domingo, 7 de janeiro de 2018

A geração dos homens e mulheres fracos




Homens de 18 anos pilotavam caças spitfire para defender Londres, que era bombardeada por pilotos da Luftwaffe, de 19 anos.

Com a guerra milhões morreram e os que sobreviveram voltaram para casa e tiveram que trabalhar duro para reconstruir seus países, tiveram filhos e envelheceram.

Comiam o que tinha pra comer. 

Economizavam o que podiam e cuidavam de suas famílias.

Hoje a adolescência vai até os 35 anos.

Muitas crises.

Mundo cruel.

Muitas decisões.

Muita pressão.

Tudo o que fora construído, até hoje, está errado.

Caras de 30 anos tomam toddynho, fazem depilação, usam óleos especiais na barba - desenhada. Praticam Tai Chi Chuan ou treinam Muay Thay.

Não vestem couro, mas cânhamo.

Depois de uma semana árdua de trabalho, de 6 horas com 2 de almoço - digitando em teclados ergonômicos, ou projetando maçanetas menos estressantes para o mundo moderno, ou traduzindo poemas húngaros, ou atualizando blogs, reúnem-se com amigos, igualmente estressados em bares modernos - com ar condicionado, com mesas posicionadas segundo ‘feng chui’, ao som de gemidos de baleias ou de gaivotas imperiais de Vancouver ou de uma cachoeira de alguma serra que ninguém conhece.

Discutem problemas modernos. Para os quais têm todas as soluções. São delfins, gente que faltava para o mundo melhorar. Pena que chegaram tarde.

Pedem suflê de mandioquinha com alho poró, com traços de curry e framboesa selvagem - e harmonizam-na com caipirinha de aguardente de alecrim, com mixed de saquê e vinho crianza catalão, com adoçante natural destilado da casca da mini-jaca colombiana.

Finalizam com uma taça de café gourmet gelado (descafeinado, é claro), aromatizado com favas de baunilha de madagascar e raspas de limão siciliano - curtido no vapor de madeira verde (reciclada) da margem esquerda do rio Loire, cortada na primeira semana do outono.

O fim da night sarau de haicais nas ruínas de uma antiga fábrica ou em um terreno baldio, ou então a performance de algum grande diretor revolucionário desconhecido nu (por ser incompreendido e perseguido pela mídia/crítica burguesa pró-Temer e pró -Trump) que pinta o corpo de idosas igualmente nuas com tinta ecológica elaborada com pigmentos de terra trazida da Córsega, tendo ao fundo fotos - em preto e branco - de um fotógrafo cego - que não tem seu olhar moldado pelas convenções.

Chega em casa - liga a TV - coloca no canal alemão - embora não saiba sequer o presente do infinitivo do verbo Sein. Dorme com camiseta de campanha israelense (comprada de um turco numa viagem a Madrid) e meias pucket - uma de cada cor. Acorda de madrugada - toma água aromatizada, come meio polenguinho, e volta pra cama, mas não consegue dormir - indignado com a operação Lava Jato ou com a crise - orquestrada - na Venezuela.

Sofre, acorda com olheiras, toma um toddynho, pensa em chamar o Uber. Desiste, vai de bike. No caminho recebe a ligação da mãe. Chora e pede pra passar na casa dela depois do trabalho, pra comer peras e para que assistam juntos star trek.

Esse mundo é maravilhoso?

Um barão negro, seu palácio e seus 200 escravos

Um barão negro, seu palácio e seus 200 escravos

Família resgata memória de um dos homens mais ricos do Brasil Imperial e que ganhou título da princesa Isabel


 



 



