Essas pessoas estão erradas e provavelmente não entendem como as coisas acontecem.
Ateus muitas vezes se tornam tais justamente por entender tais coisas.
Porém o crer em Deus está muito longe de ser uma ignorância como alguns ateus apregoam por aí.
Temos também evidências para crer em uma divindade.
Achei este assunto muito bem elaborado no site que segue.
Leiam :
William Lane Craig - parte 5 - O Argumento Teleológico do “Ajuste Fino” |
DEFESA DA FÉ |
4. O Argumento Teleológico do “Ajuste Fino”
Chegamos
agora ao argumento teleológico, ou o argumento para o design. Embora os
defensores do chamado movimento Design Inteligente têm continuado a
tradição de focar em exemplos de design em sistemas biológicos, o ponto
de corte da discussão contemporânea se concentra no extraordinário
ajuste fino do cosmo para a existência de vida.
Antes
de discutirmos este argumento, é importante entender que por “finamente
ajustado”, ninguém não está querendo dizer “projetado” (do contrário o
argumento seria obviamente circular). Na verdade, durante os últimos
cinquenta anos os cientistas têm descoberto que a existência de vida
inteligente depende de um equilíbrio complexo e delicado das condições
iniciais simplesmente dadas no próprio Big Bang. Este equilíbrio é
conhecido como “ajuste fino” do universo.
O
ajuste fino é de dois tipos. Primeiro, quando as leis da natureza são
expressas como equações matemáticas você encontrará nelas certas
constantes, como a constante que representa a força da gravidade. Estas
constantes não são determinadas pelas leis da natureza. As leis da
natureza são consistentes com uma ampla gama de valores para estas
constantes. Segundo, em adição a estas constantes, existem certas
quantidades arbitrárias colocadas como condições iniciais sobre as quais
as leis da natureza operam, por exemplo, a quantidade de entropia ou o
equilíbrio entre matéria e antimatéria no universo. Agora, todas estas
constantes e quantidades arbitrárias se encaixam em uma extraordinária
faixa estreita de valores que permitem a existência de vida. Se estas
constantes ou quantidades fossem alteradas em menos do que a largura de
um fio de cabelo, o equilíbrio que permite a existência de vida seria
destruído e nenhum organismo de qualquer espécie poderia existir.[24]
Por
exemplo, uma mudança no vigor da força atômica de uma parte em 10(100)
teria impedido a existência de vida no universo. A constante cosmológica
que conduz a inflação do universo e que é responsável pela recente
descoberta aceleração da expansão do universo é inexplicavelmente
ajustada para cerca de uma parte em 10(120). Roger Penrose da
Universidade de Oxford calculou que as excentricidades da condição de
baixa entropia do Big Bang serem por mero acaso são da ordem de uma
parte em 10(10)(123). Penrose comenta, “Eu não consigo me lembrar de
qualquer outra coisa na física cuja exatidão se aproxime, mesmo que
remotamente, de uma parte em 10(10)(123)”[25]. E não se trata de apenas
uma constante ou quantidade arbitrária ser requintadamente ajustada para
dado valor; as relações das constantes e quantidades umas com as outras
precisam de igual modo ser finamente ajustadas. Assim, improbabilidade é
multiplicada por improbabilidade até que nossas mentes se percam em
números tão incompreensíveis.
Assim,
quando os cientistas dizem que o universo é “finamente ajustado” para a
existência de vida, eles não querem dizer que ele foi “projetado”; eles
querem dizer que pequenos desvios dos valores reais das constantes e
quantidades arbitrárias da natureza proibiriam o universo de abrigar
vida ou, alternativamente, que a série de valores que permitem vida ao
universo é incompreensivelmente estreita em comparação com a quantidade
de valores que poderiam ser assumidos. O próprio Dawkins, citando o
trabalho do astrônomo real Sir Martin Rees, reconhece que o universo
exibe este extraordinário ajuste fino.
