Um dos motivos porque algumas pessoas veem o liberalismo econômico com certo ceticismo é a impressão que têm de que ele faria piorar a situação da população pobre. Pressupõe-se que é o Estado que garante a essas pessoas um mínimo de qualidade de vida, e que retirar essa muleta seria condená-los à inevitável miséria. Esse artigo investiga se essa impressão tem ou não respaldo na realidade.
Faremos isso comparando, para todas as 114 economias para as quais há dados disponíveis, seu grau de liberdade econômica e o padrão de vida de sua população mais pobre. Se a suposição acima for verdadeira, encontraremos uma relação negativa entre essas duas medidas. Do contrário, ela será positiva (podendo, é claro, ainda ser neutra ou inconclusiva).
Já fizemos essa comparação em outro artigo com dados de 2013, mas como os dados de 2014 já estão disponíveis para muitos países, queremos aproveitar para revalidar nossa análise — agora com uma novidade.
Há mais de vinte anos a The Heritage Foundation analisa mais de cem economias ao redor do mundo e atribui a cada uma, com base em dez critérios diferentes, seu índice de liberdade econômica . A fundação considera que uma economia é mais livre na medida em que:
  • mais bem definidos forem os direitos de propriedade;
  • menor for a percepção de corrupção da população;
  • menos o governo arrecadar em impostos;
  • menos o governo gastar;
  • menor forem as burocracias exigidas para se ter negócios;
  • mais livres de regulação forem as relações trabalhistas;
  • mais estável for a moeda;
  • menor forem as barreiras à entrada de importados;
  • menor forem as restrições a investimentos produtivos; e
  • menor for a atuação do governo no mercado financeiro.
Para nosso estudo, o índice atribuído a cada economia será seu grau de liberdade. Recomenda-se fortemente ao leitor conhecer a metodologia empregada pela fundação na elaboração dos índices, bem como o relatório anual que os acompanha.
Para o padrão de vida da população, usaremos a renda média dos 10% mais pobres de cada economia, renda essa ajustada pelo poder de compra no país ou território. Ou seja, estamos falando de o quanto de alimentos, vestuário, moradia, energia elétrica, etc… consegue, em média, comprar um habitante que está no décimo mais pobre da população de cada economia. Esses dados vêm doBanco Mundial e estão expressos em dólares de 2014.
Colocamos tudo isso no slideshow de gráficos abaixo. Cada ponto é um país ou território; quanto mais pra direita, maior sua liberdade econômica; e quanto mais para cima, maior o poder de compra de sua população mais pobre.
Em verde está a linha reta de menor distância total a todos os pontos, e é usada para mostrar se eles estão revelando uma relação direta ou inversa entre as variáveis. Como nota-se facilmente, trata-se de uma relação direta.
Não só no mundo como um todo, mas também dentro de grupos de economias com afinidade histórica, econômica ou geográfica, a liberdade econômica sempre eleva o poder de compra da população mais pobre. Essa é uma constatação importantíssima porque, como dito no início, muita gente se afasta do liberalismo por acreditar o contrário.
Vamos agora refazer o gráfico, dessa vez colocando no eixo vertical a migração líquida (ou seja, número de imigrantes que entram menos os emigrantes que saem) de cada país ou território, dividida por sua população total.
A ideia é simples: economias prósperas atraem novos moradores em busca de condições melhores. Queremos saber se as economias que recebem novos moradores são mais ou menos livres do que aquelas que os perdem. Esses dados foram obtidos também do Banco Mundial, mas são de 2012 — último ano disponível.
Essa relação também é positiva, apesar de menos claramente do que em alguns dos gráficos anteriores. É evidente que há outros fatores que interferem nas migrações, como controles de imigração , guerras e conflitos armados (reparem quanto a Jordânia está recebendo de imigrantes/refugiados dos países vizinhos), barreiras físicas (a economia mais livre da África, por exemplo, é um pequeno arquipélago que fica a centenas de quilômetros de Madagascar, e mais longe ainda do continente), etc…
Mas a despeito de tudo isso, nota-se uma relação inegavelmente positiva entre as duas variáveis estudadas. A média do índice de liberdade econômica entre os países que receberam mais do que enviaram migrantes é de 65,8; entre os que enviaram mais do que receberam é de apenas 57,5. Todas as onze economias mais livres tiveram fluxo positivo ou considerado zero, enquanto que dezesseis das dezoito menos livres tiveram fluxo negativo.
A primeira análise nos diz que as pessoas de baixa renda têm melhor padrão de vida em economias mais livres, e a segunda nos diz que é exatamente isso que elas querem. Afinal, ninguém abandona amigos e família para ir viver em um país estranho sem haver um bom motivo para isso.
E há: liberdade.