Muitos leitores nos pedem dicas de material para estudo, principalmente livros. Decidimos então fazer listas com tudo aquilo que pode ajudá-los a estudar economia ou o liberalismo econômico por conta própria. Colocaremos também alguns links que lhes ajudarão a encontrar cada item.
Serão no total oito listas, e a publicação de novas listas será anunciada em nossa página no facebook . Mas não deixe de voltar de vez em quando para ver se há novidades!
Conteúdo introdutório
Essa lista é pra você que não é economista, mas se interessa pelo assunto. Lê sobre economia nos jornais, discute com os amigos, mas não tem formação na área. Nenhum deles foi escrito voltado para os debates científicos do mundo acadêmico, refutando ideias correntes ou introduzindo conceitos novos. O objetivo de cada um deles foi justamente trazer o grande público para esse debate, com linguagem simples e explicando aquilo que já é amplamente aceito no meio econômico.
Recomendamos a leitura de todos eles. Cada um trata de questões diferentes, e por uma abordagem diferente.
As seis lições, de Ludwig von Mises
Talvez o maior expoente da Escola Austríaca de economia, Ludwig von Mises lecionou em 1959 seis palestras para um público leigo em Buenos Aires, cada uma delas tratando de um tema econômico diferente: o capitalismo, o socialismo, o intervencionismo, a inflação, investimento externo e políticas e ideias.
Cada uma delas provocou grande impacto no público presente, não só porque o brilhante economista conseguia explicar suas ideias de forma simples e clara, mas porque o país vivia intensa reviravolta política com a renúncia de Péron da presidência.
Anos mais tarde, a mulher de Mises, Margit von Mises, decidiu transcrever as palestras e publicá-las postumamente como um livro. Esse livro, com apenas 106 páginas, é um excelente ponto de partida para entender esses conceitos mais amplos, sem entrar excessivamente em detalhes.
A riqueza da nação no século XXI, de Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães é professor de economia da FGV/SP e mantém em seu blog na Folha de S. Paulo . Inconformado com o debate político-econômico das eleições de 2014, decidiu escrever esse livro como forma de alertar o grande público para o que ele chama de debate do mundo animal, onde interesses particulares estão escondidos atrás dos argumentos econômicos, ou do mundo unidimensional, onde todos os debates podem ser entendidos como uma batalha entre grupos antagônicos: ricos/pobres, trabalhadores/capitalistas, poderosos e oprimidos.
Introduzindo a racionalidade construtiva no debate, ele explora assuntos como leis de conteúdo nacional, BNDES, direitos trabalhistas e a crise atual, que foram todos ou debatidos de forma irracional, ou mesmo ignorados nas eleições. Sua linguagem é extremamente simples de entender, e ele demonstra suas ideias de forma que é muito difícil de discordar.
Esse é outro livro que não é longo demais, e que nos ajuda a enxergar com clareza o contexto político-econômico em que nos encontramos. Ele foi originalmente escrito de forma independente (sem editora), o que deixou seu acabamento um pouco mais simples. Mas o livro certamente vale por seu conteúdo.
Guia politicamente incorreto da economia brasileira, de Leandro Narloch
Leandro Narloch é colunista da Veja e ganhou notoriedade com sua excelente série de guias politicamente incorretos; o de economia é a mais recente adição a esse time.
Narloch tem um objetivo muito semelhante com o da Academia, que é contrapesar toda a educação viesadamente para a esquerda que recebemos na escola e que é recorrentemente reafirmada na sociedade. Dessa hercúlea tarefa, ele se encarregou desde o início da série com livros de história — todos são interessantes e merecem ser lidos.
Nesse de economia, ele fala sobre distribuição de renda, trabalho supostamente escravo, propriedade privada, e muito mais. Citando grandes economistas do presente e do passado e muitos dados e estudos, ele faz a pessoa comum entender fenômenos pela lente do conhecimento econômico, sempre com bom humor — às vezes com algumas provocações divertidas.
Livre para escolher, de Rose e Milton Friedman
O casal de economistas Rose e Milton Friedman escreveu esse livro em 1980, pouco antes da queda de regimes socialistas ao redor do mundo. Sua intenção era demonstrar a importância da liberdade econômica para a prosperidade e para a liberdade política e civil.
