Estudo afirma que gays podem abandonar a homossexualidade
Erica Goode
NOVA YORK - Um psiquiatra da Universidade de Colúmbia, que argumenta
que a profissão da saúde mental "comprou totalmente a idéia
de que uma vez gay você não pode mais ser mudado", informou
na quarta-feira (09) que alguns gays "altamente motivados" podem se
tornar heterossexuais.
O pesquisador, o dr. Robert Spitzer, disse que seu estudo foi baseado em entrevistas
por telefone de 45 minutos com 143 homens e 57 mulheres que buscaram ajuda para
mudar sua orientação sexual. Ele e seus colegas descobriram que
66% dos homens e 44% das mulheres atingiram um "bom funcionamento heterossexual",
disse ele.
"Se alguém deseja mudar e não está sendo pressionado
para isto, não deveria se presumir automaticamente que se trata de um
ato irracional ou de ceder à sociedade", disse Spitzer em uma entrevista.
Mas os resultados do estudo foram imediatamente criticados por grupos de direitos
gays, que apontaram que a maioria dos pesquisados foram recrutados por organizações
que condenam a homossexualidade, como o Exodus, uma seita cristã que
se descreve em seu site na Internet como "promovedora da mensagem da 'liberdade
da homossexualidade por meio do poder de Jesus Cristo'".
"É uma fraude, não ciência", disse David Elliot,
diretor de comunicações da National Gay and Lesbian Task Force
(força tarefa nacional de gays e lésbicas), um grupo lobista de
Washington. "É um embuste científico".
O estudo ainda não foi publicado ou submetido a avaliação
profissional. Mas Spitzer descreverá os resultados em Nova Orleans, como
parte de um simpósio da reunião anual da Associação
Psiquiátrica Americana.
Os cientistas não sabem o que determina alguém se tornar heterossexual
ou homossexual. Mas a maioria acredita que a biologia tem um forte papel na
orientação sexual. E a maioria das organizações
de saúde mental emitiram resoluções desencorajando o uso
das chamadas terapias reparativas que visam mudar homossexuais em heterossexuais,
dizendo que não há evidência científica de que sejam
eficazes.
Spitzer liderou a equipe que em 1973 removeu a homossexualidade da lista oficial
de desordens mentais contida no manual de diagnóstico da associação
psiquiátrica. Mas ele disse que decidiu que o estudo era necessário
após conversar com manifestantes que se opunham à política
da associação em relação a tais terapias, que também
desencoraja seu uso.
"Me ocorreu que talvez o consenso geral, de que o comportamento pode ser
combatido mas a orientação sexual não pode ser mudada,
estava errado", disse Spitzer.
Ainda assim, ele acrescentou que o número de homossexuais que podem se
tornar heterossexuais com sucesso é provavelmente "muito pequeno",
como ficou evidenciado pela dificuldade que teve para encontrar candidatos para
o estudo.
E ele reconheceu que os participantes do estudo eram "incomumente religiosos",
e não eram necessariamente representativos da maioria dos gays e lésbicas
dos Estados Unidos.
Daqueles que participaram do estudo, 78% se manifestaram publicamente a favor
dos esforços para converter homossexuais em heterossexuais; 93% disseram
que a religião era "extremamente" ou "muito" importante
em suas vidas. Cerca de 40% disseram que antes de decidirem mudar sua orientação
sexual, eles eram exclusivamente atraídos a parceiros do mesmo sexo.
E todos relataram que deram início a seus esforços para mudar
sua orientação sexual pelo menos cinco anos antes de serem entrevistados.
Spitzer disse que os participantes expressaram diferentes motivos para o desejo
de se tornarem heterossexuais. Eles incluíram o sentimento de que o "estilo
de vida" gay "não era emocionalmente satisfatório"
(81% dos participantes); a crença de que sua religião entrava
em conflito com o fato de serem gays (79%); e o desejo de se casarem ou permanecerem
casados (67% dos homens, 35% das mulheres).
Os participantes responderam a 60 perguntas sobre seu comportamento, sentimentos
e fantasias sexuais antes e depois do início dos esforços para
mudar sua orientação sexual.
Muito poucos pacientes, disse Spitzer, relataram estar completamente livres
dos sentimentos homossexuais ou fantasias sexuais no ano que antecedeu a entrevista.
Mas 29% dos homens e 63% das mulheres disseram que estavam "apenas ligeiramente
incomodados" com tais sentimentos.
Os pesquisadores definiram "bom funcionamento heterossexual" como
estando em "um relacionamento heterossexual amoroso e emocionalmente satisfatório"
no ano que antecedeu a entrevista, tendo praticado sexo heterossexual satisfatório
pelo menos mensalmente e nunca ou raramente ter pensado em parceiros do mesmo
sexo durante o ato sexual heterossexual.
Em contraste, o dr. Ariel Shidlo e o dr. Michael Schroeder, ambos psicólogos
de uma clínica particular em Manhattan, relataram que a grande maioria
dos pacientes em seu estudo, que foram recrutados pela Internet e por mala direta
para grupos que defendem a terapia reparativa, informaram fracasso em seus esforços
de mudar por meio destas terapias.
O estudo deles ainda não foi publicado ou apresentado para análise
profissional. Schroeder disse que 18 pacientes que se consideravam "bem-sucedidos"
em se tornarem heterossexuais "não se enquadram no que o público
considera como sucesso".
"Eles eram celibatários ou continuam a lutar contra o desejo ou
comportamento homossexual", disse ele.
Muitos pacientes, disse Schroeder, investiram de 5 a 15 anos em terapias, e
quando não foram bem-sucedidos, eles experimentaram "um excessivo
sentimento de perda".
Tradução: George El Khouri Andolfato
|
|