Então, aqui está uma formulação simples do argumento teleológico baseado no ajuste fino do universo:
1. O ajuste fino do universo se deve a necessidade física, acaso ou design.
2. Não se deve a necessidade física ou acaso.
3. Logo, o ajuste se deve a design.
4.1. Premissa 1
A
premissa 1 simplesmente lista as três possibilidades para explicar a
presença deste incrível ajuste fino no universo: necessidade física,
acaso ou design. A primeira alternativa defende que exista alguma
“Teoria do Tudo” ainda desconhecida que explicaria a maneira pela qual o
universo é. Ele tinha que ser desta forma, e não havia a menor
possibilidade do universo não ser como ele é, permitindo a existência de
vida. Em contraste, a segunda alternativa estabelece que o fino ajuste
se deve inteiramente ao acaso. Trata-se apenas de um acidente o fato do
universo permitir a existência de vida, e nós somos os sortudos
beneficiários deste acidente. A terceira opção rejeita ambas afirmações
anteriores em favor de uma Mente inteligente detrás do cosmo, que
projetou o universo para que ele permitisse a existência de vida. A
questão é: qual destas alternativas é a melhor explicação?
4.2. Premissa 2
A
premissa 2 do argumento responde a esta questão. Considere as três
alternativas. A primeira, necessidade física, é extremamente implausível
porque, como vimos, as constantes e as quantidades são independentes
das leis da natureza. Assim, por exemplo, a candidata mais promissora à
Teoria do Tudo até o momento, a Teoria das Super Cordas ou Teoria M,
falha em predizer a singularidade do nosso universo. A Teoria das Cordas
permite uma “paisagem cósmica” de cerca de 10(500) universos diferentes
possíveis governados pelas presentes leis da natureza, assim, nada faz
para atribuir necessidade física aos valores e constantes observados.
Com respeito a esta primeira alternativa, Dawkins observa que Sir Martin
Rees rejeita esta explicação, e Dawkins diz, “acho que concordo com
eles [os que rejeitam esta explicação]”[26].
Sendo
assim o que podemos dizer da segunda alternativa, de que o ajuste fino
do universo se deve ao acaso? O problema com esta alternativa é que os
pontos contra a possibilidade do universo permitir vida são tão
incompreensivelmente grandes que não podem ser encarados racionalmente.
Mesmo que existisse um grande número de universos dentro da paisagem
cósmica, mesmo assim o número de mundos que permitiriam a existência de
vida seria incomensuravelmente pequeno se comparado à paisagem completa,
assim, a existência de um universo que permite a existência de vida é
fantasticamente improvável. Estudantes ou leigos que alegremente
declaram, “Isto poderia ter ocorrido pelo acaso!” simplesmente não tem
idéia da precisão fantástica dos requisitos de ajuste fino para a
existência de vida. Eles nunca abraçariam tal hipótese em qualquer outra
área de suas vidas – por exemplo, como um carro apareceu em sua garagem
da noite para o dia.
4.3. A Defesa do Acaso por Dawkins
A fim
de resgatar a alternativa do acaso, seus proponentes têm sido forçados a
adotar a hipótese de que existe um número infinito de universos
aleatórios compondo um tipo de conjunto de mundos, ou multiverso, do
qual o nosso universo é apenas uma parte. Em algum lugar neste conjunto
de mundos, universos finamente ajustados para a existência de vida vão
aparecer pelo mero acaso, e aconteceu de nós estarmos em um destes
mundos. Esta é a explicação que Dawkins considera mais plausível[27].
4.3.1. Um Multiverso é “Não-Parcimonioso”?
Aqui
Dawkins é bem sensível em definir a postulação de vários universos
existindo como bolhas de sabão, como ele tão gentilmente colocou, um
“luxo extravagante”. Mas ele replica, “O multiverso pode parecer
extravagante no mero número de universos. Mas, se cada um desses
universos for simples em suas leis fundamentais, não estamos postulando
nada de muito improvável”.[28]
Esta
resposta é multiplamente confusa. Primeiro, cada universo do multiverso
não é simples, mas caracterizado por uma multiplicidade de constantes e
quantidades independentes. Se cada universo fosse simples, então porque
Dawkins sentiria a necessidade de recorrer à hipótese do multiverso em
primeiro lugar? Além disto, não se trata da simplicidade das leis
fundamentais, porque todos os universos no conjunto de mundos são
caracterizados pelas mesmas leis – eles diferem entre si nos valores das
constantes e de suas quantidades.
Segundo,
Dawkins assume que a simplicidade do todo é uma função da simplicidade
das partes. Obviamente isto é um erro. Um mosaico complexo de uma face
romana, por exemplo, é construído por um grande número de peças
individualmente simples e monocromáticas. Da mesma forma, um conjunto de
universos simples continuaria sendo complexo se estes universos
variassem nos valores de suas constantes e quantidades, além de todos
compartilharem dos mesmos valores.
