sábado, 2 de abril de 2016

A AIDS ATUALMENTE 2

Casos de Aids entre jovens aumentam mais de 50% em 6 anos no Brasil

Fantástico acompanhou jovens soropositivos no país. Nos Estados Unidos, médicos desenvolvem comprimido que previne contaminação em até 92%.

Segunda-feira (1º) é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, uma doença que infelizmente ainda precisa ser lembrada. O doutor Dráuzio Varella explicou por que a Aids voltou a assustar tanto e a preocupar tanto: “Houve um aumento absurdo dos casos de Aids entre os jovens nos últimos anos. Neste sentido, nós no Brasil estamos indo na contramão de outros países”, afirma.

O aumento é de mais de 50% em seis anos. “O principal motivo é o comportamento sexual dos jovens. Eles acham que ninguém mais morre de Aids hoje, e que se pegar o vírus é só tomar o remédio que acabou e que está tudo bem. Está tudo bem, não. É uma doença grave. Vai ter que tomar remédio pelo resto da vida. E esses remédios provocam efeitos colaterais A Aids não tem cura, você pega o vírus, o tratamento pode controlar a doença, mas você vai ter problemas pelo resto da vida”, alerta Dráuzio.

Faça o teste: Você sabe o que é verdade e o que é mentira quando o assunto é Aids?

“Quando eu saio à noite eu quero me divertir, me alegrar, distrair a mente um pouco”, conta um jovem.

Sábado à noite, Ivan, Guilherme e Edson saem para a balada. A cena é comum em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Ruas, bares e boates lotadas de jovens. “Noitada perfeita é isso: bebida, amigos e mulher”, diz um jovem.

“Curtir, beijar na boca”, conta outro jovem.

“Conhecer alguém e ficar”, afirma um outro jovem.

“É, hoje eu espero que tenha muita azaração, beijo na boca”, diz Ivan.

Ivan, Guilherme, Edson. Ao olhar para eles, alguém conseguiria dizer quem é portador do HIV?

“Eu sou soropositivo e descobri que tenho HIV com 23 anos. Eu tinha um relacionamento. A gente morava junto e tal. Ele sentou no sofá comigo e falou: ‘Olha, eu fiz o exame, o exame deu positivo’. Aí eu perguntei qual era o exame, né? Ele virou pra mim e falou: ‘Fiz o exame de HIV’”, lembra Ivan Monsores.

Mesmo estando em um relacionamento estável, Ivan contraiu o vírus da Aids. Foi contaminado pela pessoa em quem mais confiava. “Hoje eu tenho certeza que a Aids não tem cara. Certeza absoluta”, conta Ivan.

Ivan faz parte de uma estatística assustadora. “A taxa de detecção de Aids, entre jovens de 15 a 24 anos, vem crescendo em uma velocidade bem maior que da população em geral”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Desde 2006, os casos de Aids nos jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50%, o que quer dizer mais jovens soropositivos. No resto do mundo, o número de novos casos de HIV entre os jovens caiu 32% em uma década. Por que estamos indo para trás?

“A gente não deixa de transar porque não tem camisinha”, conta um jovem.
“A rapaziada de hoje em dia, não pensa muito nisso”, diz outro jovem.
Hoje é possível saber em menos de 20 minutos se você está ou não infectado pelo HIV. Um teste rápido, que pode ser feito de graça na rede pública de saúde, disponível para qualquer um. Não precisa marcar hora: é chegar e fazer.

Rafaela transou sem camisinha, há um mês, e agora veio se testar. “Estava solteira, acabei conhecendo pela internet, a gente se envolveu. Fui na casa dele, chegou lá, não tinha, desprevenido. E aí acabou acontecendo. Aí no dia seguinte, fiquei naquela neurose e tal, e aí estou aqui hoje para fazer o teste”, diz Rafaela Araújo, de 19 anos.