Esse é o livro mais completo dessa sessão, e emprega uma boa mistura de explicações lógicas e exemplos históricos do mundo inteiro, um corroborando o outro. Porque o livro não foi significativamente alterado desde sua primeira edição, os exemplos usados são um pouco defasados, mas ainda extraordinariamente ilustrativos do mundo em que vivemos.
Tratando de temas como o comércio exterior, proteção a indústrias, sistema de ensino e políticas sociais, os Friedmans ensinam de maneira clara e transparente como planejamento e interferências do Estado corrompem uma economia.
Para cada uma das duas edições do livro, foi feita uma série de episódios de televisão para a emissora americana PBS. Os episódios são um pouco mais resumidos do que a leitura mas, para quem prefere esse formato, são muito esclarecedores também.
Teoria econômica
Esses são os livros que ensinam economia, propriamente dita. Economia é uma ciência como qualquer outra. Da mesma forma que o físico tenta descobrir se o universo é finito ou infinito; o biólogo tenta entender como se alimentam as algas no fundo do mar; o historiador tenta descobrir como ocorreram importantes eventos do passado; o economista tenta entender o que causa o desemprego, por exemplo.
O que têm em comum todos esses cientistas é a vontade de entender, cada um através de perguntas diferentes, o mundo em que vivem. O material aqui apresentado busca explicar para o leitor interessado o que já se descobriu no campo econômico ao longo de séculos de estudo sistemático e discussões entre seus pensadores.
Trata-se de livros (e vídeos) que são usados nos primeiros anos de cursos de graduação no mundo todo. Não se espera, portanto, qualquer conhecimento prévio por parte do leitor. E mesmo assim vão mundo mais a fundo na ciência econômica do que a lista de conteúdo introdutório, o que equivale a dizer que são leituras mais longas, um pouco mais complexas e mais técnicas.
Mas não se assuste. Esperamos que decida seguir em frente e desbravar esse mundo novo.
Microeconomia, de Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld
Dentro do estudo da economia, a microeconomia preocupa-se primariamente em entender a formação de preços. Todos sabem que preço é determinado por oferta e procura, mas você talvez já tenha se perguntado o quê, afinal, determina a oferta (ela poderia ser maior? menor? por quê?) e a procura (idem).
Manteiga a margarina são dois produtos feitos a partir de ingredientes completamente diferentes. Mas quando o preço de um sobe, sobe também o preço do outro. Além de concordar com a afirmação, você consegue explicar como isso ocorre, e como isso impacta o resto da economia?
Esse livro vai dar-lhe tudo o que você precisa para entender esse aparente paradoxo. Ele é geralmente o escolhido entre aqueles que não têm simpatia por matemática, equações e gráficos. Robert Pindyck é professor de economia no MIT e conseguiu escrever esse livro para um público amplo, usando linguagem simples e direta.
Se você tem facilidade com a área de exatas, talvez prefira Microeconomia – Uma Abordagem Moderna de Hal Varian ( buscapé ou kindle ). Para quem tem essa facilidade, os conceitos talvez fiquem ainda mais claros.
Macroeconomia, de Gregory Mankiw
Já a macroeconomia trata dos grandes agregados econômicos: moeda e inflação, desemprego, produção da economia, níveis de investimento e poupança, taxa de câmbio, comércio internacional e, principalmente, crescimento econômico.
Se a microeconomia está preocupada com as decisões dos indivíduos, de empresas ou no máximo de setores da economia, a macroeconomia tenta entender o funcionamento da economia como um todo.
Esse livro é bem completo para alguém que queira entender essas questões. Gregory Mankiw é professor de economia em Harvard, e seu livro é um dos mais escolhidos por professores no mundo todo. Escolhemos ele para a lista porque gostamos muito dele, mas se você folhear e não gostar, uma excelente alternativa é o de mesmo nome que foi escrito por Olivier Blanchard (buscapé ).
Ação Humana, de Ludwig von Mises
Os dois livros acima seguem a chamada escola neoclássica, que é a escola dominante nas universidades. Mas entre liberais e libertários, a escola austríaca de economia talvez seja ainda mais influente. Infelizmente, há muito pouco dessa escola escrito em português, especificamente sobre teoria econômica. Talvez nos próximos anos apareçam opções mais recentes e escritas para o grande público.
