domingo, 15 de outubro de 2017

“Aluno Inteligente” de Stephen King e a atração doentia pelo nazismo

“Aluno Inteligente” de Stephen King e a atração doentia pelo nazismo

Trabalhando como professor de história, enfrento diariamente o desafio de despertar interesse pelo passado em crianças e jovens que consideram a matéria inútil. Já perdi a conta das vezes em que ouvi deles as reclamações de que saber aquelas coisas velhas não lhes serve para nada e não terá serventia alguma em suas carreiras futuras.
Meu trabalho, basicamente, consiste em fornecer uma roupagem interessante aos acontecimentos – mesmo aos que eu próprio considero chatíssimos – de modo a fazê-los se interessar. É uma tarefa que exige criatividade, disposição e muita, muita, muita paciência.
Ademais, há temas que nós professores de história não precisamos “sambar” para atrair nosso quórum. O tema traz em seu bojo a atração.
Em história antiga, por exemplo, o que mais suscita a atenção é falar sobre o Egito, os mitos, deuses, pirâmides, tumbas, múmias… A molecada fica babando. Em Grécia, Roma, Feudalismo, Renascimento, Revolução Industrial há alguns picos de interesse, mas a maior parte do tempo temos que tirar o coelho da cartola para interessá-los.
Ademais, nada coloca a plateia tão ansiosa quanto a II Guerra Mundial. Mais precisamente, Hitler e o Nazismo.
É incrível. Mesmo aquele aluno que só vem para dormir, ou aquele outro, que o cachorro, o gato, o papagaio, a codorna e a tartaruga de estimação lhe comem todos os trabalhos, chegam não somente ansiosos, mas também com algum conhecimento prévio sobre o assunto.
O nazismo mexe com o lado mais sombrio da natureza humana. Não há como negar. Se você tiver um pacote de tv por assinatura com canais específicos de história, curiosidades e etc, verá que é exibido algum documentário especial sobre Hitler, nazismo, nazistas, neonazismo, suástica, campos de concentração ou temas correlatos praticamente todos os dias. E é claro que essa oferta acontece por haver uma demanda. Sei que os colegas de História gostam de repetir em seus saraus esquerdosos que seus alunos estão ultrainteressados na Revolução Cubana ou que a turma está exultante porque vão assistir um documentário sobre Marx, mas a verdade é que só o nazismo consegue fazer essa mágica.
Não há motivo para insistir em negação politicamente correta: as pessoas têm curiosidade pelo que aconteceu lá. Não apenas a experiência dos professores de História e a programação do History Channel provam isso, mas também a observação de uma banca de revistas aleatória que você escolher. Aposto que haverá mais de um título com algum dos assuntos correlatos ao nazismo que citei acima, estampado na capa, no marketing mais chamativo possível.
Stephen King, que dedicou sua carreira literária a espreitar os monstros – reais e imaginários – que assolam os pensamentos humanos, escreveu uma novela sobre esta fascinação. Está no livro Quatro Estações, publicado em 1982, bem acompanhado de outras 3 histórias esplêndidas, correspondendo cada uma a uma estação do ano. A história “Aluno Inteligente” representa o verão.
O Verão da Corrupção.
Você pode não ter lido ou nunca sequer ter ouvido falar no livro Quatro Estações, mas se tiver a minha faixa de idade – casa dos trinta – deve conhecer ao menos uma das histórias desta excelente coletânea.
Talvez você já tenha dedicado duas horas de sua vida a um filme chamado Um Sonho de Liberdade, com Tim Robbins e Morgan Freeman, sobre um banqueiro que vai preso pelo assassinato da esposa, sem nunca se conformar com o resultado desta condenação.
Um Sonho de Liberdade foi escolhido o melhor filme de todos os tempos pelo portal IMDB, o principal portal de cinema do mundo, por voto popular, à frente de, nada mais, nada menos, O Poderoso Chefão.
Não votei, mas concordo com a escolha. É o melhor filme que já vi.
Se você conhece Um Sonho de Liberdade, conhece outra novela do livro Quatro Estações, a saber: Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank. É a história em que o filme dirigido por Frank Darabont se baseou.
Ok. Não conhece Um sonho de Liberdade? Você ainda tem mais uma chance.
O filme Conta Comigo, de muitas e muitas reprises na Sessão da Tarde, em que um grupo de amigos se embrenha na mata para tentar achar um menino desaparecido.
Muitos da minha geração têm um carinho especial por este filme. Aborda como poucos o que é ser criança e o que é crescer… e o fato de que é num instantinho que essa mudança acontece. Conta Comigo é baseado na novela O Corpo do livro Quatro Estações.
A própria Aluno Inteligente ganhou adaptação cinematográfica. Um filme de 1997, chamado O Aprendiz, que não é ruim, mas fica abaixo dos outros mencionados e não consegue transpor para a tela a dimensão da história de King.
Falta falar da história em si, eu sei. Falei de professores de história, de nazismo, de outros filmes… mas você que caiu aqui esperando uma análise ou resenha da história já deve estar estressado. Ela vêm, mas num próximo post… Este se alongou demais. O dinamismo da internet me obriga a fracioná-lo, mas não se preocupe, assine nossa Newsletter e você receberá a continuação em seu email. E outros artigos também. Quem sabe você não lê outras coisas e acaba gostando e ficando de vez!
Por Renan Alves da Cruz 

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