Terceiro,
a Navalha de Ockham nos fala que não devemos multiplicar entidades
explicativas além do necessário, mas o número de universos que estão
sendo postulados apenas para explicar o ajuste fino do nosso universo é
algo extraordinariamente extravagante. Apelar para o multiverso ao
explicar a aparência de design do nosso universo é como utilizar uma
marreta para quebrar a casca de um amendoim!
Quarto,
Dawkins tenta minimizar a extravagância do multiverso afirmando que a
despeito dele ter um número extravagante de entidades, tal multiverso
não é altamente improvável. Não está claro onde esta resposta se torna
relevante ou até mesmo o que ela significa. Pois a objeção que esta
sendo considerada não é que o multiverso seja improvável, mas que ele é
extravagante e não-parcimonioso. Dizer que o multiverso não é altamente
improvável é falhar em comentar a real objeção. E mais, é difícil saber
sobre qual probabilidade Dawkins está falando aqui. Parece que ele está
falando sobre a probabilidade intrínseca do multiverso, considerada
aparte da evidência do ajuste fino. Mas como tal probabilidade pode ser
determinada? Pela simplicidade? Mas o problema é que Dawkins não nos
mostrou como a hipótese de um conjunto de universos existir possa ser
simples.
4.3.2. A Sugestão de Dawkins Sobre um Mecanismo que Gerasse Universos
O que
Dawkins parece dizer, ao que me parece, é que o multiverso pode ser
simples se existir um mecanismo simples que através de um processo
repetitivo gerasse muitos universos. Desta forma o gigantesco número de
entidades postuladas não seria um ônus à teoria porque todas as
entidades surgiram de um mecanismo simples e fundamental.
Um Modelo Oscilante do Universo
Assim
sendo, que mecanismo Dawkins sugere para que se explique o surgimento de
um conjunto ordenado, infinito e aleatório de universos. Primeiro, ele
sugere um modelo oscilante de universo, no qual
nosso
tempo e espaço realmente começaram no nosso big bang, mas foi apenas o
mais recente numa longa série de big bangs, cada um iniciado pelo big
crunch que encerrou o universo anterior da série. Ninguém entende o que
acontece em singularidades como o big bang, portanto é concebível que as
leis e as constantes sejam zeradas e tenham novos valores a cada vez.
Se os ciclos de bang-expansão-contração-crunch vêm acontecendo deste
sempre, como num acordeão cósmico, temos uma versão seriada, e não
paralela, de multiverso.[29]
Aparentemente
Dawkins não está ciente das muitas dificuldades dos modelos
oscilatórios de universo, que têm tornado os cosmólogos contemporâneos
céticos em relação a eles. Nos anos 60 e 70, alguns teóricos propuseram
modelos de oscilação para o universo em uma tentativa de evitar a
singularidade inicial predita pelo modelo padrão. Os prospectos de tais
modelos, entretanto, foram severamente esmaecidos em 1970 pela
formulação de Stephen Hawkins e Roger Penrose dos teoremas da
singularidade, que levaram seus nomes. Os teoremas mostraram que em
condições bem gerais, uma singularidade cósmica inicial é inevitável.
Uma vez que é impossível estender o espaço-tempo da singularidade para o
estado anterior, o teorema Hawking-Penrose da singularidade implica o
início absoluto do universo. Refletindo no impacto desta descoberta,
Hawking observa que o teorema Hawking-Penrose da singularidade “nos leva
a abandonar as tentativas (principalmente dos russos) de argumentar que
houve uma fase anterior de contração e um ressalto não-singular para a
expansão. Digo isto embora quase todo mundo acredite atualmente que o
universo e o próprio tempo tiveram um começo no big bang”.[30] Dawkins
aparentemente trabalha sobre a ilusão de que a singularidade não
estabelece um limite para espaço e tempo.