Rafaela tem motivo para se preocupar. Ela já viu de perto como é viver com o HIV. “Minha mãe faleceu. Ela era portadora do vírus. Ela tinha muito cuidado para não contaminar os filhos. Cuidado redobrado”, conta Rafaela.

Mesmo vendo o sofrimento da mãe, ela se descuidou. A médica traz o resultado: “Rafaela, eu estou com o resultado do seu teste, você não tem o vírus do HIV. Como você está se sentindo?”, pergunta.

“Aliviada. Acho que vai me conscientizar mais, né? A me cuidar, a ter a postura de levar a camisinha”, responde.

Rafaela teve sorte dessa vez. Uma segunda chance que nem todo mundo tem. Na última década, 34 mil jovens contraíram o vírus da Aids. Basta um deslize, uma única vez sem preservativo para se infectar.

Mas se transar sem camisinha, como Rafaela, você sabe o que fazer? Não adianta você esquecer de usar camisinha e sair correndo para fazer o teste. O exame pode levar 3, 4 semanas para ficar positivo. Em vez disso, procure a rede pública para receber o tratamento preventivo, os remédios que vão evitar que o HIV penetre o seu organismo. Não é para fazer isso todo fim de semana. É uma medida de emergência, que deve ser tomada até 72 horas depois do contato sexual. Passou de 72 horas, é tarde demais. O tratamento dura um mês, e os remédios devem ser tomados todos os dias, rigorosamente. Falhou, perdeu o efeito.
Esses remédios de emergência, chamados de profilaxia pós-exposição, ou P.E.P, estão disponíveis da rede pública, mas pouca gente sabe. No ano passado, só foram usados pouco mais de 20 mil kits de PEP em todo o país.

“Existe hoje uma falsa sensação de que a Aids está controlada. Que a Aids não existe mais. Porque não estamos mais vendo, na mídia, grandes ícones falecendo com essa doença”, diz Fernando Ferry, clínico geral especializado em Aids do Hospital Gaffrée Guinle, no Rio de Janeiro.

No início dos anos 90, Cazuza expôs ao público a luta pessoal contra a doença. Depois dele, em 1996, foi Renato Russo quem morreu de complicações da Aids.

Drauzio Varella: O Renato Russo foi talvez a última pessoa muito conhecida que faleceu de Aids, não é, Dado?
Dado Villa-Lobos, músico: Acho que sim. E contrariamente ao Cazuza, ele preferiu o sigilo, o segredo.

Dado Villa-Lobos tocava com Renato Russo no grupo Legião Urbana. Ney Matogrosso foi amigo e namorado de Cazuza. Eles lembram bem como era naquela época, quando a Aids provocava a morte em poucos meses.

“Houve uma semana que eu fui três vezes ao cemitério porque as pessoas morriam assim uma por dia”, conta Ney Matogrosso, cantor.

“Quem se criou e cresceu depois não acredita nessa doença. Então as pessoas não estão nem aí para essa doença. É como se a doença não existisse no mundo”, diz Ney Matogrosso.

No país, morrem 11 mil por ano. É muita gente.

“O remédio que existe é um remédio maravilhoso, porque as pessoas não morrem e não se acabam do jeito que se acabavam, mas não é a cura. Não tem a cura ainda”, diz Ney Matogrosso.

Cazuza e Renato Russo morreram antes que o coquetel de remédios, os chamados antirretrovirais, que ajudam a controlar o HIV, se tornassem realidade, a partir de 1996. Os remédios fazem o vírus parar de se multiplicar e entrar em um estado de ‘dormência’. A pessoa não desenvolve mais a Aids.

O número de mortes diminuiu drasticamente, e permitiu aos portadores do HIV levar uma vida quase normal.

O Ivan Monsores toma os medicamentos do coquetel diariamente. “Eu tomo seis comprimidos, de 12 em 12 horas. Tomo há três anos, todos os dias”, conta ele.

