o processo de produção será viável ou não. Se o custo operacional for maior que o preço final estimado, nada feito.
Empreendedores criam empregos, e o gasto dos consumidores é irrelevante neste processo
O que tudo isso significa é que os empreendedores especulam sobre o futuro, que é quando irão efetivamente colocar seus bens e serviços à venda. Consequentemente, todo o investimento para a produção e toda a contratação de mão-de-obra ocorrerá independentemente de haver gastos no mercado.
Empreendedores não tomam decisões de investimento e produção baseando-se nos gastos de hoje, mas sim baseando-se em como eles prevêem que será o futuro. A produção é algo que leva tempo, de modo que as condições vigentes de consumo (os gastos dos consumidores) quando uma decisão de investimento é tomada não são muito relevantes, pois elas podem mudar repentinamente. Assim, o que realmente importa é o futuro: como será o mercado quando o processo de produção estiver concluído.
Essa constatação solapa completamente as bases da visão keynesiana da economia, pois, no mundo real, o empreendedor irá empregar pessoas antes de a demanda ser conhecida — com efeito, antes até mesmo de a demanda poder ser conhecida.
Isso vale para qualquer área.
Quando uma incorporadora contrata mão-de-obra e compra maquinários para fazer a terraplenagem de um local para ali construir um condomínio ou mesmo um shopping, não houve nenhum gasto do consumidor para gerar aqueles empregos. A incorporadora apenas estimou a demanda futura para seu produto final e, com base nessa estimativa, pediu empréstimos, contratou mão-de-obra, investiu e produziu. Nenhum fluxo de gastos do consumidor criou aqueles empregos.
Quando uma fabricante de automóveis constrói uma planta para fabricar carros, nenhum gasto do consumidor gerou aqueles empregos. Os empregos foram criados com base na estimativa dos empreendedores em relação à demanda futura.
Quando um comerciante abre uma loja de roupas, ele contrata vendedores com base na sua estimativa de como serão suas vendas. A contratação de vendedores ocorre sem que um único centavo dos consumidores tenha sido gasto. O mesmo raciocínio se aplica a um restaurante e toda a contração de cozinheiros e garçons.
Portanto, temos que, de início, empregos são criados sem que tenha havido nenhum gasto dos consumidores. Tudo se baseou na expectativa dos empreendedores quanto à demanda futura. Quando os consumidores finalmente começam a gastar comprando esses bens e serviços produzidos, os empregos já estavam criados.
Ok. Mas, e depois?
Bom, se o empreendedor fracassar — o que significa que não houve demanda suficiente para gerar receitas para cobrir os custos —, o empreendimento ainda assim terá empregado trabalhadores.
É verdade é que se o empreendedor não acreditar que a situação ruim irá mudar, esses trabalhadores poderão perder seus empregos. Mas o ponto é que os empregos foram criados independentemente dos gastos do consumidor.
Por outro lado, se o empreendedor for bem-sucedido — o que significa que os bens e serviços serão eventualmente vendidos a um preço que cubra os custos de produção — haverá uma relação entre gastos dos consumidores (naqueles bens e serviços) e a lucratividade do empreendimento. E isso é tudo o que pode ser dito ao certo. Não há nenhuma teoria que diga que o empreendedor irá manter os empregos que ele criou. Ele pode perfeitamente demitir e automatizar, por exemplo. Ou pode ele próprio assumir as funções do empregado demitido. O fato é que nada garante que os empregos criados pelo empreendedor serão mantidos pelos gastos dos consumidores.
Mas, e se a demanda for muito maior que a esperada? O empreendedor não terá de contratar mais pessoas?
Não necessariamente. Com efeito, o exemplo do empreendedor bem-sucedido apenas fortalece ainda mais o argumento de que os gastos em consumo não conduzem o emprego. Se o empreendedor descobre que a demanda por seus bens e serviços era muito maior do que ele antecipara, isso não necessariamente irá gerar mais empregos. Não há nada que comprove que um aumento da demanda fará com que o empreendedor empregue mais trabalhadores.
Para começar, se o empreendedor acreditar que esta maior demanda irá durar para sempre (o que seria uma mera especulação), ele irá investir em aumentar sua produção. Ele de fato pode simplesmente redobrar a aposta no atual processo, contratando mais pessoas, mas o mais provável é que ele faça investimentos em automação. Volumes de produção maiores fazem com que seja mais fácil cobrir os custos fixos iniciais do maquinário. E os lucros são muito mais afetados por custos variáveis, como salários e encargos sociais e trabalhistas. Ademais, empregar mais pessoas requer mais gastos com o treinamento de trabalhadores.
Entretanto, mesmo se desconsiderarmos essa constatação de que máquinas podem substituir a mão-de-obra (pois torna o trabalho mais produtivo), e assumirmos que o empreendedor irá simplesmente dobrar a aposta no processo de produção inicial e contratar mais mão-de-obra, ainda assim a visão keynesiana de que a demanda gera empregos não se sustenta: afinal, a contratação de mais mão-de-obra e o investimento para aumentar a produção ainda continuam ocorrendo em antecipação à demanda futura — e não em resposta à demanda atual.
Um eventual aumento na demanda hoje não necessariamente será duradouro. Pode acabar amanhã, pode acabar mês que vem, ou ano que vem. Impossível saber. Consequentemente, qualquer decisão de contratar mais mão-de-obra hoje será meramente uma especulação em relação à demanda futura.
Conclusão
Quem cria empregos são empreendedores e investidores, e eles fazem isso de acordo com suas expectativas quanto à demanda futura (o que depende das condições econômicas esperadas para o futuro).
Simplesmente não há como escapar do fato de que a produção precede o consumo. E isso é algo fundamental: o empreendedor incorre em sua produção e contrata mão-de-obra antes de saber se será capaz de vender os bens e serviços produzidos.
O eventual gasto dos consumidores naquele bem ou serviço produzido ocorrerá após a produção e a geração de empregos, e não o contrário. O gasto dos consumidores não cria empregos para as pessoas. O que cria empregos são o investimento e a produção feitos pelos empreendedores.
Não faz nenhum sentido pensar que gastos dos consumidores precedem a produção e o emprego. Reduza a economia a apenas duas pessoas e veja se seria possível o gasto de A causar a produção feita por B.
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FONTE http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2774

Por que a Espanha deveria deixar a Catalunha decidir

Por que a Espanha deveria deixar a Catalunha decidir
O princípio básico da liberdade é a auto-determinação
Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha é uma província cujo histórico é complexo: historicamente, ela sempre foi seu próprio principado; porém, e ao mesmo tempo, ela tem sido alternadamente conquistada e reivindicada tanto pela França quanto pela Espanha.
Apesar de todos os esforços para erradicá-lo, a província ainda mantém um idioma próprio. E também possui uma identidade nacional própria. Assim como também possui representantes políticos próprios. De acordo com a mais recente constituição espanhola, a Catalunha possui um certo nível de autonomia em relação ao governo espanhol.
E agora ela quer se separar da Espanha.
Aliás, o termo "agora" talvez seja um tanto enganoso. A Catalunha tem se mostrado contrária ao domínio espanhol já faz um bom tempo, sendo que o movimento de independência política começou formalmente em 1922. O movimento rapidamente ganhou tração e conseguiu fazer com que a região se tornasse politicamente autônoma em relação ao governo espanhol. Mas isso foi antes de estourar a Guerra Civil espanhola, em 1936. Após a guerra civil, o ditador e general Francisco Franco prontamente aboliu a autonomia, em 1939.
Já o atual movimento de independência da Catalunha começou em 2006, com a Catalunha readquirindo uma nova autonomia dentro da Espanha. Desde então, várias e notórias figuras públicas catalãs passaram a fazer campanha ostensiva por um estado independente, e vários referendos simbólicos já foram feitos sobre o tópico, todos eles resultando em um resoluto 'sim' em favor da secessão.
Por causa deste forte apoio, a província da Catalunha marcou um referendo, agora formal e decisivo, para decidir sua independência em relação à Espanha. O referendo será dia 1º de outubro (próximo domingo).
Mas o governo espanhol não está gostando nada disso.
A Espanha responde
O governo espanhol declarou que o referendo é ilegal. Na quarta-feira passada, dia 20 de setembro, soldados da Guarda Civil espanhola deram batidas em vários órgãos do governo catalão e prenderam 14 ativistas, políticos e funcionários pró-independência, vários deles do alto escalão. Também na quarta-feira, o ministro do interior da Espanha anunciou que a Guarda Civil e a polícia nacional estarão em massa na Catalunha para impedir a realização do referendo, o que aumentou enormemente as tensões.
Em uma entrevista à Bloomberg, o ministro das relações exteriores da Espanha, Alfonso Dastis, declarou: "Essas pessoas [separatistas] estão, na prática, tomando atitudes nazistas, pois estão colocando cartazes com os rostos de todos os prefeitos que não estão querendo participar desta farsa." E prosseguiu dizendo que "Um referendo não é a mesma coisa que democracia. O general Franco organizou dois referendos."
Perceba que a tática é sempre a mesma, em qualquer país: quem não concorda com você é um nazista. No entanto, o senhor Dastis está errado: um referendo é exatamente a mesma coisa que democracia. Não faz sentido defender eleições majoritárias, mas se opor a referendos. Quem defende um tem necessariamente de defender o outro.
E, por mais que eu seja um cético em relação à democracia e à escolha de um governo pela maioria, é fato é que os cidadãos da Catalunha estão tendendo decidir, de maneira estritamente pacífica e não-violenta, se quere ser um estado independente. Já o governo espanhol está violentamente interferindo nesta tomada de decisão. Isso sim é anti-democrático, e não o referendo em si.
Escalada de tensões
É perfeitamente possível entender por que a Espanha quer manter a Catalunha. Trata-se de uma região extremamente industrializada, a qual, apesar de seu tamanho relativamente pequeno, possui o maior PIB dentre todas as províncias espanholas. Logo, é compreensível que o governo espanhol não queira abrir mão deste cofre, especialmente quando se considera quanto a economia espanhola ainda continua combalida.
No entanto, criminalizar o direito de auto-determinação não é uma maneira de manter a Catalunha.