Além
disto, a evidência da astronomia observacional tem estado constantemente
contrária a hipótese de que o universo irá algum dia se recontrair em
um Big Chunch. As tentativas de descobrir a massa densa o suficiente
para gerar a atração gravitacional requerida para parar e reverter a
expansão de forma continua começaram recentemente. Na verdade, as
observações recentes de supernovas indicam que – longe de diminuir sua
velocidade – a expansão cósmica esta na verdade se acelerando! Existe
alguma espécie de “energia negra” misteriosa na forma de campo de
energia variável (chamada “quintessência”) ou, mais provavelmente, a
constante cosmológica positiva ou a energia do vácuo tem feito com que a
expansão acontecesse mais rapidamente. Se a energia negra indica a
existência de uma constante cosmológica positiva (como a evidência tem
cada vez mais sugerido), então o universo vai expandir para sempre. De
acordo com o site da NASA para o Wilkinson Microwave Anisotropy Probe,
“Pois a teoria que se encaixa nos nossos dados é que o universo vai se
expandir para sempre”.[31]
Além do
mais, a parte de todas as dificuldades físicas que confrontam os
modelos oscilatórios, as propriedades termodinâmicas de tais modelos
implicam o início absoluto do universo que seus proponentes tentam
evitar. Pois a entropia é conservada de círculo a círculo nestes
modelos, onde possui o efeito de gerar oscilações maiores com cada
círculo sucessivo. Como um time de cientistas explica, “O efeito da
produção de entropia será de forma a alargar a escala cósmica, de
círculo a círculo. [...] Assim, pesquisando de volta no tempo, cada
círculo geraria menos entropia, teria um círculo de tempo menor, e teria
um menor fator de expansão do que o círculo que seguiu a ele”.[32]
Assim, ao traçar as oscilações de volta no tempo, elas ficarão cada vez
menores até alcançar uma oscilação primeira e ínfima. Zeldovich e
Novikov então concluem, “O modelo do multicírculo possui um futuro
infinito, mas um passado finito”.[33] Na verdade, o astrônomo Joseph
Silk estima com base nos atuais níveis de entropia que o universo não
pode ter tido mais de 100 oscilações anteriores[34]. Isto está longe do
necessário para gerar o tipo de multiverso serial imaginado por Dawkins.
Finalmente,
mesmo se o universo pudesse ter oscilado de um passado eterno, tal
universo requereria um ajuste fino infinito de suas condições iniciais a
fim de que ele continuasse existindo após infinitos números de
ressaltos sucessivos. Assim, o mecanismo que Dawkins sonha que pudesse
gerar seus muitos mundos não é simples, mas o oposto. Além disto, tal
universo envolve um ajuste fino de um tipo bastante bizarro, uma vez que
suas condições iniciais devem ser ajustadas nas ínfimas partes. Mas
como isto pode ser possível se não houve um começo algum?
Voltando para a discussão dos modelos oscilatórios do universo, o cosmólogo quântico Christopher Isham medita,
Talvez o
melhor argumento a favor da tese de que o Big Bang suporta o teísmo é o
claro desconforto com o que ele é recebido por alguns físicos ateus. Às
vezes ela gerou idéias científicas, como a criação contínua ou um
universo oscilatório, sendo avançadas com uma tenacidade que excede
tanto seus valores intrínsecos que se pode apenas suspeitar da operação
de forças psicológicas repousando bem mais profundamente do que o usual
desejo acadêmico de um teorista em defender sua teoria.[35]
No caso de Dawkins não é difícil discernir estas forças psicológicas trabalhando.
A Cosmologia Evolucionária de Lee Smolin
O
Segundo mecanismo sugerido por Dawkins para a geração do multiverso é a
cosmologia evolucionária de Lee Smolin. Smolin imagina um cenário,
Dawkins explica, de acordo com o qual
universos-filhos
nascem de universos pais, não num big crunch completo, mas de modo mais
local, em buracos negros. Smolin acrescenta uma forma de
hereditariedade: as constantes fundamentais de um universo-filho são
versões ligeiramente “mutadas” das constantes de seu progenitor... Os
universos que têm o necessário para “sobreviver” e “reproduzir-se”
acabam predominando no multiverso. O “necessário” inclui durar tempo
suficiente para se “reproduzir”. Como o ato da reprodução acontece nos
buracos negros, os universos bem-sucedidos precisam ter o necessário
para criar buracos negros. Essa capacidade exige várias outras
propriedades. Por exemplo, a tendência da matéria de se condensar em
nuvens e depois em estrelas é um pré-requisito para produzir buracos
negros. As estrelas… são precursoras do desenvolvimento de uma química
interessante, e portanto da vida. Assim, sugere Smolin, houve uma
seleção natural darwiniana de universos no multiverso, favorecendo
diretamente a evolução da fecundidade nos buracos negros e indiretamente
a produção de vida.[36]
Dawkins
reconhece que “nem todos os físicos” estão entusiasmados com o cenário
proposto por Smolin. Eufemismo! O cenário de Smolin, a parte de ele ser
ad hoc e por se sustentar em conjecturas que já foram descartadas pela
ciência, encontra dificuldades insuperáveis.
Primeiro,
uma falha fatal no cenário de Smolin é sua pressuposição de que
universos ajustados para produção de buracos negros seriam também
ajustados para a produção de estrelas estáveis. Na verdade, o exato
oposto é verdadeiro: os mais eficientes geradores de buracos negros
seriam os universos que gerassem buracos negros primordiais antes da
formação das estrelas, sendo assim universos que pudessem gerar vida
seriam capinados pelo cenário cosmológico evolucionário de Smolin. Sendo
assim, segue que o cenário de Smolin na verdade tornaria ainda mais
improvável a existência de um universo que pudesse gerar vida.
Segundo,
especulações sobre universos carregando “bebês universos” via buracos
negros contradizem o conhecimento estabelecido da física quântica. A
conjectura de que buracos negros podem ser portais de wormholes[37]
através dos quais bolhas de energia de falso vácuo podem atravessar para
criar novos bebês universos foi o assunto de uma aposta entre Stephen
Hawking e John Preskill. Em 2004 Hawking finalmente admitiu, em um
evento muito comentando pela imprensa, que ele perdeu.[38] A conjectura
exige que a informação trancada em um buraco negro se perdesse
completamente e para sempre ao escapar para outro universo. Hawking
finalmente veio a concordar que a teoria quântica exige que a informação
seja preservada na formação e evaporação de um buraco negro. As
implicações? “Não existe universo bebê se ramificando, como eu pensava. A
informação permanece firmemente em nosso universo. Sinto muito em
desapontar os fãs de ficção científica, mas se a informação é
preservada, não existe possibilidade de usar buracos negros para viajar
para outros universos”.[39] Isto significa que o cenário de Smolin é
fisicamente impossível.
Estes
foram os únicos mecanismos sugeridos por Dawkins para a geração de
universos ordenados e aleatórios. Nenhum deles é sequer defensável,
muito menos simples. Dawkins, portanto, falhou ao devolver a objeção de
que a postulação de multiversos ordenados e aleatórios é um “luxo
extravagante”.
4.3.3. Outras Objeções ao Multiverso
Mas
existem ainda objeções formidáveis para a inferência do multiverso,
aparentemente desconhecidas a Dawkins. Primeiro, não há nenhuma
evidência independente de que o multiverso exista, muito menos que ele
seja aleatoriamente ordenado e infinito. Lembre-se que Borde, Guth e
Vilenkin provaram que qualquer universo em um estado de total expansão
não pode ter um passado infinito. O teorema deles se aplica ao
multiverso também. Portanto, uma vez que o passado do multiverso é
finito, apenas um número finito de outros mundos pode ter sido gerado
até agora, portanto não há garantias de que um mundo finamente ajustado
apareceria no multiverso. Em contraste, nós temos evidências
independentes para a existência de um Designer cósmico, a saber, os
outros argumentos para a existência de Deus que nós discutimos. Desta
forma, levando tudo isto em consideração, o teísmo é a melhor
explicação.
Segundo,
se nosso universo é apenas um membro aleatório dentro de um conjunto de
universos, então é infinitamente mais provável que nós deveríamos estar
observando um universo muito diferente do que o que nós de fato estamos
observando. Roger Penrose apresentou esta objeção com força.[40] Ele
calculou que é inconcebivelmente mais provável que um sistema solar
completo se forme através de colisões aleatórias de partículas do que
que um universo finamente ajustado exista. Portanto, se nosso universo
fosse apenas um membro aleatório de um multiverso, então é
incalculavelmente mais provável que nós estivéssemos observando um
universo não mais ordenado do que nosso sistema solar. Ou ainda, se
nosso universo fosse um membro qualquer de um multiverso, então nós
deveríamos estar observando eventos extraordinários como cavalos vindo a
existir através de colisões de partículas aleatórias ou máquinas de
movimento perpétuo, uma vez que tais coisas são muito mais prováveis do
que todas as constantes e quantidades do universo encaixando como luva,
apenas pelo acaso, com os valores infinitesimais que permitem a
existência de vida. Universos observáveis como aqueles seriam muito mais
comuns no multiverso do que mundos como o nosso, portanto, deveriam ser
observados por nós. Nós não temos tais observações, o que refuta
fortemente a hipótese do multiverso. No ateísmo, pelo menos, é mais
provável que não exista multiverso.