Esse livro é a obra-prima de Ludwig von Mises . Explica tanto questões ligadas à micro como à macroeconomia, desde as motivações humanas até os ciclos econômicos de euforia e crises. É um verdadeiro tratado de economia; um livro extenso, denso e completo que vai aprofundar extraordinariamente seus conhecimentos sobre a ciência econômica.
Vai interessar a alguém que já conheça a escola neoclássica, que já conheça um pouco da escola austríaca mas que tenha esse conhecimento “disperso”, ou alguém que esteja decidido a encarar um grande livro. De qualquer forma, a recompensa pelo esforço é certa e gratificante.
Princípios de Economia: Microeconomia, de Tyler Cowen e Alex Tabarrok
Ao invés de livros, você pode escolher assistir a um curso gratuito de microeconomia pela internet. Nós estamos traduzindo, legendando e colocando no YouTube o excelente curso dos professores Tyler Cowen e Alex Tabarrok para a Marginal Revolution University . É claro que o curso não se aprofunda tanto quanto os livros, mas muitas vezes é mais fácil de acompanhar.
Seu conteúdo corresponde ao primeiro livro dessa lista, mas com influência austríaca. Esperamos terminar de traduzir o mais breve possível, e logo depois partir para o curso de macroeconomia. Se você deseja ver os vídeos que ainda não foram traduzidos, pode encontrá-los na página do próprio projeto .
Liberalismo clássico
O movimento hoje chamado de liberalismo clássico foi o movimento que “descobriu” o liberalismo. Essa lista explora o nascimento e as primeiras percepções que a humanidade teve desse valor, desde John Locke até meados do século XIX.
Até então, entendia-se como natural e legítimo o poder exercido pelo monarca sobre a população, qualquer que fossem as ações comandadas por esse poder. Ideias como justiça, igualdade e liberdade simplesmente não existiam na relação entre governantes e governados e só vieram a ser levantadas durante o iluminismo, movimento do qual o liberalismo clássico fez parte.
Aqui temos algumas obras específicas sobre economia, e outras que falam do liberalismo em geral. O interesse em todas elas é descobrir a germinação das ideias que mais tarde viriam a influenciar tantos economistas e filósofos contemporâneos.
Segundo tratado sobre o governo (1689), de John Locke
Além de sua profunda influência no campo da epistemologia, John Locke é também amplamente reconhecido como o pai do liberalismo. Locke deu sequência ao trabalho de Thomas Hobbes (entre outros) em seu exercício teórico que buscava entender como e por quê o Estado é criado pelos homens.
Segundo Locke, no estado natural (ou seja, antes da formação do estado civil), todos os indivíduos são livres e independentes uns dos outros, e todos têm o direito natural de defender sua vida, sua saúde, sua liberdade e sua propriedade. Mas mesmo assim haveria disputas entre eles, então eles decidem criar uma entidade que seria responsável por mediar e resolver essas disputas sem guerra: o Estado.
É no Segundo tratado sobre o governo que Locke revoluciona valores da época ao defender que o Estado é constituído com um propósito racional e por pessoas originalmente livres, e que portanto deve ter seu poder limitado às funções para as quais fora criado. E assim, Locke influenciou, direta ou indiretamente, todos os outros autores de todas essas listas que divulgamos aqui.
A riqueza das nações (1776), de Adam Smith
Essa é a obra amplamente considerada como ponto inicial do estudo da economia como ciência social. Há registros de manifestações anteriores sobre o assunto, mas nenhum deles conseguiu desencadear uma discussão contínua como Adam Smith provocou e que dura até hoje.
Seu intuito inicial foi descobrir o que gerava riqueza (que deve ser entendida como prosperidade) a algumas nações, e não a outras. Smith percebeu que alguns países eram muito ricos em relação a outros, e não acreditava que essa diferença se dava ao acaso. Ao desenvolver essa investigação, passa por importantíssimos conceitos como a auto regulação dos mercados, formação de preços, divisão do trabalho, especialização da produção, acumulação de capital, importância das trocas (inclusive internacionais) e a conhecida ideia da mão invisível.
Seu intuito era tentar chegar a conclusões atemporais; ou seja, que não se aplicassem somente a seu contexto histórico específico. Claro que de lá para cá muito se evoluiu no conhecimento da ciência econômica, mas é surpreendente como muitas de suas lições permanecem atuais. E é também interessante descobrir as origens do que conhecemos hoje sobre economia.