Mesmo porque um referendo sobre a independência da Catalunha nem sequer é uma garantia de que haverá secessão em relação à Espanha. Pesquisas feitas dois meses atrás mostraram que 49,4% dos catalães eram contra a independência. Dito isso, quanto mais tirânico e opressivo o governo espanhol se comportar em relação aos catalães, maior a probabilidade de eles quererem a independência. As ações do governo espanhol já geraram violentos protestos em Barcelona, a capital da Catalunha. Carles Puigdemont, o presidente da generalidade da Catalunha, rotulou os ataques de 'violação aos direitos humanos'. Até mesmo membros do governo italiano — outro país em que vicejam movimentos separatistas — condenaram as ações do governo espanhol.
Toda a situação pode rapidamente sair do controle do governo espanhol. Aguardemos.
Deveria a Catalunha ser independente?
Somente os catalães, e ninguém mais, podem responder a esta questão. Alguns catalães se consideram espanhóis. Outros, não. Vários espanhóis consideram que a Catalunha é parte da Espanha. Outros, não.
Mas o que já está realmente claro é que há milhões de catalães (há 7,5 milhões de habitantes na Catalunha) que se consideram politicamente dominados e usurpados de sua soberania, e ressentem isso. Sendo assim, por que eles deveriam continuar vivendo sob um governo espanhol, sendo que sua história, sua cultura e seu idioma não são espanhóis?
Essa é uma pergunta justa e direta, para a qual as democracias ocidentais não têm uma resposta fácil. Se a intelectualidade ocidental venera tanto a democracia, ao ponto de dizer que as eleições democráticas são sacrossantas, então os resultados também teriam de ser sacrossantos, independentemente de quais sejam. Será que os democratas realmente defendem a democracia? A realidade é que não. Para eles, a democracia só é boa quando concordam com seus resultados.
Ludwig von Mises já havia resumido sucintamente o problema em seu livro Liberalismo — Segundo a tradição clássica:
A circunstância de se ver obrigado a pertencer a um estado, contra a própria vontade, por meio de uma votação, não é menos penosa do que a circunstância de se ver obrigado a pertencer a esse estado em razão de uma conquista militar.
Certamente, há vários indivíduos que se sentem como os catalães em vários países do mundo. Eles não consideram que o governo central seja legítimo (independentemente de como este governo foi formado) e represente seus verdadeiros interesses. Mais: eles sentem que "seu" governo não só não os representa, como também lhes é abertamente hostil. Por que obrigar tais pessoas a continuar sob este jugo?
A secessão deveria ser permitida para aquelas pessoas de quem discordamos?
Mas há também outras questões extremamente pertinentes sobre o que uma Catalunha independente realmente significaria, não só para a economicamente combalida Espanha, mas também para a vizinha França e o resto da União Europeia.
Há quem argumente que a Catalunha é a Espanha, e que suas antigas reivindicações de independência nada mais são do que um movimento nacionalista repleto de propagandas falsas com o intuito de criar um movimento político. Segundo essa crítica, os separatistas seriam espertalhões à procura de mais poder político, e estariam fazendo isso se aproveitando de um sentimento minoritário.
Ainda que seja verdade, isso não aborda a questão fundamental, que é a da auto-determinação. Logo, a principal questão continua sem resposta: deveriam os catalães ser proibidos de tomar suas próprias decisões, ainda que estas decisões sejam "ruins" e contrárias ao que nós (ou a Espanha ou a União Europeia) pensamos?
Sim, é fato que algumas pessoas ficariam em pior situação em caso de uma Catalunha independente. Porém, de mesma maneira, alguns espanhóis também ficarão objetivamente em melhor situação como resultado de não mais estarem politicamente presos à Catalunha. No mínimo, não mais teriam de lidar com políticos catalães enviados a Madri para impor ao resto da Espanha regulações, tributos, subsídios e tarifas protecionistas que supostamente são do interesse exclusivo da Catalunha.
Trata-se de uma questão factual complexa, e ambos os lados têm argumentos. Mas o fato crucial é este: se uma Catalunha independente estará em melhor ou pior situação é algo altamente subjetivo, não cabendo a nenhum de nós decidir.
A auto-determinação sempre deve ser o supremo objetivo político
O que nos leva ao ponto principal: a auto-determinação. É isto, e apenas isso, o que deve conduzir toda e qualquer medida política.
Para os libertários, a auto-determinação é o supremo objetivo da política. Em termos puramente políticos, auto-determinação é liberdade.