Além da obrigação de ter que tomar um monte de remédios todos os dias para o resto da vida, os pacientes também sofrem efeitos colaterais. “Meu primeiro efeito colateral foi tontura, a náusea e, no caso, eu na hora de dormir tinha muito pesadelo. Eu tenho essa percepção de que eu preciso da medicação para viver. Mas eu posso parar de tomar a medicação agora e daqui a um mês, dois meses, uma semana, eu cair doente dentro de um hospital”, diz Ivan.

Um em cada cinco jovens não aguenta essa rotina e abandona o tratamento.

Marvin Teixeira, 22 anos: Eu descobri que estava doente ano passado.
Drauzio Varella: Você tratou e parou no meio do tratamento?
Marvin: Isso. É. Tinha dia que eu tomava, tinha dia que eu não tomava. Eu achava que ficar um dia sem tomar meu remédio, 'acho que isso não vai me matar'.

A Aids se desenvolveu. Resultado? “Eu estou perdendo a visão”, conta Marvin.

“A visão dele tem sido afetada por um vírus chamado citomegalovírus. Esse citomegalovírus destrói a retina. Vai ficar cego do olho direito e nós estamos tentando salvar o olho esquerdo”, explica Fernando Ferry, clínico geral especializado em Aids do Hospital Gaffrée Guinle.

Marvin era pintor de paredes. Sem a visão, não tem mais como trabalhar. “Eu achava que eu não ia pegar isso, que não ia chegar a encontrar isso”, conta ele.

Como ele, um terço dos jovens diz não usar preservativo quase nunca ou nunca, de acordo com uma pesquisa da Unifesp.

“Eu achava mais que era de homossexuais”, afirma Marvin.

“O que tem nos preocupado muito é que uma grande quantidade de meninos de 20, 21, 22 anos, estão comparecendo ao nosso hospital já com Aids avançada e com doenças graves”, diz o doutor Fernando Ferry.

"Entre os jovens de 15 a 24, ela vem crescendo. Principalmente entre os jovens do sexo masculino. É um crescimento importante. Em uma década, cresceu praticamente 68%", conta Jarbas Barbosa, secretário de vigilância e saúde do Ministério da Saúde.

Na população geral, quatro em cada mil pessoas são portadoras do HIV. Mas entre os jovens gays, esse número é 20 vezes maior: 100 em cada 1.000. Hoje, 150 mil pessoas no Brasil não sabem que têm a doença.

Ainda não existe cura para quem tem HIV, mas a esperança pode estar em quem não tem o vírus. Um único comprimido, que, tomado rigorosamente durante todos os dias, previne a transmissão do HIV em até 92% dos casos. A profilaxia pré-exposição, ou PREP, já é uma realidade nos Estados Unidos. Uma revolução na prevenção à Aids.

"É a primeira vez, em 30 anos, que descobrimos uma alternativa para prevenir o HIV além da camisinha. Isso muda tudo. É maravilhoso", diz Howard Grossman, médico e pesquisador especializado em HIV.

O remédio já fazia parte do coquetel para o tratamento dos portadores do vírus, mas os cientistas descobriram que ele também funcionava em quem não tinha o vírus, mas de uma forma diferente: criando uma barreira de proteção e impedindo o HIV de se instalar nas células da pessoa.

Damon é um dos que resolveram aderir ao PREP. "Alguns médicos acham que, por tomar esse remédio, as pessoas vão parar de usar camisinha. Mas não é isso. O remédio é para reduzir o risco de contaminação", diz o paciente Damon Jacobs.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade de São Paulo e da Fiocruz, no Rio de Janeiro, ainda está na fase inicial de testes para esse remédio. Só deve estar disponível para os brasileiros daqui a dois anos.

O remédio só consegue evitar a transmissão do HIV, e mesmo assim não é 100% seguro. Não existe choro, tem que usar a camisinha. Até porque existem outras doenças, sexualmente transmissíveis, tão graves quanto a Aids. É o caso da Hepatite B, por exemplo, que pode ser fatal. Para controlar a epidemia de Aids, a ciência faz a parte dela, mas você tem que fazer a sua. Camisinha sempre!

“Desde dezembro, quem testa positivo para o HIV já começa o tratamento imediatamente. E isso a gente espera que em 4, 5 anos já produza uma redução muito importante na transmissão do HIV no Brasil”, diz Jarbas Barbosa.

“As campanhas só ‘Use Camisinha' não terão a repercussão necessária. É preciso mudar. Sem educação não há mudança de cultura”, diz Regina Bueno, coordenadora do grupo de jovens Vivendo e Convivendo com HIV e Aids.

Depois de um mês internado, Marvin volta para casa. Sem a visão, os pincéis e a tinta agora são apenas uma lembrança da profissão que teve desde menino.

“Sem a visão vai ser difícil. Não sei o que eu vou fazer. Eu só acho que eu estou muito novo para morrer agora. Uma coisa eu sei: eu não desejo o que eu estou passando para ninguém, não. Peço que as pessoas se cuidem melhor, pensem direitinho. Se eu soubesse que ia ficar assim, eu tinha me prevenido. Tinha me cuidado, usado preservativos. Cuidado melhor de mim”, lamenta Marvin.

A AIDS ATUALMENTE 1




































Até 15% dos gays têm HIV










Até 15% dos gays têm HIV, e O Globo

 culpa quem? O “preconceito”! A “ondaconservadora e homofóbica”

É mais uma blindagem de responsabilidade! Mais uma transferência


Por: Felipe Moura Brasil  

































Até 15% dos gays têm HIV, e O Globo

 culpa quem? O “preconceito”! A “ondaconservadora e homofóbica”

