quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Do plano de saúde da PF à Fundação Palmares: o que daria para bancar com dinheiro atribuído a Geddel



Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)Do plano de saúde da PF à Fundação Palmares: o que daria para bancar com dinheiro atribuído a Geddel

Dinheiro apreendido pela PF em apartamento em BrasíliaDireito de imagemPOLICIA FEDERAL
Image captionOs R$ 51 milhões foram contabilizados por sete máquinas, ao longo de 12 horas de trabalho
Os R$ 51 milhões apreendidos pela Polícia Federal na terça-feira em Salvador (BA) dariam para custear várias ações do Governo Federal: um ano do programa de inclusão digital Cidades Digitais ou dois anos de funcionamento da Fundação Palmares, de promoção da cultura afro-brasileira.
Sete máquinas de contagem de cédulas e mais de 12 horas de trabalho foram necessárias para que a Polícia Federal pudesse contabilizar o valor em dinheiro vivo. O montante foi encontrado em um apartamento no bairro da Graça, área nobre de Salvador. Segundo os policiais, os maços de dinheiro (em reais e dólares) pertenciam ao ex-ministro dos governos Temer e Lula, Geddel Vieira Lima (PMDB). Ele nega ter relação com o dinheiro.
O apartamento pertence a um empresário baiano do ramo da construção civil. Ele disse nesta quarta-feira à Polícia Federal ter emprestado o local a Geddel. O objetivo seria que o ex-ministro pudesse guardar ali objetos que perteceram a seu pai, o também deputado Afrísio Vieira Lima (1929-2016).
Trata-se da maior apreensão de dinheiro vivo já feita pela Polícia Federal. A cifra é tão expressiva que entra na ordem de grandeza de algumas rubricas do Orçamento da União - o valor se equipara, por exemplo, à despesa de alguns órgãos de menor porte. É também quase duas vezes o orçamento de 2017 da Fundação Cultural Palmares (R$ 26 milhões).
O valor apreendido é maior até mesmo que o de certas rubricas da Polícia Federal: supera o dinheiro destinado em 2017 a pagar os planos de saúde e odontológicos dos servidores da PF (R$ 49,50 milhões). É mais também do que o quanto a corporação pretende gastar neste ano com o auxílio pago aos agentes que trabalham em áreas de fronteira: R$ 42,69 milhões.
A dinheirama atribuída a Geddel foi encontrada graças a uma informação privilegiada recebida por policiais federais em Brasília. A "dica" dizia que documentos relacionados a Geddel estavam guardados no apartamento.
Por isso, ainda não é possível dizer qual a origem do dinheiro (se lícita ou ilegal) ou se ele pertence realmente ao ex-ministro. Ele nega irregularidades. A ordem para a busca partiu do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal de 1ª Instância em Brasília.
O valor também faria diferença na área de Ciência e Tecnologia. Com os R$ 51 milhões seria possível manter durante mais de três anos o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas (SP). Em 2017, a unidade dispõe de R$ 14,8 milhões no Orçamento.
A cifra encontrada no apartamento da rua Barão de Loreto também é muito próxima do valor previsto no Orçamento para o programa Cidades Digitais (R$ 52,4 milhões) em 2017. O programa tem por objetivo levar o acesso à internet a localidades remotas do país. Órgãos públicos como escolas e postos de saúde ganham acesso à rede graças ao programa.

Padrão Lava Jato

O valor também é muito maior que os mencionados ao longo dos últimos meses de apurações na Lava Jato.
É mais de 102 vezes o valor (R$ 500 mil) que o ex-assessor da Presidência Rodrigo da Rocha Loures foi filmado recebendo em uma mala em São Paulo. O valor tinha sido entregue a Loures por Ricardo Saud, ex-diretor da JBS e hoje delator. Mais tarde, Loures entregou parte do valor em espécie (R$ 465 mil) à PF.
Os maços de notas encontrados no apartamento em Salvador também representam 63 vezes o valor que a publicitária Mônica Moura diz que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), transportou em um jatinho. O dinheiro seria destinado à campanha de 2012 de outro político petista, o ex-ministro Patrus Ananias.
Ambos negam irregularidades - Ananias diz que as doações para a campanha "foram recebidas das instâncias partidárias e que todas as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral" e Pimentel diz que os delatores "tentam se ver livres de suas responsabilidades por meio de mentiras desprovidas de qualquer elemento de prova".  

Polícia Federal encontra dinheiro em apartamento que seria utilizado por Geddel

Polícia Federal encontra dinheiro em apartamento que seria utilizado por Geddel

PF chegou a endereço em Salvador que seria utilizado pelo ex-ministro do governo Temer Geddel Vieira Lima.

 

Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)
Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)
Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)


Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)

