sábado, 21 de outubro de 2017

O LIBERALISMO ECONÔMICO PREJUDICA OS MAIS POBRES?


Um dos motivos porque algumas pessoas veem o liberalismo econômico com certo ceticismo é a impressão que têm de que ele faria piorar a situação da população pobre. Pressupõe-se que é o Estado que garante a essas pessoas um mínimo de qualidade de vida, e que retirar essa muleta seria condená-los à inevitável miséria. Esse artigo investiga se essa impressão tem ou não respaldo na realidade.
Faremos isso comparando, para todas as 114 economias para as quais há dados disponíveis, seu grau de liberdade econômica e o padrão de vida de sua população mais pobre. Se a suposição acima for verdadeira, encontraremos uma relação negativa entre essas duas medidas. Do contrário, ela será positiva (podendo, é claro, ainda ser neutra ou inconclusiva).
Já fizemos essa comparação em outro artigo com dados de 2013, mas como os dados de 2014 já estão disponíveis para muitos países, queremos aproveitar para revalidar nossa análise — agora com uma novidade.
Há mais de vinte anos a The Heritage Foundation analisa mais de cem economias ao redor do mundo e atribui a cada uma, com base em dez critérios diferentes, seu índice de liberdade econômica . A fundação considera que uma economia é mais livre na medida em que:
  • mais bem definidos forem os direitos de propriedade;
  • menor for a percepção de corrupção da população;
  • menos o governo arrecadar em impostos;
  • menos o governo gastar;
  • menor forem as burocracias exigidas para se ter negócios;
  • mais livres de regulação forem as relações trabalhistas;
  • mais estável for a moeda;
  • menor forem as barreiras à entrada de importados;
  • menor forem as restrições a investimentos produtivos; e
  • menor for a atuação do governo no mercado financeiro.
Para nosso estudo, o índice atribuído a cada economia será seu grau de liberdade. Recomenda-se fortemente ao leitor conhecer a metodologia empregada pela fundação na elaboração dos índices, bem como o relatório anual que os acompanha.
Para o padrão de vida da população, usaremos a renda média dos 10% mais pobres de cada economia, renda essa ajustada pelo poder de compra no país ou território. Ou seja, estamos falando de o quanto de alimentos, vestuário, moradia, energia elétrica, etc… consegue, em média, comprar um habitante que está no décimo mais pobre da população de cada economia. Esses dados vêm doBanco Mundial e estão expressos em dólares de 2014.
Colocamos tudo isso no slideshow de gráficos abaixo. Cada ponto é um país ou território; quanto mais pra direita, maior sua liberdade econômica; e quanto mais para cima, maior o poder de compra de sua população mais pobre.
Em verde está a linha reta de menor distância total a todos os pontos, e é usada para mostrar se eles estão revelando uma relação direta ou inversa entre as variáveis. Como nota-se facilmente, trata-se de uma relação direta.
Não só no mundo como um todo, mas também dentro de grupos de economias com afinidade histórica, econômica ou geográfica, a liberdade econômica sempre eleva o poder de compra da população mais pobre. Essa é uma constatação importantíssima porque, como dito no início, muita gente se afasta do liberalismo por acreditar o contrário.
Vamos agora refazer o gráfico, dessa vez colocando no eixo vertical a migração líquida (ou seja, número de imigrantes que entram menos os emigrantes que saem) de cada país ou território, dividida por sua população total.
A ideia é simples: economias prósperas atraem novos moradores em busca de condições melhores. Queremos saber se as economias que recebem novos moradores são mais ou menos livres do que aquelas que os perdem. Esses dados foram obtidos também do Banco Mundial, mas são de 2012 — último ano disponível.
Essa relação também é positiva, apesar de menos claramente do que em alguns dos gráficos anteriores. É evidente que há outros fatores que interferem nas migrações, como controles de imigração , guerras e conflitos armados (reparem quanto a Jordânia está recebendo de imigrantes/refugiados dos países vizinhos), barreiras físicas (a economia mais livre da África, por exemplo, é um pequeno arquipélago que fica a centenas de quilômetros de Madagascar, e mais longe ainda do continente), etc…
Mas a despeito de tudo isso, nota-se uma relação inegavelmente positiva entre as duas variáveis estudadas. A média do índice de liberdade econômica entre os países que receberam mais do que enviaram migrantes é de 65,8; entre os que enviaram mais do que receberam é de apenas 57,5. Todas as onze economias mais livres tiveram fluxo positivo ou considerado zero, enquanto que dezesseis das dezoito menos livres tiveram fluxo negativo.
A primeira análise nos diz que as pessoas de baixa renda têm melhor padrão de vida em economias mais livres, e a segunda nos diz que é exatamente isso que elas querem. Afinal, ninguém abandona amigos e família para ir viver em um país estranho sem haver um bom motivo para isso.
E há: liberdade.