Em um mundo ideal, a auto-determinação se estenderia até a menor das minorias, que é o indivíduo, o qual deve usufruir uma completa soberania política sobre sua vida. Afinal, se você não gosta do governo sob o qual vive, deve ter o direito de se separar e criar um outro.
Porém, em um mundo imperfeito, os libertários deveriam sempre defender governos menores e mais descentralizados como sendo uma medida pragmática rumo a uma maior liberdade. Nosso objetivo deve ser o de fazer regredir poderes políticos sempre que possível, retirando-os da esfera federal e centralizadora e devolvendo-os a estados e, melhor ainda, municípios autônomos. O objetivo sempre deve ser a descentralização, fazendo com que estados grandes e centralizadores sejam menos poderosos. Barcelona sempre será menos perigosa que Madri. A legislatura de um estado americano sempre será menos temível que o Congresso em Washington.
Alguns libertários costumam argumentar, de maneira nada prática, que a secessão é uma coisa negativa porque "cria um novo estado". Mas este é um ponto de vista bastante simplista, dadas as realidades geográficas do planeta Terra. A menos que alguém esteja formando um novo estado situado completamente em águas internacionais, ou na Antártida, ou no espaço sideral, a criação de qualquer estado novo terá necessariamente de ocorrer à custa de algum estado existente.
Assim, a criação de um novo estado — por exemplo, na Catalunha — seria feita à custa do atual estado conhecido como "Espanha".  Por causa da secessão, o governo espanhol seria privado de receitas dos impostos dos catalães e das vantagens militares do território. 
Consequentemente, o estado que perde território torna-se necessariamente enfraquecido. (Vale lembrar, por exemplo, como a dissolução da URSS em dezenas de novos países enfraqueceu aquele estado. Mesmo a divisão da Tchecoslováquia em República Tcheca e Eslováquia também foi um golpe ao poder centralizado.)
Portanto, a secessão, em vez de ser vista como apenas "um ato que cria um novo estado", deve ser vista como um ato que enfraquece um estado existente.
Adicionalmente, além de enfraquecer estados, a vantagem, pela perspectiva do indivíduo, é que ele agora tem à sua disposição dois estados para escolher, onde antes havia somente um. Agora, o indivíduo tem mais opções: ele pode, mais facilmente, escolher um lugar para viver que seja mais adequado ao seu estilo de vida pessoal, ideologia, religião, grupo étnico e assim por diante. Um mundo composto de centenas, milhares ou mesmo dezenas de milhares de estados (ou de regimes de diversos tipos) ofereceria muito mais escolhas para os residentes que desejassem mudar sua situação de vida.
Mais: governos pequenos possuem vários concorrentes geograficamente próximos. Se um governo passar a tributar e a regulamentar mais do que seus concorrentes, a população emigrará, e o país sofrerá uma fuga de capital e mão-de-obra. O governo ficará sem recursos e será forçado a revogar suas políticas confiscatórias. Quanto menor o país, maior a pressão para que ele adote um genuíno livre comércio e maior será a oposição a medidas protecionistas.
Tudo isso é extremamente saudável para a liberdade. Separatismos nos deixam mais próximos do objetivo supremo, que é a auto-determinação em nível individual. É sempre positivo para liberdade reduzir o número de indivíduos sobre os quais um determinado governo pode exercer sua autoridade.
A secessão fornece um ambiente que genuinamente tolera a diversidade, pois cria um arranjo em que pessoas de cultura, religião e comportamento distintos não estão todas sob a mesma canga estatal e não mais são obrigadas a conviver sob as mesmas regras.  A secessão fornece um arranjo que permite que pessoas com visões e interesses completamente divergentes vivam pacificamente como vizinhos, em vez de serem obrigadas a sofrer sob um mesmo governo central que as joga umas contra as outras.
Toda e qualquer secessão deixa o indivíduo mais próximo do ideal da auto-determinação.
Conclusão
Para que a defesa do princípio da auto-determinação tenha sentido, é necessário permitir que outras pessoas tomem decisões com a quais não concordemos. A concorrência política é algo que só pode trazer benefícios ao indivíduo.
Por isso, deixem a Catalunha se separar, caso assim ela decida.