É mais uma blindagem de responsabilidade! Mais uma transferência

Por: Felipe Moura Brasil  

Não sei se sou eu que andava lendo menos O Globo, ou se hoje a capa do jornal está acima da média em – como direi? – blindagem de responsabilidades. No post anterior, falei da manchete que blinda o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Mas logo abaixo dela, há uma chamada igualmente “estarrecedora”, como diria a presidente Dilma Rousseff, certamente não neste caso dos gays. Veja:
Gays capa
Você leu direito: “preconceito faz dos gays mais expostos”. Didi Mocó diria: “Cuma!?” O preconceito – por pior e mais repugnante que seja – transmite vírus da Aids agora? Será que ele vai para a cama com os gays? Será assim uma relação carnal forçada, um estupro anal sobre o qual boa parte das “vítimas” gays não tem responsabilidade alguma? Essas perguntas passam pela cabeça de seres letrados, héteros ou gays, que leem uma manchete de cunho ideológico como esta na capa de um jornal, passando-se por dado informativo. E parece piada macabra, mas a manchete lá dentro não faz por menos:
Publicidade
Gays matéria Globo
Os “especialistas” ouvidos pelo Globo, claro, “são unânimes em afirmar: o preconceito e a discriminação são os maiores responsáveis por essa situação. A recente onda conservadora e homofóbica só faz agravar o problema”. Sem brincadeira. É o que está escrito lá no texto, que saiu também no site do Extra, com um título menos escrachado que “Discriminação incurável”: “Aids: 30 anos depois do início da epidemia, gays continuam sendo os mais vulneráveis“. A necessidade de associar o conservadorismo à homofobia é proporcional à de eximir-se de explicar os motivos. Mas nem precisa: a gente sabe que ser contra o “casamento gay”, como até uns tantos gays são, já constitui homofobia para a imprensa brasileira.
Uma das declarações que levaram às sínteses forçadas da capa e do título foi a da diretora do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) no Brasil, Georgiana Braga-Orillard:
“O Brasil tem uma resposta muito boa no que diz respeito aos medicamentos disponíveis, mas a discriminação das populações mais vulneráveis continua sendo um desafio. Muitas pessoas morrem sem sequer saber que têm a doença. Elas têm medo de fazer o teste, de perder a família, os amigos, o emprego… E acabam chegando muito tarde ao tratamento. Em Curitiba, 20% dos diagnósticos são feitos depois do óbito, para você ter uma ideia.”
Alto lá! Daí a dizer, como a capa do Globo, que o “preconceito faz dos gays mais expostos” ou, como a matéria, “o preconceito e a discriminação são os maiores responsáveis por essa situação”, vai uma distância imensa. É duro ter de repetir o óbvio, mas vamos lá:
1) Muito antes do teste e do medo do “preconceito” na hora de fazê-lo, há a contaminação com o vírus. E de acordo com os Centros de Controle de Doenças, dos Estados Unidos, cujo relatório eu resumi aqui dois meses antes do Globo“A maioria dos homens homossexuais e bissexuais adquirem o HIV através do sexo anal”. Preciso explicar que o preconceito não faz ninguém praticar sexo anal com ninguém? Espero que não! Transar, exceto em casos de estupro, é sempre uma escolha – que envolve riscos, especialmente neste caso.
2) Uma das verdadeiras razões para a maior incidência de infecção entre os gays é a promiscuidade,segundo os mesmos Centros de Controle de Doenças ignorados pelo Globo: “Ter mais parceiros sexuais em comparação com outros homens significa que homens homossexuais e bissexuais têm mais oportunidades de ter relações sexuais com alguém que possa transmitir o HIV ou outra doença sexualmente transmissível. Da mesma forma, entre os homens homossexuais, os que têm mais parceiros são mais propensos a adquirir o HIV.” Nos EUA, os homens gays são apenas 2% da população, mas 52% das pessoas com HIV. “Gays” no sentido genérico, que abrange homossexuais, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). O mesmo sentido usado pelo Globo.
3) Nem todas as pessoas que morrem sem saber que tinham a doença são pessoas que tinham medo de fazer o teste por conta do “preconceito”. Parte delas morre precocemente porque não se preocupa mesmo em verificar se está doente, como a própria matéria sugere adiante: “as gerações mais novas entenderam, porém, é que a Aids ‘deixou de ser um problema’”. Outra parte dos que morrem não faz testes por conta de outros medos – como de hospital, de médico, de se saber doentes de qualquer coisa etc. – que nada têm a ver com “preconceito” nos meios sociais.
4) Se alguém deixa de fazer o teste por medo de um “preconceito”, sinto dizer, mas não é dos supostos preconceituosos nem do suposto preconceito a responsabilidade pela sua morte precoce, mas da pessoa que não os enfrenta e se deixa morrer doente. Salvo algum caso especialmente louco, e apesar de eventuais problemas de acesso aos postos de saúde, ninguém impede fisicamente os gays de fazer os testes. Transferir a responsabilidade dos gays pelo cuidado com a própria saúde para a sociedade inteira é fazê-los de vítimas inescapáveis de seus próprios medos, em ALGUNS casos inevitavelmente exagerados por uma histeria em sentido clínico. Histeria esta também insuflada pelas mentiras da imprensa sobre os números de assassinatos homofóbicos, como se todos os gays assassinados – poucas centenas em um país de quase 60 mil homicídios por ano – fossem vítimas de ‘crime de ódio’ e boa parte não fosse morta pelos próprios parceiros gays, como as estatísticas constatam.
Pois bem. A matéria do Globo é costurada pela história do estudante evangélico Max Goudar, de 24 anos, que acredita ter pego o vírus de um namorado. Max alega falta de informação na época da contaminação; os “especialistas” dizem que, “de fato, o conhecimento básico sobre a infecção e suas formas de prevenção não tem chegado às gerações mais jovens”; e aí vem um depoimento do ator Mateus Solano de que “a falta de informação leva ao preconceito”, o que nada tem a ver, na verdade, com a falta de informação de Max, mas com o preconceito dos outros. A confusão faz parecer, mais uma vez, que é tudo culpa do preconceito geral da sociedade.
Mas comento: nenhuma dose de informação sobre a Aids será jamais suficiente para suprir a dose de irresponsabilidade individual e sexual disseminada em uma cultura, inclusive por reportagens como esta, que se querem também informativas. Uganda — o país onde o número de soropositivos diminuiu graças à política de incentivo à castidade e à fidelidade conjugal — já mostrou que o buraco é muito mais em cima, mas o Brasil prefere distribuir camisinhas, pílulas e fazer propaganda gay nas escolas, banalizando o ato sexual. Adiante.
Max teria ouvido a frase “O preço do pecado é a morte” quando soube que era portador do HIV. Esta frase é a primeira da matéria. Sempre que se quer dar a conservadores, direitistas e/ou cristãos ares de radicalismo, a imprensa pinça uma frase radical qualquer, sem autor determinado, ou de autor suspeito. Foi assim nos protestos anti-PT com a “intervenção militar”. Foi assim no artigo de Helena Celestino após Israel SOFRER um ataque terrorista: “’Morte aos árabes’. Este era o grito de guerra dos ultradireitistas em Israel”, dizia ela na primeira frase. Foi assim agora na matéria sobre a Aids.
Max, no entanto, “teve grande apoio da mãe, em particular, e da família, em geral, o que nem sempre ocorre” e resolveu ao menos tratar a doença. Mas e se a “família em geral” não desse o apoio? Isto é desculpa para não fazer o teste? Isto legitima que se torne o preconceito da família o responsável pela maior exposição dos gays à doença, como quer o Globo? Claro que não!
Uma cultura forte é aquela que incentiva os indivíduos, minoritários ou não, a se tornar responsáveis por suas escolhas, vencer seus medos e enfrentar os preconceitos reais ou imaginários da sociedade em torno, em vez de culpar os outros por todos os seus problemas. A verdadeira “discriminação incurável” é a de quem, como a nossa imprensa, trata os membros da “minoria” como vítimas da sociedade, incapazes de encarar um mundo supostamente hostil.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil
Siga no Facebook, no Twitter e na Fan Page.
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/cultura/ate-15-dos-gays-tem-hiv-e-o-globo-culpa-quem-o-preconceito-a-onda-conservadora-e-homofobica-e-mais-uma-blindagem-de-responsabilidade-mais-uma-transferencia/