POR QUE PODEMOS NOS ATREVER A SER OTIMISTAS QUANTO À DESIGUALDADE





É maravilhoso que a Oxfam reconheça o “progresso surpreendente na redução da pobreza” nas últimas décadas, e que “os negócios podem ser uma grande força para o bem” a este respeito. Mas eu quero ser ganancioso. Quero que a Oxfam e todas as outras organizações que, com louvável razão, desejam ver uma redução na extensão da pobreza global, deem mais um passo: reconheçam que muito desse progresso surpreendente andou lado a lado com o crescimento e a difusão do livre comércio, da democracia, dos direitos de propriedade e do estado de direito em todo o mundo.
Esta semana 1 houve um debate no CapX – antes de um debate semelhante organizado pelo Centre for Policy Studies na Conferência do Partido Conservador Britânico – sobre as causas e as possíveis curas para a desigualdade global.
Sim, há desigualdade em excesso. E nós certamente “ainda não chegamos lá”. Mas devemos celebrar abertamente o fato de que a porcentagem da população mundial que vive com menos de US$ 1,90 por dia caiu de 44% em 1980 para 9,6% em 2015.


Proporção da população mundial vivendo em pobreza absoluta, 1820-2015. Em laranja, vivendo na pobreza (menos de US$ 2 por dia) de acordo com dados de Bourguignon e Morrison. Em vermelho, vivendo na extrema pobreza (menos de US$ 1 por dia) de acordo com dados de Bourguignon e Morrison. Em preto, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia de acordo com dados do Banco Mundial.

