quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Podemos marcar 3 grandes estereótipos sobre tradições religiosas.

Podemos marcar 3 grandes estereótipos sobre tradições religiosas.
O fundamentalista: “Minha tradição religiosa diz tudo que precisamos saber.”
Em geral é a posição de religiosos sectaristas, que acham que tudo o que é de mais importante já foi tratado pelo seu profeta, livro sagrado, guru ou outra coisa do gênero. Então ele tenta encaixar dilemas contemporâneos da nossa sociedade com versículos da Bíblia, sutras budistas ou a alguma pergunta do quizz “Livro dos Espíritos”. O sectarismo leva a defender o indefensável ou a fazer malabarismos hermenêuticos para alegar que sua religião não defendeu escravidão, superioridade racial e subserviência da mulher quando é evidente que o fez.
O cientificista: “Nenhuma tradição religiosa diz algo que interesse”.
O cientificista tem uma posição de que as religiões são apenas um conjunto de superstições e preconceitos a respeito do mundo, completamente obsoletas e descartáveis quanto ao seu conteúdo. Não é só que uma questão de defender que o método científico tenha valor superior, mas também de descartar qualquer valor do que não se valha desse método.
O new age: “Todas as tradições estão certas ao mesmo tempo”
O new age é intelectualmente preguiçoso, aliás é um anti-intelectual. Ele escolhe crenças e práticas como quem monta um prato no buffet de um restaurante a quilo. “Um pouco de sushi... hummm hoje é dia rabada (!), adoro arroz piamontese e essa moqueca de camarão está com um cara ótima, uma farofinha esperta e queijo ralado por cima.” No buffet das tradições ele faz o mesmo: um pouco de yoga, uma pitada de koans, 3 pedras de ametista, uma colher de chá de ho'oponopono, chi concentrado, duas medidas de ayahuasca, aquece em um elemental do fogo mas mantém misturando em um giro sufi. Ao contrário do cientificista e do fundamentalista, o new age não busca coerência interna. Tudo é válido, basta que o sabor lhe agrade.
*Não é razoável crer que ícones de séculos atrás atendam plenamente as nossas demandas atuais, considerados nosso conhecimento vigente sobre o mundo e também as constantes mudanças sociais.
*Não é razoável crer que nenhuma das centenas pessoas que gastaram suas vidas com contemplação e reflexão, mesmo que a séculos a atrás, não tenham nada a contribuir com nossas demandas atuais.
*Não é razoável assumir que misturar dezenas de crenças mutuamente excludentes entre si sem critério algum vá contribuir com algo além de gerar confusão.
Sendo assim, emerge o que Maria Orbi chama de paradigma pos-religional:
<<o novo paradigma [pós-religional] não poderá estar submetido a nenhum sistema de «crenças», nem religioso, nem laico. Poderíamos dizer que é um paradigma «não crente». As sociedades que precisam mudar continuamente suas interpretações da realidade, por causa da contínua transformação de nossos conhecimentos científicos em todos os âmbitos da vida humana; que vivem da contínua criação tecnológica que altera constantemente nossos modos de vida, de trabalho, de organização e, por conseguinte, nossos sistemas de coesão e de finalidades: não podem ser crentes, porque as crenças fixam e as novas sociedades sobrevivem mobilizando todos os parâmetros de suas vidas. >>
<<“o novo paradigma deve possibilitar que herdemos toda a sabedoria das religiões e tradições espirituais de nossos antepassados de toda a humanidade, sem que isso implique em nos tornar crentes, religiosos e submissos”>>
A sociedade nunca mudou tanto tão rapidamente e temos questões que nunca foram enfrentadas na história da humanidade. Inteligência artificial, engenharia genética, interface cérebro-máquina, redes sociais virtuais, colonização de outros planetas...
Montar um arcabouço consistente de autodesenvolvimento para enfrentar o século XXI é o desafio de sabedoria do nosso tempo, desafio esse que tem sido encarado de maneira muito leviana ou terceirizado ao padre, pastor, monge ou guru.

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