COMO O GOVERNO ATRAPALHA OS HOTÉIS

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Se você usa o Airbnb, deve ter percebido que ele funciona muito bem, mesmo sem nenhuma interferência do governo, não é mesmo? Por isso mesmo, precisamos começar a pensar qual o sentido de as garras estatais continuarem crescendo sobre quem tenta empreender no ramo de hospedagem da maneira convencional: construindo e administrando hotéis.

Para não burlar nenhuma lei, um hotel, pousada ou resort deve obedecer a normativas:
- dos órgãos ambientas
- do corpo de bombeiros
- dos acordos sindicais
- do Ministério do Turismo
- da Vigilância Sanitária 
- do Ministério do Trabalho
- do Código de Defesa do Consumidor

Além, disso, ainda é preciso ter uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), composta por funcionários que não podem ser demitidos, e pagar uma carga tributária que varia de 30% a 35%. 

Mas aparentemente os políticos ainda estão achando pouco e aprovaram mais uma obrigatoriedade: a partir do primeiro dia de 2018, os hotéis terão que ter 10% de suas acomodações adaptadas para pessoas com deficiência. A ideia inicial certamente pode ser bem intencionada, mas o número foi definido a esmo, sem qualquer estudo prévio.

Segundo Luigi Rotunno, presidente da Associação Brasileira de Resorts, os hóspedes com necessidades especiais não chegam a 3% do total. Além disso, citando as regulamentações internacionais, nos países que possuem alguma regulação a respeito, o percentual varia entre 5% a 7%, com prazos de adequação que se estendem por mais de uma década. Cá entre nós: no caso brasileiro, a partir de janeiro de 2018, será que a pousadinha de dona Maria, numa casa antiga, no centro da cidade, vai conseguir se adaptar? 

E tem mais... parlamentares também determinaram que as diárias em hotéis precisam ser de 24 horas. Eles só não explicaram se é para o hóspede que sair fazer ele mesmo a faxina – já que não haverá mais um intervalo para a limpeza - ou se o hóspede que chegar terá que receber o quarto sujo e bagunçado.

“Estamos trabalhando para aprovar um projeto de Lei de 22 horas, para poder ter um IN e OUT com pelo menos 2h de diferença, como já acontece na prática”, conta Rotunno.

Precisamos ser #LivresDaBurocracia