Também devemos ter cuidado ao analisar os dados sobre a riqueza e a desigualdade de renda. Por exemplo, como Tim Worstall explicou , “riqueza” é definida como ativos menos dívidas. Assim, um estudante brilhante de Harvard, que terá dívidas estudantis significativas e sem ativos reais (mas com fantástica renda potencial) será classificado como uma das pessoas menos ricas do mundo.
Usando essa definição, há mais pessoas pobres nos EUA ou na Europa do que na China: de fato, 30% das pessoas mais pobres do mundo, quando medidas pela riqueza, estão, com efeito, nos países ricos da Europa e da América do Norte. Mas isso ocorre porque os países ricos têm mercados financeiros relativamente eficientes, o que permite que as pessoas contraiam dívidas para ir à universidade ou comprar suas próprias casas.
Mesmo quando se trata de desigualdade de renda, a demografia pode muito bem estar prestes a provocar otimismo. Como a Oxfam apontou (juntamente com Thomas Piketty), o retorno sobre o capital foi maior do que o retorno sobre o trabalho nos últimos anos – o que significa que os ativos dos ricos crescerem mais rapidamente do que os salários dos pobres.
Em parte, isso pode ser colocado na conta de programas de compras de ativos nas economias ocidentais, como o Quantitative Easing 2 . Mais importante do que isso, no entanto, é o simples fato de que dois bilhões de trabalhadores menos remunerados e pouco qualificados se juntaram à economia global. Devemos nos surpreender que os ganhos dos trabalhadores pouco qualificados em outros lugares tenham caído, enquanto os ganhos do trabalho altamente qualificado e do capital aumentaram?
A coisa fundamental para entender, no entanto, é que esse processo chegou ao fim. O recentecrescimento exponencial da força de trabalho global atingiu seu clímax. Em muitas economias ocidentais, bem como na China, a força de trabalho está diminuindo. O processo acima irá então reverter: quando o trabalho não for tão abundante, sua participação na prosperidade futura pode aumentar.
Se aceitarmos que a pobreza está caindo drasticamente (ou até universalmente) e que a desigualdade pode cair diante das pressões demográficas, então talvez seja melhor olhar para o que é melhor fazer para incentivar ainda mais os bem-vindos desdobramentos.
Nesse sentido, reduzir a pobreza absoluta é certamente a maneira mais eficaz e mais desejável de reduzir a desigualdade?
Aqui podemos observar a Zâmbia, como Mark Goldring da Oxfam fez em seu artigo anterior na CapX . Ele ressalta que, enquanto o crescimento do PIB per capita foi de, em média, 3% entre 2004 e 2013, o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza de US$ 1,25 aumentou de 65% em 2003 para 74% em 2010.
Mas por que isso ocorreu?
Aqui vale a pena olhar para o Índice de Liberdade Econômica, que relata :
As práticas governamentais corruptas deixam milhões de zambianos em pobreza severa. O sistema judicial é fraco e é insuficiente na aplicação imparcial da lei, prejudicando os esforços de combate à corrupção. A corrupção também é um grande obstáculo e impedimento para o investimento estrangeiro.
Os altos preços das commodities causaram uma década de forte crescimento econômico, mas a economia se beneficiaria enormemente da diversificação. As inchadas folhas de pagamento do governo, as constantes mudanças das leis tributárias sobre o setor de mineração, que assustam os investidores, e a crescente dívida pública exacerbam os problemas da economia.
A melhor maneira de melhorar a vida de milhões de zambianos seria abordar as causas do problema. Isso significa concentrar nossos esforços na luta contra a corrupção e na defesa do estado de direito. Mas também significa incentivar os direitos de propriedade, cuja importância é ilustrada por este artigo por um trabalhador auxiliar da Zâmbia.
Como Hernando de Soto explicou, as reformas dos títulos de terra podem ter um enorme impacto, desbloqueando os US$ 10 trilhões de capital que atualmente é impossível para os pobres terem acesso. O trabalho de ONGs como a Oxfam nesta área, bem como de uma série de think tanks de livre mercado , pode continuar a proporcionar benefícios tangíveis e duradouros.
Podemos ousar ser otimista. Lenta e esporadicamente, e com muitas exceções, o mundo está se tornando um lugar melhor – pelo menos em termos de quanto ele se beneficia da fórmula mágica de livre comércio, de direitos de propriedade, de democracia e de estado de direito. E esta zona de prosperidade está se espalhando a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento da história humana.
Considere a democracia. Como Johan Norberg aponta em seu novo livro, Progress: Ten Reasons to Look Forward to the Future :
Nenhum país africano viu uma transferência pacífica de poder nas urnas nas décadas de 1960 e 1970, e houve apenas uma na década de 1980. Mas, de repente, na década de 1990, 12 países realizaram eleições pacíficas. […] Mas de repente, desde 1990, mais de trinta governos e presidentes africanos perderam eleições e saíram do governo.
Não é apenas a democracia. Nunca antes o mundo viu tal crescimento na expectativa de vida, educação universal, alfabetização, saneamento e direitos humanos. Tudo enquanto a guerra e a fome estão em declínio rápido.
Nada disso, eu enfatizo, deve ser um argumento para a complacência. Sempre haverá muitos casos de falha no mercado, de venalidade humana e decapitalismo de compadres . Nem podemos ser imunes às terríveis consequências da guerra e dos desastres naturais. Não há receita para a utopia.
Mas o progresso surpreendente das últimas décadas deve ser motivo de otimismo – que a qualidade de vida de literalmente bilhões de pessoas em todo o mundo continuará a melhorar.
E, se for esse o caso, as recomendações de políticas , seja para defensores do Partido Trabalhista Britânico ou para os apoiadores do Partido Conservador Britânico, seja para a Oxfam ou para ideólogos de mercado livre, devem ser claras: incentivar mercados livres e competitivos, o estado de direito, os direitos de propriedade e o bom governo.

Esse artigo foi originalmente publicado como Why we can dare to be optimistic about inequality para oCapX .

Notas:

  1. O artigo foi originalmente publicado em setembro de 2016. (N. do E.) 
  2. Política monetária heterodoxa na qual o governo compra ativos financeiros do mercado para aumentar a oferta monetária (já que o dinheiro que está usando para pagar pelos ativos está entrando em circulação) e baixar a taxa de juros. (N. do E.) 

SOBRE O AUTOR

MATERIAL DE ESTUDO

Muitos leitores nos pedem dicas de material para estudo, principalmente livros. Decidimos então fazer listas com tudo aquilo que pode ajudá-los a estudar economia ou o liberalismo econômico por conta própria. Colocaremos também alguns links que lhes ajudarão a encontrar cada item.
Serão no total oito listas, e a publicação de novas listas será anunciada em nossa página no facebook . Mas não deixe de voltar de vez em quando para ver se há novidades!

