terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Venezuela: mortes por desnutrição infantil é recorde

Venezuela: mortes por desnutrição infantil é recorde

Via Estadão


CARACAS - O problema da fome  a Venezuela há anos, mas agora a desnutrição está matando as crianças em ritmo alarmante. Por cinco meses, o New York Times acompanhou o cotidiano hospitais públicos venezuelanos e, segundo os médicos, o número de mortes por desnutrição é recorde. 

Velório de bebê
Velório de bebê de 17 meses em San Casimiro: família não consegue comprar fórmula para substituir leite materno  Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Desde que a economia da Venezuela começou a ruir, em 2014, protestos por falta de comida se tornaram comuns. Também virou rotina ver soldados montando guarda diante de padarias e multidões enfurecidas saqueando mercados.
As mortes por desnutrição são o segredo mais bem guardado do governo de Nicolás Maduro. Nos últimos cinco meses, o New York Times entrevistou médicos de 21 hospitais em 17 Estados. Os profissionais descrevem salas de emergência cheias de crianças com desnutrição grave, um quadro que raramente viam antes da crise.
“As crianças chegam em condições muito graves de desnutrição”, disse o médico Huníades Urbina Medina, presidente da Sociedade Venezuelana de Pediatria. De acordo com ele, os médicos venezuelanos têm se deparado com casos de desnutrição semelhantes aos encontrados em campos de refugiados.

Jovens recolhem comida no lixo
Jovens se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo no centro de Caracas  Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Para muitas famílias de baixa renda, a crise redesenhou completamente a paisagem social. Pais preocupados ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que seus filhos. Mulheres fazem fila em clínicas de esterilização para evitar bebês que não possam alimentar. 
Jovens que deixam suas casas e se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo atrás de sobras carregam na pele cicatrizes de brigas de faca. Multidões de adultos avançam sobre o lixo de restaurantes após os estabelecimentos fecharem. Bebês morrem porque é difícil encontrar e pagar pela fórmula artificial que substitui leite materno, até mesmo nas salas de emergência.
“Às vezes, eles morrem de desidratação nos meus braços”, afirmou a médica Milagros Hernández, na sala de emergência de um hospital pediátrico na cidade de Barquisimeto. Ela diz que o aumento de pacientes desnutridos começou a ser notado no fim de 2016. “Em 2017, o aumento foi terrível. As crianças chegam com o mesmo peso e tamanho de um recém-nascido.”
Antes de a economia entrar em colapso, segundo os médicos, quase todos os casos de desnutrição registrados nos hospitais públicos eram ocasionados por negligência ou abusos por parte dos pais. Quando a crise se agravou, entre 2015 e 2016, o número de casos no principal centro de saúde infantil da capital venezuelana triplicou. 

Pais alimentam filhos em Caracas
Pais ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que os filhos Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Nos últimos dois anos, a situação ficou ainda pior. Em muitos países, a desnutrição grave é causada por guerras, secas ou algum tipo de catástrofe, como um terremoto”, disse a médica Ingrid Soto de Sanabria, chefe do departamento de nutrição, crescimento e desenvolvimento do hospital. “Mas, na Venezuela, ela está diretamente relacionada à escassez de comida e à inflação.”
O governo venezuelano tem tentado encobrir a crise no setor de saúde por meio de um blecaute quase total das estatísticas, além de criar uma cultura que deixa os profissionais com medo de relatar problemas e mortes ocasionados por erros do governo.
As estatísticas, porém, são estarrecedoras. O relatório anual do Ministério da Saúde, de 2015, indica que a taxa de mortalidade de crianças com menos de 4 semanas aumentou em 100 vezes desde 2012, de 0,02% para pouco mais 2% - a mortalidade materna aumentou 5 vezes no mesmo período.
Por quase dois anos, o governo venezuelano não publicou nenhum boletim epidemiológico ou estatísticas relacionadas à mortalidade infantil. Em abril, porém, um link apareceu subitamente no site do Ministério da Saúde conduzindo os internautas a boletins secretos. Os documentos indicavam que 11.446 crianças com menos de 1 ano morreram em 2016 - um aumento de 30% em um ano.
Os dados ganharam manchetes nacionais e internacionais antes de o governo declarar que o site tinha sido hackeado. Em seguida, os relatórios foram retirados do ar. Antonieta Caporale, ministra da Saúde, foi demitida e a responsabilidade de monitorar os boletins foi passada aos militares. Nenhuma informação foi divulgada desde então.
Os médicos também são censurados nos hospitais e frequentemente alertados para não incluir desnutrição infantil nos registros. “Em alguns hospitais públicos, os diagnósticos clínicos de desnutrição foram proibidos”, afirmou Urbina.
No entanto, médicos entrevistados em 9 dos 21 hospitais investigados mantiveram ao menos algum tipo de registro. Eles constataram aproximadamente 2,8 mil casos de desnutrição somente no último ano - e crianças famintas regularmente sendo levadas para a emergência. Quase 400 delas morreram, segundo os pediatras. “Nunca na minha vida vi tantas crianças famintas”, afirmou a médica Livia Machado, pediatra que oferece consultas grátis em uma clínica particular.


O avanço do fim do foro

No STF, a votação foi interrompida por um pedido de vistas porque ninguém quer perder o manto protetor, mas a restrição ao privilégio caminha no Congresso


Crédito: Adriano Machado

Um grupo de 54 mil brasileiros, sobretudo políticos, é uma casta superior a qualquer um dos outros milhares de brasileiros comuns. Esses cidadãos considerados especiais, que tem foro privilegiado para o julgamento de seus crimes, se escondem atrás dessa regalia jurídica para ficarem impunes. É consenso de que esse privilégio precisa acabar. Apesar de a discussão sobre o fim do foro privilegiado estar parada no STF, após um pedido de vistas do ministro Dias Toffoli, o tema avançou no Congresso graças à Proposta de Emenda Constitucional 333/2017, de autoria do senador Álvaro Dias (PODE-PR). Depois de passar pelo crivo do Senado, a matéria agora está tramitando na Câmara. Na última semana, o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou a criação de uma comissão especial para analisar a PEC. O texto de Álvaro Dias restringe o foro, em caso de crime comum, apenas ao presidente e vice-presidente da República, e aos presidentes do STF, Câmara e Senado. Todas as demais autoridades – como juízes, deputados e senadores – seriam julgadas em primeira instância.
“Odioso”
A mudança será radical. Se a PEC fosse aplicada hoje, apenas dois dos 76 inquéritos instaurados atualmente com base nas delações premiadas da Odebrecht permaneceriam no STF – justamente os que envolvem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Para o senador Álvaro Dias, o foro privilegiado é um “privilégio odioso” no caso de um crime comum como peculato, corrupção passiva ou homicídio. “O foro privilegiado é uma excrescência, e estabelece uma contradição, uma incoerência, porque o artigo 5º da Constituição afirma que todos somos iguais perante a lei”, disse o parlamentar. As autoridades terão direito ao foro privilegiado no caso de crimes de responsabilidade, ou seja, aqueles cometidos em decorrência do exercício do cargo público. O texto não alterou a proibição da prisão de parlamentares, salvo em flagrante por crime inafiançável.
Em todo caso, há avanço em direção ao fim do foro privilegiado, uma das grandes demandas da sociedade brasileira. Atualmente, há um número excessivo de autoridades com direito a alguma forma de julgamento especial, que retira seus processos da Justiça comum de primeira instância. São mais de 54 mil pessoas, entre deputados, senadores, ministros de estado, governadores, prefeitos, ministros de tribunais superiores, desembargadores, embaixadores, comandantes das Forças Armadas, integrantes de tribunais regionais federais, juízes federais, membros do Ministério Público, procurador-geral da República e membros dos conselhos de Justiça e do Ministério Público. Essas autoridades são julgadas em tribunais específicos, muitas vezes abarrotados de processos (como é o caso do STF), o que leva a processos lentos, com prescrição de crimes e impunidade.
“Não há mais o que se discutir, não há mais o que se fazer senão a Câmara votar a PEC do fim do foro privilegiado como saiu do Senado, para podermos comemorar o surgimento de uma nova Justiça no Brasil”, afirmou Álvaro Dias. Inicialmente, a PEC foi apresentada em 2013, mas só passou a tramitar com rapidez quando a Operação Lava Jato revelou o envolvimento de centenas de políticos em crimes de corrupção. Foi quando surgiram, também, os apelos da população pelo fim do foro privilegiado. A urgência do fim do foro fica ainda mais clara quando se analisa os resultados da Lava Jato em primeira instância em comparação com os julgamentos do STF. Em três anos e nove meses de operação, somente o juiz Sergio Moro já condenou 113 pessoas a um total de 1.753 anos de prisão. Enquanto isso, no Supremo, há apenas seis ações penais contra parlamentares e nenhuma condenação.
Em 31 de maio deste ano, a PEC 333/2017 foi aprovada no Plenário do Senado e seguiu para a Câmara. No fim de novembro, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou o texto. O próximo passo na Câmara é a instalação da comissão especial. Depois, o texto poderá ser votado em Plenário. Há várias interpretações para o fim do foro privilegiado. Porém, prevalece o consenso de que o modelo atual possui falhas e precisa ser aperfeiçoado. Esse é o caminho para acabar com a impunidade que tanto mal faz ao País.
“O foro privilegiado é uma excrescência porque o artigo
5º da Constituição afirma que todos somos iguais perante a lei”