O Federalista (1787-88), de Alexander Hamilton, James Madison, e John Jay
O projeto final da constituição norte-americana foi enviado ao Congresso da Confederação em setembro de 1787, que remeteu o texto para ratificação em cada estado com proposta de substituir os Artigos da Confederação em vigência na época. No estado de Nova York, houve intensa discussão nos meses que antecederam a votação entre aqueles que eram favoráveis à nova constituição e aqueles que se opunham a ela.
Nesse contexto, Alexander Hamilton decidiu escrever em jornais locais uma série de ensaios que defendiam a proposta. Junto com James Madison (que foi o principal idealizador da carta magna) e John Jay , publicou 85 ensaios que, todos juntos, foram mais tarde batizados de O Federalista. Esses ensaios são hoje considerados valiosa obra de ciência política. Falam sobre os perigos da ditadura da maioria, descentralização de poder, freios e contrapesos entre os diferentes poderes públicos, e muito mais.
A nova constituição, largamente influenciada pelas ideias de John Locke, foi aprovada por Nova York e por todos os demais estados, dando origem a enorme elevação na prosperidade dos habitantes locais. Esse sucesso só foi possível graças às ideias de liberdade individual contidas no documento, primorosa manifestação concreta do liberalismo clássico.
É muito difícil encontrar esses ensaios em português. A editora Nova Fronteira lançou edição em 1993, mas os exemplares não estão mais disponíveis em livrarias. Recomendamos, portanto, o sétimo e último capítulo do primeiro volume da obra organizada por Francisco Weffort, capítulo escrito por Fernando Papaterra Limongi e que trata desses ensaios – inclusive transcrevendo os principais deles. Recomendamos também procurar O Federalista em sebos, como a Estante Virtual.
A democracia na América (1835), de Alexis de Tocqueville
Em 1831, Alexis de Tocqueville foi enviado por seu governo em missão para os Estados Unidos. Por nove meses, o jovem francês viajou pelo país, analisando a cultura, a sociedade, a economia e a política local. Poucos anos depois, reuniu suas impressões naquele que viria a ser um dos grandes clássicos da política.
Tocqueville acreditava que o mundo passava para uma transição da aristocracia para a igualdade, e via na sociedade americana um exemplo mais bem-sucedido de democracia do que a França. Escreveu esperando que suas lições servissem para os franceses, que à época também formavam uma jovem república em transformação cultural.
O livro analisa possíveis ameaças à democracia, e possíveis perigos oriundos da própria democracia. O francês tinha grande estima tanto pela igualdade como pela liberdade, dois valores que devem ser perseguidos e depois protegidos. Mas também criticou os socialistas ao alertar sobre os perigos de uma paixão excessiva pela igualdade.
A lei (1850), de Frédéric Bastiat
Durante sua curta vida (morreu aos 49 anos), o francês Frédéric Bastiat causou profunda influência no liberalismo econômico. Talvez tenha sido a maior inspiração para a Escola Austríaca de economia que viria algumas décadas à frente. Sua escrita é de estilo claro, persuasivo e provocativo, e serviu para expor os incuráveis vícios do protecionismo, do corporativismo e da coletivização da propriedade.
A lei é apenas a mais formidável de suas obras. Tudo o que ele escreveu merece ser lido, mas aqui está um bom começo. O livro fala principalmente sobre a relação entre propriedade e o Estado. O francês acredita que cada indivíduo naturalmente possui direito individual à sua vida, à sua liberdade e à sua propriedade; e que é função do Estado proteger esse direito. Quando o Estado usa sua força para retirar de um para dar para outro, ele estaria realizando “roubo legalizado”, o que incentivaria outras classes a fazerem o mesmo.
Bastiat também foi responsável por desenvolver o conceito de “custo de oportunidade”, segundo o qual cada opção de uma escolha deve ser comparada com sua melhor alternativa. Não devemos avaliar os benefícios de uma obra pública por seu impacto na vida das pessoas, por exemplo, mas em relação à situação em que esse mesmo dinheiro tivesse sido gasto de outra forma (outra obra, ou que o dinheiro não tivesse sido tirado das pessoas para começar). Esse raciocínio está melhor elaborado no ensaio O que é visto, e o que não é visto, e é também valiosa leitura.