================================================











EUA: Homens gays são apenas 2% da população, mas 52% das pessoas com HIV. Uma das razões para a maior incidência de infecção é a promiscuidade, segundo CDC

Por: Felipe Moura Brasil  



rainbow-flag-kiss-reutersUm novo relatório dos Centros de Controle de Doenças revela que os homens que fazem sexo com outros homens, que representam apenas 2% da população dos EUA, constituem 52% dos americanos com HIV.
O relatório dos CDC observou que 63% das pessoas recentemente infectadas com o HIV também são homens que fazem sexo com outros homens.
“Homossexuais, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) representam cerca de 2% da população dos Estados Unidos e, mesmo assim, são o grupo de risco mais afetado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)”, diz o relatório dos CDC. “A maioria dos homens homossexuais e bissexuais adquirem o HIV através do sexo anal, que é o tipo mais arriscado de sexo para obter ou transmitir o HIV.”
Publicidade
Uma das razões para a maior incidência de infecção é a promiscuidade, segundo os CDC.
Health Fair In Los Angeles Offers Free Screenings For Residents“Ter mais parceiros sexuais em comparação com outros homens significa que homens homossexuais e bissexuais têm mais oportunidades de ter relações sexuais com alguém que possa transmitir o HIV ou outra doença sexualmente transmissível. Da mesma forma, entre os homens homossexuais, os que têm mais parceiros são mais propensos a adquirir o HIV”, de acordo com os CDC.
(Mais a respeito em inglês – aqui.)
* A palavra gay no título deste post está usada em seu sentido genérico, como o texto evidencia, que abrange homossexuais, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH).
Sobre o assunto no Brasil, ver por exemplo as matérias da Folha e da Veja.com:
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil
Siga no Facebook e no Twitter. Curta e acompanhe também a nova Fan Page.
====================