Álvaro Dias, senador

• O Brasil é um dos países com maior número de autoridades com prerrogativa de foro. Atualmente, são mais de 54 mil pessoas privilegiadas
• Segundo dados do “Relatório Supremo em Números: o foro privilegiado”, da Fundação Getulio Vargas, há no STF mais de 500 procedimentos contra políticos
• Em três anos e nove meses de Lava Jato, somente o juiz Sergio Moro já condenou 113 pessoas a um total de 1.753 anos de prisão. Enquanto isso, no Supremo, há apenas seis ações penais contra parlamentares e nenhuma condenação
• PEC 333/2017, de autoria do senador Álvaro Dias (PODE-PR), restringe o foro, em caso de crime comum, apenas ao presidente e vice-presidente da República, e aos presidentes do STF, Câmara e Senado. Outras autoridades – como juízes, deputados e senadores – seriam julgados em primeira instância, como qualquer cidadão comum
• A PEC foi aprovada pelo Senado em maio. No fim de novembro, foi aprovada na CCJ da Câmara. Nesta semana, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou a criação da comissão especial que discutirá o texto. Em seguida, haverá votação em dois turnos no Plenário da Câmara. O fim do foro privilegiado está próximo?

Cientistas encontram um tubarão vivo com cerca de 512 anos

Cientistas encontram um tubarão vivo com cerca de 512 anos

É difícil imaginar algo ainda vivo que nasceu em 1505. Esse foi o ano em que Martinho Lutero tornou-se um monge e o rei Henrique VIII cancelou seu noivado com Catherine de Aragão … em suma, há muito tempo.
Mas é exatamente isso que os cientistas acreditam ter encontrado na forma de um massivo tubarão da Groenlândia nadando nas águas geladas do Oceano Ártico.
O tubarão é estimado em até 512 anos, o que tornaria o vertebrado vivo mais antigo do mundo e até mais antigo do que Shakespeare. E você pensou que ter 30 anos fez você ser velho…
Os tubarões da Groenlândia são conhecidos por viver há centenas de anos e passam a maior parte de suas vidas nadando em busca de um companheiro.
Eles também crescem a uma taxa de um centímetro por ano, permitindo que os cientistas determinem sua idade medindo seu tamanho.
Este tubarão particular, um dos 28 tubarões da Groenlândia a serem analisados ​​pelos cientistas, foi medido com 18 pés de comprimento e pesava mais de uma tonelada, o que significa que poderia ter qualquer idade entre 272 e 512 anos. A idade potencial do tubarão foi revelada em um estudo no jornal Science, de acordo com o Sun.
Se os cientistas tiverem a idade do tubarão certo, teria vivido durante grandes eventos históricos, como a fundação dos EUA, a Revolução Industrial e as duas guerras mundiais.
Os tubarões da Groenlândia comem principalmente peixe, mas nunca foram observados caçando. O animal é uma iguaria na Noruega, mas sua carne é venenosa se não for tratada adequadamente.
Devido à sua longevidade, os acadêmicos da Noruega acreditam que os ossos e os tecidos dos tubarões da Groenlândia podem nos dar uma visão do impacto das mudanças climáticas e da poluição durante um longo período de história.
Pesquisadores da Universidade do Ártico da Noruega atualmente estão mapeando o DNA do animal, observando seus genes para aprender mais sobre o que determina a expectativa de vida em diferentes espécies, inclusive humanos.
Como muitos dos tubarões pré-datam a Revolução Industrial e a pesca comercial em larga escala, os tubarões até foram chamados de “cápsulas de tempo de vida” que poderiam ajudar a esclarecer o comportamento do comportamento humano nos oceanos.
“As espécies de vertebrados vivos mais longos do planeta formaram várias populações no Oceano Atlântico”, disse o professor Kim Praebel em um simpósio organizado pela Fisheries Society of the British Isles.
“Isto é importante saber, para que possamos desenvolver ações de conservação apropriadas para esta importante espécie”.