A Polícia Federal encontrou, nesta terça-feira (5), uma grande quantidade de dinheiro em um apartamento que seria utilizado por Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), em Salvador.
A ação, chamada de Tesouro Perdido, é um desdobramento das investigações sobre fraudes na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal, a operação Cui Bono. Geddel foi vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco entre 2011 e 2013, durante o governo de Dilma Rousseff. No governo Temer, ele foi ministro da Secretaria de Governo (veja perfil completo mais abaixo).
A prisão de Geddel foi decretada em julho. No pedido à Justiça, o Ministério Público Federal afirmou que Geddel é "um criminoso em série" e que faz dos crimes financeiros e contra a administração pública "sua própria carreira profissional". O ex-ministro cumpre prisão domiciliar na Bahia.
As caixas e malas de dinheiro encontradas pela PF nesta terça estão em um imóvel que fica na Rua Barão de Loreto, no bairro da Graça, área nobre da capital baiana. O apartamento teria sido emprestado ao ex-ministro para que guardasse os pertences do seu pai, já falecido. Durante as investigações sobre Geddel, surgiu a suspeita de que ele estava usando o local para esconder provas de atos ilícitos e dinheiro em espécie.
PF encontra malas e caixas de dinheiro em apartamento que seria usado por Geddel na BA
Decisão da Justiça Federal que resultou em busca e apreensão no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Reprodução)Decisão da Justiça Federal que resultou em busca e apreensão no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Reprodução)
Decisão da Justiça Federal que resultou em busca e apreensão no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Reprodução)
A busca e apreensão no apartamento foi autorizada pela 10ª Vara Federal de Brasília. No mandado judicial, datado de 30 de agosto, consta que "há fundadas razões de que no supracitado imóvel existam elementos probatórios da prática dos crimes relacionados na manipulação de créditos e recursos realizadas na Caixa Econômica Federal".
Um morador do edifício disse ao G1 que viu quando os policiais federais chegaram entre 6h e 7h desta terça-feira. Eles se dirigiram ao segundo andar do prédio.
De acordo com a polícia, os valores apreendidos serão transportados a um banco, onde será contabilizado e depositado em conta judicial.
G1 entrou em contato com a defesa de Geddel Vieira Lima às 11h55. Por meio da assessoria, a informação é de que o advogado que representa o ex-ministro não podia falar com a reportagem no momento por estar participando de uma audiência em Brasília.
Dinheiro encontrado pela Polícia Federal (Foto: Polícia Federal)Dinheiro encontrado pela Polícia Federal (Foto: Polícia Federal)
Dinheiro encontrado pela Polícia Federal (Foto: Polícia Federal)
Prédio do apartamento supostamente usado por Geddel fica no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Alan Oliveira/G1)Prédio do apartamento supostamente usado por Geddel fica no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Alan Oliveira/G1)
Prédio do apartamento supostamente usado por Geddel fica no bairro da Graça, em Salvador (Foto: Alan Oliveira/G1)

Réu

Justiça Federal em Brasília aceitou, no final de agosto, denúncia da Procuradoria da República no Distrito Federal e transformou em réu o ex-ministro Geddel Vieira Lima por obstrução de justiça. Geddel foi denunciado após a Operação Cui Bono, por tentativa de atrapalhar as investigações sobre desvios no FI-FGTS, o fundo de investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
De acordo com o MPF, entre 2011 e 2013, Geddel agia para beneficiar empresas com liberações de créditos e fornecia informações privilegiadas para os outros membros da quadrilha que integrava. A denúncia foi aceita pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília.
Em nota divulgada após a decisão da Justiça, a defesa de Geddel afirmou que: "Rechaça com veemência as fantasiosas acusações contidas na denúncia, fruto de verdadeiro devaneio e excesso acusatório. Tão logo notificado pelo juízo da 10ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, será apresentada a peça de defesa, oportunidade que demonstrará a inocorrência de qualquer ilícito e a necessidade de rejeição da inepta e inverídica acusação."
Trecho da decisão que autorizou a PF a fazer busca e apreensão em endereço atribuído a Geddel Vieira Lima (Foto: Reprodução)Trecho da decisão que autorizou a PF a fazer busca e apreensão em endereço atribuído a Geddel Vieira Lima (Foto: Reprodução)
Trecho da decisão que autorizou a PF a fazer busca e apreensão em endereço atribuído a Geddel Vieira Lima (Foto: Reprodução)

A denúncia

Segundo a denúncia da procuradoria, após as tratativas do operador Lúcio Funaro para fechar um acordo de delação premiada, Geddel começou a atuar para atrapalhar as negociações. O político fez contatos telefônicos constantes com a esposa de Lúcio Funaro, Raquel Albejante Pita.
Ainda segundo o MP, as investidas de Geddel foram reveladas em depoimentos dados por Lúcio Funaro e a esposa e confirmadas por meio de perícia da PF no aparelho telefônico de Raquel Pita. Entre os dias 13 de maio e 1º de julho de 2017, foram 17 ligações.
Aos investigadores, o casal também revelou ter ficado com receio de sofrer intimidações e retaliações por parte de Geddel, uma vez que o político possuía influência e poder, inclusive no primeiro escalão do governo.
 (Foto: Editoria de Arte/G1) (Foto: Editoria de Arte/G1)
(Foto: Editoria de Arte/G1)

Perfil de Geddel

Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) deixou o cargo de ministro da Secretaria de Governo em novembro de 2016. Ele foi acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar uma obra na Ladeira da Barra, áre nobre de Salvador. Geddel era um dos principais responsáveis pela articulação política do governo Temer com deputados e senadores. Ele ficou no cargo por seis meses.
O peemedebista também foi ministro da Integração Nacional do governo Lula, entre 2007 e 2010, depois de ter sido crítico ferrenho do primeiro mandato do petista e defensor do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No ministério, encampou a transposição do Rio São Francisco, que prometeu efetivar em seu mandato.
Dinheiro foi encontrado em apartamento em Salvador (Foto: Polícia Federal)
Atuou como vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa entre 2011 e 2013, cargo do qual chegou a pedir exoneração pelo Twitter à então presidente Dilma Rousseff, pela possibilidade de concorrer nas eleições seguintes. Quem o convidou para o cargo foi Michel Temer. Foi derrotado por Otto Alencar (PSD) na eleição ao Senado.
Formado em administração de empresas pela Universidade de Brasília, é natural de Salvador, onde foi assessor da Casa Civil da Prefeitura entre 1988 e 1989. Em 1990, filiou-se ao PMDB, partido pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal.