Do plano de saúde da PF à Fundação Palmares: o que daria para bancar com dinheiro atribuído a Geddel
Os R$ 51 milhões apreendidos pela Polícia Federal na terça-feira em Salvador (BA) dariam para custear várias ações do Governo Federal: um ano do programa de inclusão digital Cidades Digitais ou dois anos de funcionamento da Fundação Palmares, de promoção da cultura afro-brasileira.
Sete máquinas de contagem de cédulas e mais de 12 horas de trabalho foram necessárias para que a Polícia Federal pudesse contabilizar o valor em dinheiro vivo. O montante foi encontrado em um apartamento no bairro da Graça, área nobre de Salvador. Segundo os policiais, os maços de dinheiro (em reais e dólares) pertenciam ao ex-ministro dos governos Temer e Lula, Geddel Vieira Lima (PMDB). Ele nega ter relação com o dinheiro.
O apartamento pertence a um empresário baiano do ramo da construção civil. Ele disse nesta quarta-feira à Polícia Federal ter emprestado o local a Geddel. O objetivo seria que o ex-ministro pudesse guardar ali objetos que perteceram a seu pai, o também deputado Afrísio Vieira Lima (1929-2016).
Trata-se da maior apreensão de dinheiro vivo já feita pela Polícia Federal. A cifra é tão expressiva que entra na ordem de grandeza de algumas rubricas do Orçamento da União - o valor se equipara, por exemplo, à despesa de alguns órgãos de menor porte. É também quase duas vezes o orçamento de 2017 da Fundação Cultural Palmares (R$ 26 milhões).
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O valor apreendido é maior até mesmo que o de certas rubricas da Polícia Federal: supera o dinheiro destinado em 2017 a pagar os planos de saúde e odontológicos dos servidores da PF (R$ 49,50 milhões). É mais também do que o quanto a corporação pretende gastar neste ano com o auxílio pago aos agentes que trabalham em áreas de fronteira: R$ 42,69 milhões.
A dinheirama atribuída a Geddel foi encontrada graças a uma informação privilegiada recebida por policiais federais em Brasília. A "dica" dizia que documentos relacionados a Geddel estavam guardados no apartamento.
Por isso, ainda não é possível dizer qual a origem do dinheiro (se lícita ou ilegal) ou se ele pertence realmente ao ex-ministro. Ele nega irregularidades. A ordem para a busca partiu do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal de 1ª Instância em Brasília.
O valor também faria diferença na área de Ciência e Tecnologia. Com os R$ 51 milhões seria possível manter durante mais de três anos o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas (SP). Em 2017, a unidade dispõe de R$ 14,8 milhões no Orçamento.
A cifra encontrada no apartamento da rua Barão de Loreto também é muito próxima do valor previsto no Orçamento para o programa Cidades Digitais (R$ 52,4 milhões) em 2017. O programa tem por objetivo levar o acesso à internet a localidades remotas do país. Órgãos públicos como escolas e postos de saúde ganham acesso à rede graças ao programa.
Padrão Lava Jato
O valor também é muito maior que os mencionados ao longo dos últimos meses de apurações na Lava Jato.
É mais de 102 vezes o valor (R$ 500 mil) que o ex-assessor da Presidência Rodrigo da Rocha Loures foi filmado recebendo em uma mala em São Paulo. O valor tinha sido entregue a Loures por Ricardo Saud, ex-diretor da JBS e hoje delator. Mais tarde, Loures entregou parte do valor em espécie (R$ 465 mil) à PF.
Os maços de notas encontrados no apartamento em Salvador também representam 63 vezes o valor que a publicitária Mônica Moura diz que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), transportou em um jatinho. O dinheiro seria destinado à campanha de 2012 de outro político petista, o ex-ministro Patrus Ananias.
Ambos negam irregularidades - Ananias diz que as doações para a campanha "foram recebidas das instâncias partidárias e que todas as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral" e Pimentel diz que os delatores "tentam se ver livres de suas responsabilidades por meio de mentiras desprovidas de qualquer elemento de prova".
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