POR QUE ESQUERDISTAS FINGEM QUE NÃO TÊM NADA A VER COM A CRISE QUE CAUSARAM?




POR QUE ESQUERDISTAS FINGEM QUE NÃO TÊM NADA A VER

COM A CRISE QUE CAUSARAM?



  

 






Bresser-Pereira. Fonte: Folha
Algumas pessoas me acham polêmico, ou que adoro um debate. Estão certas quanto ao debate, mas não me julgo polêmico. Ao menos não é a polêmica em si que busco, e sim a verdade, o conhecimento, os fatos. E, para tanto, é fundamental amar o debate. Eu adoro debater. E claro: a premissa para a existência de um bom debate é o pensamento contraditório. Debate com um espelho não é debate, é monólogo.
Mas confesso uma angústia: é mais difícil encontrar um esquerdista honesto que quer realmente debater do que um unicórnio ou um duende. Dependendo da quantidade de álcool – ou de erva proibida, dependendo da preferência – é até possível cruzar com um duende por aí. Mas um esquerdista honesto? Isso tem sido completamente impossível.
Leio todos eles. Alguns me chamam até de masoquista, e talvez eu seja, racionalizando o vício com a desculpa velha dos “ossos do ofício”. Mas eu leio, isso que importa. Leio as colunas na Folha, as entrevistas, encaro Celso de Barros, André Singer, Laura Carvalho, Vladimir Safatle, Gregorio Duvivier, a turma toda! E não consigo pescar um só argumento verdadeiro, uma só evidência de que o objetivo, ali, é de fato chegar à verdade.
Vou citar dois exemplos aqui. No primeiro deles, a troca de artigos entre Alexandre Schwartsman e Nelson Barbosa. O ex-diretor do Banco Central provou por A + B que o ex-ministro de Dilma foi não só um dos responsáveis pela Nova Matriz Econômica que afundou nossa economia, como se faz de sonso e condena a lentidão da recuperação, como se nada tivesse a ver com a crise. Schwartsman conclui em sua tréplica definitiva:
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Mais recentemente reclama da velocidade de recuperação da economia, a mesma recuperação que jurava ser impossível por força do “austericídio”, e recomenda… aumento de gastos, seu elixir de óleo de cobra para qualquer ocasião.
Tais ideias têm que ser combatidas e, se Barbosa resolveu ser seu arauto, seria bom também se acostumar com as críticas, em particular sobre sua competência para educar qualquer um, que está severamente comprometida por sua visível incapacidade de aprender com seus próprios erros.
O sujeito ferrou o Brasil e ainda quer dar lição aos que apontavam o desastre iminente e eram ridicularizados pelos defensores do governo petista! É muita cara de pau, muita desonestidade intelectual mesmo.
O segundo caso é de um vanguardista do atraso, que esteve completamente errado em todas as análises e ações, há décadas! O histórico de erros de Bresser-Pereira é simplesmente imbatível: aponte uma medida estúpida que levou ao caos e lá estava sua aprovação empolgada; aponte alguma reforma positiva e lá estava ele a condenando. Não tem para ninguém!
Não obstante, ele ainda tem a cara de pau de escrever um texto oferecendo a “solução” para nossa crise: mais do mesmo, um novo “desenvolvimentismo”! É como se alguém invadisse sua casa, destruísse tudo, deixasse um rastro de caos e desordem, e depois batesse à porta para lhe oferecer um ótimo seguro contra invasores e um excelente plano de arrumação para sua casa. É o cúmulo do absurdo! Rodrigo Saraiva Marinho, do Livres, desabafou sobre o texto do desenvolvimentista:
Mas essa gente continua com espaço na mídia mainstream, sendo entrevistada pelos jornalistas, tratada como “especialistas” que deveriam ser levados a sério pela opinião pública. É uma patota que se retroalimenta, que se protege, que possui uma cota ideológica: a esquerda radical terá sempre um espaço amplo garantido na imprensa que ela mesma chama de golpista e burguesa. O círculo se fecha.