Conteúdo introdutório

Essa lista é pra você que não é economista, mas se interessa pelo assunto. Lê sobre economia nos jornais, discute com os amigos, mas não tem formação na área. Nenhum deles foi escrito voltado para os debates científicos do mundo acadêmico, refutando ideias correntes ou introduzindo conceitos novos. O objetivo de cada um deles foi justamente trazer o grande público para esse debate, com linguagem simples e explicando aquilo que já é amplamente aceito no meio econômico.
Recomendamos a leitura de todos eles. Cada um trata de questões diferentes, e por uma abordagem diferente.

As seis lições, de Ludwig von Mises
Talvez o maior expoente da Escola Austríaca de economia, Ludwig von Mises lecionou em 1959 seis palestras para um público leigo em Buenos Aires, cada uma delas tratando de um tema econômico diferente: o capitalismo, o socialismo, o intervencionismo, a inflação, investimento externo e políticas e ideias.
Cada uma delas provocou grande impacto no público presente, não só porque o brilhante economista conseguia explicar suas ideias de forma simples e clara, mas porque o país vivia intensa reviravolta política com a renúncia de Péron da presidência.
Anos mais tarde, a mulher de Mises, Margit von Mises, decidiu transcrever as palestras e publicá-las postumamente como um livro. Esse livro, com apenas 106 páginas, é um excelente ponto de partida para entender esses conceitos mais amplos, sem entrar excessivamente em detalhes.
Onde encontrar: na web (grátis) , ou edição IMB .

A riqueza da nação no século XXI, de Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães é professor de economia da FGV/SP e mantém em seu blog na Folha de S. Paulo . Inconformado com o debate político-econômico das eleições de 2014, decidiu escrever esse livro como forma de alertar o grande público para o que ele chama de debate do mundo animal, onde interesses particulares estão escondidos atrás dos argumentos econômicos, ou do mundo unidimensional, onde todos os debates podem ser entendidos como uma batalha entre grupos antagônicos: ricos/pobres, trabalhadores/capitalistas, poderosos e oprimidos.
Introduzindo a racionalidade construtiva no debate, ele explora assuntos como leis de conteúdo nacional, BNDES, direitos trabalhistas e a crise atual, que foram todos ou debatidos de forma irracional, ou mesmo ignorados nas eleições. Sua linguagem é extremamente simples de entender, e ele demonstra suas ideias de forma que é muito difícil de discordar.
Esse é outro livro que não é longo demais, e que nos ajuda a enxergar com clareza o contexto político-econômico em que nos encontramos. Ele foi originalmente escrito de forma independente (sem editora), o que deixou seu acabamento um pouco mais simples. Mas o livro certamente vale por seu conteúdo.
Onde encontrar: buscapé , ou kindle .

Guia politicamente incorreto da economia brasileira, de Leandro Narloch
Leandro Narloch é colunista da Veja e ganhou notoriedade com sua excelente série de guias politicamente incorretos; o de economia é a mais recente adição a esse time.
Narloch tem um objetivo muito semelhante com o da Academia, que é contrapesar toda a educação viesadamente para a esquerda que recebemos na escola e que é recorrentemente reafirmada na sociedade. Dessa hercúlea tarefa, ele se encarregou desde o início da série com livros de história — todos são interessantes e merecem ser lidos.
Nesse de economia, ele fala sobre distribuição de renda, trabalho supostamente escravo, propriedade privada, e muito mais. Citando grandes economistas do presente e do passado e muitos dados e estudos, ele faz a pessoa comum entender fenômenos pela lente do conhecimento econômico, sempre com bom humor — às vezes com algumas provocações divertidas.
Onde encontrar: buscapé , ou kindle .

Livre para escolher, de Rose e Milton Friedman
O casal de economistas Rose e Milton Friedman escreveu esse livro em 1980, pouco antes da queda de regimes socialistas ao redor do mundo. Sua intenção era demonstrar a importância da liberdade econômica para a prosperidade e para a liberdade política e civil.
Esse é o livro mais completo dessa sessão, e emprega uma boa mistura de explicações lógicas e exemplos históricos do mundo inteiro, um corroborando o outro. Porque o livro não foi significativamente alterado desde sua primeira edição, os exemplos usados são um pouco defasados, mas ainda extraordinariamente ilustrativos do mundo em que vivemos.
Tratando de temas como o comércio exterior, proteção a indústrias, sistema de ensino e políticas sociais, os Friedmans ensinam de maneira clara e transparente como planejamento e interferências do Estado corrompem uma economia.
Para cada uma das duas edições do livro, foi feita uma série de episódios de televisão para a emissora americana PBS. Os episódios são um pouco mais resumidos do que a leitura mas, para quem prefere esse formato, são muito esclarecedores também.
Onde encontrar: buscapé , kindle , ou no YouTube .

Teoria econômica

Esses são os livros que ensinam economia, propriamente dita. Economia é uma ciência como qualquer outra. Da mesma forma que o físico tenta descobrir se o universo é finito ou infinito; o biólogo tenta entender como se alimentam as algas no fundo do mar; o historiador tenta descobrir como ocorreram importantes eventos do passado; o economista tenta entender o que causa o desemprego, por exemplo.
O que têm em comum todos esses cientistas é a vontade de entender, cada um através de perguntas diferentes, o mundo em que vivem. O material aqui apresentado busca explicar para o leitor interessado o que já se descobriu no campo econômico ao longo de séculos de estudo sistemático e discussões entre seus pensadores.
Trata-se de livros (e vídeos) que são usados nos primeiros anos de cursos de graduação no mundo todo. Não se espera, portanto, qualquer conhecimento prévio por parte do leitor. E mesmo assim vão mundo mais a fundo na ciência econômica do que a lista de conteúdo introdutório, o que equivale a dizer que são leituras mais longas, um pouco mais complexas e mais técnicas.
Mas não se assuste. Esperamos que decida seguir em frente e desbravar esse mundo novo.

Microeconomia, de Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld
Dentro do estudo da economia, a microeconomia preocupa-se primariamente em entender a formação de preços. Todos sabem que preço é determinado por oferta e procura, mas você talvez já tenha se perguntado o quê, afinal, determina a oferta (ela poderia ser maior? menor? por quê?) e a procura (idem).
Manteiga a margarina são dois produtos feitos a partir de ingredientes completamente diferentes. Mas quando o preço de um sobe, sobe também o preço do outro. Além de concordar com a afirmação, você consegue explicar como isso ocorre, e como isso impacta o resto da economia?
Esse livro vai dar-lhe tudo o que você precisa para entender esse aparente paradoxo. Ele é geralmente o escolhido entre aqueles que não têm simpatia por matemática, equações e gráficos. Robert Pindyck é professor de economia no MIT e conseguiu escrever esse livro para um público amplo, usando linguagem simples e direta.
Se você tem facilidade com a área de exatas, talvez prefira Microeconomia – Uma Abordagem Moderna de Hal Varian ( buscapé ou kindle ). Para quem tem essa facilidade, os conceitos talvez fiquem ainda mais claros.
Onde encontrar: buscapé ou kindle .

Macroeconomia, de Gregory Mankiw
Já a macroeconomia trata dos grandes agregados econômicos: moeda e inflação, desemprego, produção da economia, níveis de investimento e poupança, taxa de câmbio, comércio internacional e, principalmente, crescimento econômico.
Se a microeconomia está preocupada com as decisões dos indivíduos, de empresas ou no máximo de setores da economia, a macroeconomia tenta entender o funcionamento da economia como um todo.
Esse livro é bem completo para alguém que queira entender essas questões. Gregory Mankiw é professor de economia em Harvard, e seu livro é um dos mais escolhidos por professores no mundo todo. Escolhemos ele para a lista porque gostamos muito dele, mas se você folhear e não gostar, uma excelente alternativa é o de mesmo nome que foi escrito por Olivier Blanchard (buscapé ).
Onde encontrar: buscapé .

Ação Humana, de Ludwig von Mises
Os dois livros acima seguem a chamada escola neoclássica, que é a escola dominante nas universidades. Mas entre liberais e libertários, a escola austríaca de economia talvez seja ainda mais influente. Infelizmente, há muito pouco dessa escola escrito em português, especificamente sobre teoria econômica. Talvez nos próximos anos apareçam opções mais recentes e escritas para o grande público.
Esse livro é a obra-prima de Ludwig von Mises . Explica tanto questões ligadas à micro como à macroeconomia, desde as motivações humanas até os ciclos econômicos de euforia e crises. É um verdadeiro tratado de economia; um livro extenso, denso e completo que vai aprofundar extraordinariamente seus conhecimentos sobre a ciência econômica.
Vai interessar a alguém que já conheça a escola neoclássica, que já conheça um pouco da escola austríaca mas que tenha esse conhecimento “disperso”, ou alguém que esteja decidido a encarar um grande livro. De qualquer forma, a recompensa pelo esforço é certa e gratificante.
Onde encontrar: na web (grátis) , edição IMB ou kindle .

Princípios de Economia: Microeconomia, de Tyler Cowen e Alex Tabarrok
Ao invés de livros, você pode escolher assistir a um curso gratuito de microeconomia pela internet. Nós estamos traduzindo, legendando e colocando no YouTube o excelente curso dos professores Tyler Cowen e Alex Tabarrok para a Marginal Revolution University . É claro que o curso não se aprofunda tanto quanto os livros, mas muitas vezes é mais fácil de acompanhar.
Seu conteúdo corresponde ao primeiro livro dessa lista, mas com influência austríaca. Esperamos terminar de traduzir o mais breve possível, e logo depois partir para o curso de macroeconomia. Se você deseja ver os vídeos que ainda não foram traduzidos, pode encontrá-los na página do próprio projeto .
Onde encontrar: no YouTube .

Liberalismo clássico

O movimento hoje chamado de liberalismo clássico foi o movimento que “descobriu” o liberalismo. Essa lista explora o nascimento e as primeiras percepções que a humanidade teve desse valor, desde John Locke até meados do século XIX.
Até então, entendia-se como natural e legítimo o poder exercido pelo monarca sobre a população, qualquer que fossem as ações comandadas por esse poder. Ideias como justiça, igualdade e liberdade simplesmente não existiam na relação entre governantes e governados e só vieram a ser levantadas durante o iluminismo, movimento do qual o liberalismo clássico fez parte.
Aqui temos algumas obras específicas sobre economia, e outras que falam do liberalismo em geral. O interesse em todas elas é descobrir a germinação das ideias que mais tarde viriam a influenciar tantos economistas e filósofos contemporâneos.

Segundo tratado sobre o governo (1689), de John Locke
Além de sua profunda influência no campo da epistemologia, John Locke é também amplamente reconhecido como o pai do liberalismo. Locke deu sequência ao trabalho de Thomas Hobbes (entre outros) em seu exercício teórico que buscava entender como e por quê o Estado é criado pelos homens.
Segundo Locke, no estado natural (ou seja, antes da formação do estado civil), todos os indivíduos são livres e independentes uns dos outros, e todos têm o direito natural de defender sua vida, sua saúde, sua liberdade e sua propriedade. Mas mesmo assim haveria disputas entre eles, então eles decidem criar uma entidade que seria responsável por mediar e resolver essas disputas sem guerra: o Estado.
É no Segundo tratado sobre o governo que Locke revoluciona valores da época ao defender que o Estado é constituído com um propósito racional e por pessoas originalmente livres, e que portanto deve ter seu poder limitado às funções para as quais fora criado. E assim, Locke influenciou, direta ou indiretamente, todos os outros autores de todas essas listas que divulgamos aqui.
Onde encontrar: buscapé , ou em PDF .

A riqueza das nações (1776), de Adam Smith
Essa é a obra amplamente considerada como ponto inicial do estudo da economia como ciência social. Há registros de manifestações anteriores sobre o assunto, mas nenhum deles conseguiu desencadear uma discussão contínua como Adam Smith provocou e que dura até hoje.
Seu intuito inicial foi descobrir o que gerava riqueza (que deve ser entendida como prosperidade) a algumas nações, e não a outras. Smith percebeu que alguns países eram muito ricos em relação a outros, e não acreditava que essa diferença se dava ao acaso. Ao desenvolver essa investigação, passa por importantíssimos conceitos como a auto regulação dos mercados, formação de preços, divisão do trabalho, especialização da produção, acumulação de capital, importância das trocas (inclusive internacionais) e a conhecida ideia da mão invisível.
Seu intuito era tentar chegar a conclusões atemporais; ou seja, que não se aplicassem somente a seu contexto histórico específico. Claro que de lá para cá muito se evoluiu no conhecimento da ciência econômica, mas é surpreendente como muitas de suas lições permanecem atuais. E é também interessante descobrir as origens do que conhecemos hoje sobre economia.
Onde encontrar: buscapé .

O Federalista (1787-88), de Alexander Hamilton, James Madison, e John Jay
O projeto final da constituição norte-americana foi enviado ao Congresso da Confederação em setembro de 1787, que remeteu o texto para ratificação em cada estado com proposta de substituir os Artigos da Confederação em vigência na época. No estado de Nova York, houve intensa discussão nos meses que antecederam a votação entre aqueles que eram favoráveis à nova constituição e aqueles que se opunham a ela.
Nesse contexto, Alexander Hamilton decidiu escrever em jornais locais uma série de ensaios que defendiam a proposta. Junto com James Madison (que foi o principal idealizador da carta magna) e John Jay , publicou 85 ensaios que, todos juntos, foram mais tarde batizados de O Federalista. Esses ensaios são hoje considerados valiosa obra de ciência política. Falam sobre os perigos da ditadura da maioria, descentralização de poder, freios e contrapesos entre os diferentes poderes públicos, e muito mais.
A nova constituição, largamente influenciada pelas ideias de John Locke, foi aprovada por Nova York e por todos os demais estados, dando origem a enorme elevação na prosperidade dos habitantes locais. Esse sucesso só foi possível graças às ideias de liberdade individual contidas no documento, primorosa manifestação concreta do liberalismo clássico.
É muito difícil encontrar esses ensaios em português. A editora Nova Fronteira lançou edição em 1993, mas os exemplares não estão mais disponíveis em livrarias. Recomendamos, portanto, o sétimo e último capítulo do primeiro volume da obra organizada por Francisco Weffort, capítulo escrito por Fernando Papaterra Limongi e que trata desses ensaios – inclusive transcrevendo os principais deles. Recomendamos também procurar O Federalista em sebos, como a Estante Virtual.
Onde encontrar: buscapé , ou estante virtual (livros usados) .

A democracia na América (1835), de Alexis de Tocqueville
Em 1831, Alexis de Tocqueville foi enviado por seu governo em missão para os Estados Unidos. Por nove meses, o jovem francês viajou pelo país, analisando a cultura, a sociedade, a economia e a política local. Poucos anos depois, reuniu suas impressões naquele que viria a ser um dos grandes clássicos da política.
Tocqueville acreditava que o mundo passava para uma transição da aristocracia para a igualdade, e via na sociedade americana um exemplo mais bem-sucedido de democracia do que a França. Escreveu esperando que suas lições servissem para os franceses, que à época também formavam uma jovem república em transformação cultural.
O livro analisa possíveis ameaças à democracia, e possíveis perigos oriundos da própria democracia. O francês tinha grande estima tanto pela igualdade como pela liberdade, dois valores que devem ser perseguidos e depois protegidos. Mas também criticou os socialistas ao alertar sobre os perigos de uma paixão excessiva pela igualdade.
Onde encontrar: buscapé , ou em PDF .

A lei (1850), de Frédéric Bastiat
Durante sua curta vida (morreu aos 49 anos), o francês Frédéric Bastiat causou profunda influência no liberalismo econômico. Talvez tenha sido a maior inspiração para a Escola Austríaca de economia que viria algumas décadas à frente. Sua escrita é de estilo claro, persuasivo e provocativo, e serviu para expor os incuráveis vícios do protecionismo, do corporativismo e da coletivização da propriedade.
A lei é apenas a mais formidável de suas obras. Tudo o que ele escreveu merece ser lido, mas aqui está um bom começo. O livro fala principalmente sobre a relação entre propriedade e o Estado. O francês acredita que cada indivíduo naturalmente possui direito individual à sua vida, à sua liberdade e à sua propriedade; e que é função do Estado proteger esse direito. Quando o Estado usa sua força para retirar de um para dar para outro, ele estaria realizando “roubo legalizado”, o que incentivaria outras classes a fazerem o mesmo.
Bastiat também foi responsável por desenvolver o conceito de “custo de oportunidade”, segundo o qual cada opção de uma escolha deve ser comparada com sua melhor alternativa. Não devemos avaliar os benefícios de uma obra pública por seu impacto na vida das pessoas, por exemplo, mas em relação à situação em que esse mesmo dinheiro tivesse sido gasto de outra forma (outra obra, ou que o dinheiro não tivesse sido tirado das pessoas para começar). Esse raciocínio está melhor elaborado no ensaio O que é visto, e o que não é visto, e é também valiosa leitura.
Onde encontrar: na web (grátis) , edição IMB , ou kindle .