POR 
RIO - Algumas páginas poderiam se desfazer em mãos descuidadas. São documentos guardados a sete chaves há mais de um século. Embora esmaecidas, as folhas mancham de tinta os dedos de quem as manuseia. “Aqui está a história da nossa família”, diz Mônica de Souza Destro, de 44 anos, na sala de sua casa, em Juiz de Fora. Ela tem muitas pastas empilhadas na sua frente, onde guarda fragmentos de uma história tão esquecida quanto fascinante.
Revirar esses papéis é voltar ao tempo do tataravô de Mônica, o mineiro Francisco Paulo de Almeida, um dos mais importantes barões do café do segundo reinado. Titulado como Barão de Guaraciaba pela própria princesa Isabel, acumulou um enorme patrimônio no Vale do Paraíba fluminense. Suas fazendas estendiam-se pelos estados do Rio e também de Minas Gerais, somando um vasto território estimado em 250 quilômetros quadrados — e uma fortuna de quase 700 mil contos de réis, coisa de bilionário. Mas um detalhe tornava o barão diferente dos outros nobres. Ele era negro em um país escravocrata. Reinou em um mundo dominado por brancos.
— Foi um gênio das finanças. Seu patrimônio era colossal, nem a queda do café o fez quebrar. As sedes de suas fazendas eram belíssimas, ele vivia no extremo luxo. Tinha investimentos diversificados, aplicava em ações, fundou bancos. Por isso se tornou um dos homens mais ricos de seu tempo — afirma o historiador José Carlos Vasconcelos, especialista no passado do Vale do Paraíba.
Poder. Aristocrata viveu até os 75 - Reprodução/Álbum de família
Mônica é a guardiã dos documentos históricos que reconstroem a história do barão. Com a ajuda de Vasconcelos, ela está montando a árvore genealógica de sua família. É um trabalho hercúleo. Em um software de genealogia instalado em seu computador, já cadastrou 580 nomes de parentes. A lista começa com os 15 filhos que o barão teve com a mulher, dona Brasília, e chega até Marina, de 10 anos, caçula de Mônica. Quem começou a organizar o arquivo da família foi seu avô, o engenheiro Antonio Augusto de Almeida e Souza. Até os 98 anos, idade em que morreu, cuidou com esmero de todas as fotos, inventários, testamentos e certidões de nascimento e óbito dos parentes. Cada filho e neto do barão possui uma minibiografia, escrita à mão por seu Antonio.
Embora fosse negro, o aristocrata estava longe de ser um abolicionista. Quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, tinha cerca de 200 escravos na fazenda Veneza, em Conservatória, onde possuía mais de 400 mil pés de café. Mesmo com a abolição, a maioria continuou trabalhando para o barão, e alguns foram incluídos no testamento — caso de Isabelinha, que trabalhava na sede da fazenda e ganhou, na divisão da herança, o mesmo valor em dinheiro que os filhos homens: quase 2.000 contos de réis.
Para desenvolver a árvore genealógica da família, Mônica, que trabalha como secretária em um consultório médico, foi atrás dos primos mais distantes. Conheceu diversos parentes de quem nunca ouvira falar, vários deles encontrados no Facebook — nem todos se interessaram em ajudá-la. Dos 13 filhos do barão, 12 casaram e aumentaram a família — a exceção é Serbelina, a primogênita, que só viveu até os 2 anos. Com a morte do patriarca, em 1901, em uma mansão no Catete — para onde se mudou após vender o Palácio Amarelo, em Petrópolis, à Câmara dos Vereadores —, sua família se espalhou por cidades do Rio e de Minas. A maioria dos descendentes não se parece mais nem de longe com o barão. Alguns, como Mônica, têm olhos claros — as filhas de Guaraciaba se casaram com portugueses, e os filhos, com mulheres brancas.
Lembranças. Mônica Destro, tataraneta do barão: olhos azuis entre descendentes - Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Familiares e historiadores acreditam que o barão tenha começado a vida como ouvires, especialista na confecção de abotoaduras de ouro. Também ganhava dinheiro tocando violino em enterros. Mas foi ao tornar-se tropeiro que ele teria lucrado o bastante para comprar sua primeira fazenda, em meados do século XIX.
O que ainda não se sabe sobre o barão, a tataraneta Mônica está tentando descobrir. Seu sonho é escrever um livro contando a saga do negro que conquistou o império.
— O ramo da minha família é um dos que possuem menos recursos. Mas a história está conosco. Para mim, é o que importa — afirma.


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