Aids: 30 anos depois do início da epidemia, gays 



continuam sendo os mais vulneráveis



Roberta Jansen - O Globo
Tamanho do texto A A A
RIO - “O preço do pecado é a morte.” O estudante Max Goudar, de 24 anos, não conseguia acreditar na frase que ouviu, quando soube que era portador do HIV e cobrou explicações do namorado, com quem crê ter se contaminado. Evangélico praticante, sentiu ainda mais o peso da sentença condenatória.
Mais de 30 anos depois do surgimento da Aids, os homens que fazem sexo com homens continuam sendo a parcela mais vulnerável da população brasileira (e de muitos outros países) à infecção. A prevalência do vírus entre gays é de 10% a 15%, segundo levantamentos, enquanto que, na população em geral, é de 0,6%. Especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar: o preconceito e a discriminação são os maiores responsáveis por essa situação. A recente onda conservadora e homofóbica só faz agravar o problema.
- O preconceito está presente o tempo todo - atesta Max. - A minha antiga igreja, por exemplo, não aceita gays, imagina com HIV.
A diretora do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids) no país, Georgiana Braga-Orillard, confirma que, atualmente, este é o maior desafio para o combate à epidemia.
- O Brasil tem uma resposta muito boa no que diz respeito aos medicamentos disponíveis, mas a discriminação das populações mais vulneráveis continua sendo um desafio - descreve. - Muitas pessoas morrem sem sequer saber que têm a doença. Elas têm medo de fazer o teste, de perder a família, os amigos, o emprego... E acabam chegando muito tarde ao tratamento. Em Curitiba, 20% dos diagnósticos são feitos depois do óbito, para você ter uma ideia.
DIAGNÓSTICO NA DOAÇÃO DE SANGUE
Chefe do Laboratório de Aids da Fiocruz e responsável pelo teste do uso preventivo de drogas do coquetel entre os grupos mais vulneráveis, Beatriz Grinsztejn acredita que o estigma e a discriminação são peças-chave para a vulnerabilidade à infeção.
- Os serviços de saúde, em geral, não são amigáveis - constata Beatriz. - Por isso, o diagnóstico é pior, e o número de mortes é alto. Já imaginou o acesso de uma transexual a um serviço de saúde? Não tem coisa pior.
Por sorte, não foi o que aconteceu com Max. Acostumado a doar sangue, ele tinha sido testado involuntariamente em março de 2012, e seu resultado fora negativo. Em maio, no entanto, ao retornar ao hemocentro, descobriu que era soropositivo. Um teste rápido confirmou o resultado.
- Foi um momento horrível, muito difícil - relembra. - Larguei a faculdade, o emprego, não conseguia fazer nada. Eu sentia tanta raiva, tanto ódio da pessoa (de quem contraiu o vírus) que, se a tivesse encontrado, não estaria falando agora com você. Eu a teria matado e estaria preso. Naquela época, não conseguia entender que eu também tinha responsabilidade pelo que aconteceu.
Felizmente, no entanto, Max também teve grande apoio da mãe, em particular, e da família, em geral, o que nem sempre ocorre. O diagnóstico precoce o levou rapidamente ao tratamento e a uma rede de jovens vivendo com HIV. Ali, teve o acolhimento e as informações de que precisava para se equilibrar emocionalmente e passar a viver com o vírus.
Estudante de Ciências Sociais, ele hoje se dá conta do quão pouco sabia sobre a infecção.
- A informação que eu tinha sobre Aids era a que eu tinha visto no filme do Cazuza - conta. - Não tinha a menor preocupação com isso, achava que era uma coisa completamente distante, algo que só acontecia com travestis, com gente muito promíscua.
Especialistas dizem que, de fato, o conhecimento básico sobre a infecção e suas formas de prevenção não tem chegado às gerações mais jovens, que não viram o início da epidemia, as mortes icônicas de Cazuza e Renato Russo, o sentido de urgência e medo da comunidade médica, a mobilização social das comunidades gays.
- É o que mais escutamos hoje dos mais jovens - diz Georgiana. - A informação não chega. Acho que isso acontece porque estamos usando a mesma mensagem de 30 anos atrás. Há 30 anos, telefone era um bem declarado pelas famílias. Hoje, todo adolescente tem um celular. Precisamos adaptar a mensagem também às faixas etárias e às diferentes regiões do país.
Filmes como “Boa sorte”, de Carolina Jabor, lançado na última quinta-feira, que tem uma soropositiva como protagonista (Deborah Secco, no papel de Judite), podem ser cruciais para a disseminação do que se deve saber sobre a infecção e para alcançar públicos mais amplos, de diferentes faixas etárias e classes sociais. Sem falar, é claro, nas telenovelas.
- A falta de informação leva ao preconceito, discrimina-se o que não se conhece - constata o ator Mateus Solano, de 33 anos, embaixador da boa vontade do Unaids por conta do sucesso de seu personagem Félix na novela das 21h “Amor à vida”, que protagonizou o primeiro beijo entre dois homens na televisão brasileira. - Fazer um personagem capaz de mexer com conceitos e preconceitos, de provocar uma reflexão no público, é muito gratificante. No fim, o beijo foi a pedido do próprio público.
FALTA DE APETITE E ENJOOS
Na opinião de especialistas, a mensagem de que a Aids seria uma espécie de “doença crônica”, controlável com remédios, tinha, originalmente, o objetivo de tentar reduzir o estigma e o pânico que sempre acompanharam a infecção. Fazer com que as pessoas procurassem o diagnóstico, tomassem os remédios, lutassem por uma qualidade de vida melhor. O que as gerações mais novas entenderam, porém, é que a Aids “deixou de ser um problema”.
- Isso está longe de ser verdade - Max sustenta. - Em primeiro lugar, existem os problemas psicológicos. Você descobre que tem uma doença que pode matar. Você perde amigos para a doença. Isso tudo abala muito. Além disso, tem os efeitos colaterais dos remédios. Tem dia em que você está ótimo. Mas tem dia em que não dá para levantar da cama, que você tem diarreia, vomita o dia todo, não consegue comer. Não é tão simples.
Nos dias em que está ótimo, no entanto, Max faz planos para retomar, no ano que vem, o curso de Ciências Sociais. Ele já voltou a trabalhar, trocou de igreja (agora frequenta a Contemporânea, em Niterói, no Grande Rio, onde se aceitam os homossexuais) e, mais importante, começou a namorar novamente. Atualmente, sua maior preocupação é com a festa de Natal que organiza anualmente para crianças carentes de São Gonçalo, também na região metropolitana do Rio. Para a distribuição de brinquedos e elaboração da ceia para pelo menos 1.500 menores, Max está buscando doações pelo site www.jovensrio.org.
- Minha vida mudou completamente. No início, eu achava que era só eu (quem convivia com o HIV). Mas então comecei a olhar em volta. A adaptação levou um tempo. Hoje eu vivo. Quero falar sobre esse assunto para ajudar os outros, para que as pessoas vejam que há um caminho. E quero muito organizar mais uma vez esse Natal Feliz.

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/aids-30-anos-depois-do-inicio-da-epidemia-gays-continuam-sendo-os-mais-vulneraveis-14703597.html#ixzz44icB9G8U