Já aqueles que desde sempre apontaram os desastres que seriam e foram causados pela esquerda, que cantaram a crise atual já em 2010, que explicaram em pormenores o que daria errado na Nova Matriz Econômica, esses são quase sempre ignorados, e chamados de radicais e polemistas.
Aí você vai lá e diz que isso tudo é uma grande palhaçada, que esses dementes estão blindados de qualquer escrutínio jornalístico por afinidade ideológica, que as “fake news” pululam nos principais veículos de comunicação, e está tudo “provado”: você só pode ser um radical em busca de polêmica! É de lascar…
Volto, para fechar, à pergunta do título, e dou a resposta: ora, porque a esquerda quer apenas poder, e danem-se os fatos! Em sua coluna de hoje, Pondé pergunta o que aconteceria se o PT voltasse ao poder, e descreve algo perto de um Apocalipse. Não é forçar a barra: é a pura realidade. A Venezuela seria nosso destino. Mas a esquerda não liga. Ao contrário: ela vive da miséria alheia, como explica Pondé, pegando carona em nosso saudoso dramaturgo reacionário:
Nelson Rodrigues dizia que, no dia em que acabasse a pobreza do Nordeste, dom Helder, o arcebispo vermelho, perderia sua razão de existir. Por isso, ele e a miséria do Nordeste andavam de mãos dadas.
O truque do PT e associados é o mesmo: destruir a economia, acuar o mercado, alimentar uma parceria com os bilionários oligopolistas a fim de manter o país miserável e, assim, garantir seu curral eleitoral.
Como o velho coronelismo nordestino –conheço bem a região: sou nascido no Recife e vivi muitos anos na Bahia–, o PT e associados têm na miséria e na dependência da população seu capital.
A esquerda finge não ter nada com a crise que causou porque ela se alimenta da crise e da mentira, eis a resposta. Quem acha que um típico esquerdista está mesmo disposto a travar um debate honesto precisa, portanto, rever sua otimista premissa. E é por isso que, com essa gente, não se pode dar moleza, fazer concessões demais, assumir que se está diante de um interlocutor sério preocupado com a verdade. São cínicos, e não devemos temer os rótulos que cínicos colocam na gente, normalmente diante de um espelho.
Rodrigo Constantino

O problema da fome assola a Venezuela

Meredith Kohut e Isayen Herrera, THE NEW YORK TIMES
18 Dezembro 2017 | 05h00
CARACAS - O problema da fome assola a Venezuela há anos, mas agora a desnutrição está matando as crianças em ritmo alarmante. Por cinco meses, o New York Times acompanhou o cotidiano hospitais públicos venezuelanos e, segundo os médicos, o número de mortes por desnutrição é recorde. 

Velório de bebê
Velório de bebê de 17 meses em San Casimiro: família não consegue comprar fórmula para substituir leite materno  Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Desde que a economia da Venezuela começou a ruir, em 2014, protestos por falta de comida se tornaram comuns. Também virou rotina ver soldados montando guarda diante de padarias e multidões enfurecidas saqueando mercados.
As mortes por desnutrição são o segredo mais bem guardado do governo de Nicolás Maduro. Nos últimos cinco meses, o New York Times entrevistou médicos de 21 hospitais em 17 Estados. Os profissionais descrevem salas de emergência cheias de crianças com desnutrição grave, um quadro que raramente viam antes da crise.
“As crianças chegam em condições muito graves de desnutrição”, disse o médico Huníades Urbina Medina, presidente da Sociedade Venezuelana de Pediatria. De acordo com ele, os médicos venezuelanos têm se deparado com casos de desnutrição semelhantes aos encontrados em campos de refugiados.

Jovens recolhem comida no lixo
Jovens se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo no centro de Caracas  Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Para muitas famílias de baixa renda, a crise redesenhou completamente a paisagem social. Pais preocupados ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que seus filhos. Mulheres fazem fila em clínicas de esterilização para evitar bebês que não possam alimentar. 
Jovens que deixam suas casas e se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo atrás de sobras carregam na pele cicatrizes de brigas de faca. Multidões de adultos avançam sobre o lixo de restaurantes após os estabelecimentos fecharem. Bebês morrem porque é difícil encontrar e pagar pela fórmula artificial que substitui leite materno, até mesmo nas salas de emergência.
“Às vezes, eles morrem de desidratação nos meus braços”, afirmou a médica Milagros Hernández, na sala de emergência de um hospital pediátrico na cidade de Barquisimeto. Ela diz que o aumento de pacientes desnutridos começou a ser notado no fim de 2016. “Em 2017, o aumento foi terrível. As crianças chegam com o mesmo peso e tamanho de um recém-nascido.”
Antes de a economia entrar em colapso, segundo os médicos, quase todos os casos de desnutrição registrados nos hospitais públicos eram ocasionados por negligência ou abusos por parte dos pais. Quando a crise se agravou, entre 2015 e 2016, o número de casos no principal centro de saúde infantil da capital venezuelana triplicou. 

Pais alimentam filhos em Caracas
Pais ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que os filhos Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Nos últimos dois anos, a situação ficou ainda pior. Em muitos países, a desnutrição grave é causada por guerras, secas ou algum tipo de catástrofe, como um terremoto”, disse a médica Ingrid Soto de Sanabria, chefe do departamento de nutrição, crescimento e desenvolvimento do hospital. “Mas, na Venezuela, ela está diretamente relacionada à escassez de comida e à inflação.”
O governo venezuelano tem tentado encobrir a crise no setor de saúde por meio de um blecaute quase total das estatísticas, além de criar uma cultura que deixa os profissionais com medo de relatar problemas e mortes ocasionados por erros do governo.
As estatísticas, porém, são estarrecedoras. O relatório anual do Ministério da Saúde, de 2015, indica que a taxa de mortalidade de crianças com menos de 4 semanas aumentou em 100 vezes desde 2012, de 0,02% para pouco mais 2% - a mortalidade materna aumentou 5 vezes no mesmo período.
Por quase dois anos, o governo venezuelano não publicou nenhum boletim epidemiológico ou estatísticas relacionadas à mortalidade infantil. Em abril, porém, um link apareceu subitamente no site do Ministério da Saúde conduzindo os internautas a boletins secretos. Os documentos indicavam que 11.446 crianças com menos de 1 ano morreram em 2016 - um aumento de 30% em um ano.
Os dados ganharam manchetes nacionais e internacionais antes de o governo declarar que o site tinha sido hackeado. Em seguida, os relatórios foram retirados do ar. Antonieta Caporale, ministra da Saúde, foi demitida e a responsabilidade de monitorar os boletins foi passada aos militares. Nenhuma informação foi divulgada desde então.
Os médicos também são censurados nos hospitais e frequentemente alertados para não incluir desnutrição infantil nos registros. “Em alguns hospitais públicos, os diagnósticos clínicos de desnutrição foram proibidos”, afirmou Urbina.
No entanto, médicos entrevistados em 9 dos 21 hospitais investigados mantiveram ao menos algum tipo de registro. Eles constataram aproximadamente 2,8 mil casos de desnutrição somente no último ano - e crianças famintas regularmente sendo levadas para a emergência. Quase 400 delas morreram, segundo os pediatras. “Nunca na minha vida vi tantas crianças famintas”, afirmou a médica Livia Machado, pediatra que oferece consultas grátis em uma clínica particular.