4.4. Conclusão
O
ajuste fino do universo é, portanto, não ocorre por necessidade física
nem acaso. Segue-se, portanto, que o ajuste fino é devido ao design, a
não ser que a hipótese do design possa ser demonstrada como ainda mais
implausível do que seus adversários.
4.5. A Crítica de Dawkins ao Design
Dawkins
afirma que a alternativa do design é, na verdade, inferior às hipóteses
de multiverso. Sumarizando o que ele chama de “argumento central do meu
livro”, ele argumenta,
1. Um
dos grandes desafios ao intelecto humano vem sendo explicar de onde vem a
aparência complexa e improvável de design no universo.
2. A tentação natural é atribuir a aparência de design e um design verdadeiro.
3. A
tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um projetista suscita
imediatamente o problema maior sobre quem projetou o projetista.
4. O guindaste mais engenhoso e poderoso descoberto até agora é a evolução darwiniana, pela seleção natural.
5. Nós não temos ainda um guindaste equivalente para a física.
6. Nós
não podemos perder a esperança de que surja um guindaste melhor na
física, algo tão poderoso quanto o darwinismo é para a biologia.
7. Portanto, Deus quase com certeza não existe.
Este
argumento é incrível porque a conclusão ateísta, “Portanto, Deus quase
com certeza não existe” não segue das seis premissas anteriores mesmo
que concedamos que cada uma delas seja verdadeira e justificada. No
máximo, a conclusão é que nós não podemos inferir a existência de Deus
com base a aparência de design no universo. Mas esta conclusão é bem
compatível com a existência de Deus e até mesmo com nossa crença em Deus
sendo justificada sobre outras bases. A rejeição do argumento do design
para a existência de Deus não faz nada para provar que Deus não existe
ou até mesmo que a crença em Deus seja injustificada.
De
qualquer forma, o argumento de Dawkins tem êxito em minar a alternativa
do design? O passo (5) faz alusão ao ajuste fino cósmico que tem sido o
foco de nossa discussão. Dawkins mantém a esperança de que “Algum teoria
do tipo da do multiverso pode em princípio fazer pela física o mesmo
trabalho explanatório que o darwinismo faz pela biologia”[41]. Mas ele
admite que nós não temos isto ainda, mas também não lida com os
formidáveis problemas de tal explicação do ajuste fino. Portanto, a
esperança expressa no passo (6) representa nada mais do a fé de um
naturalista. Dawkins insiste que mesmo na ausência de uma explicação
“altamente satisfatória” para o ajuste fino, ainda assim as explicações
“relativamente fracas” que temos no momento são “obviamente melhores que
a hipótese contraproducente de um projetista inteligente.”[42] Sério?
Que objeção tão poderosa à hipótese do design é esta que garante esta
obviedade interior para a admitida fraca hipótese do multiverso?
A
resposta se encontra no passo (3). A objeção de Dawkins aqui é que nós
não estamos justificados em inferir o design como a melhor explicação
para a ordem complexa do universo porque senão um problema maior vai
surgir: quem projetou o projetista? (Uma vez que Dawkins erroneamente
pensa que o multiverso é simples, não ocorreu a ele a questão, “Quem
projetou o multiverso?”) Esta questão aparentemente é tão esmagadora que
compensa todos os problemas relativos à hipótese do multiverso.
A
objeção de Dawkins, entretanto, não possui peso algum por duas razões.
Primeiro, a fim de reconhecermos uma explicação como melhor, nós não
temos que ter uma explicação para a explicação. Este é um ponto
elementar na filosofia da ciência. Se um grupo de arqueólogos encontrar
durante suas escavações coisas parecidas com flechas e pontas de
cerâmica, eles estarão justificados em inferir que estes artefatos não
são fruto do acaso por sedimentação e metamorfoses, mas produtos de
algum grupo desconhecido de pessoas, mesmo que eles não tenham a melhor
ideia sobre quem estas eram pessoas ou de onde eles vieram. De igual
modo, se astronautas descobrirem um maquinário no lado escuro da lua,
eles estarão justificados em inferir que isto é produto de agentes
inteligentes, mesmo que eles não tenham a menor ideia de quem eram estes
agentes ou como eles chegaram lá.
Repetindo:
a fim de reconhecer uma explicação como melhor, você não precisa de uma
explicação para a explicação. Na verdade, tal exigência nos levaria a
um regresso infinito de explicações de forma que nada jamais poderia ser
explicado, e a ciência seria destruída! Pois antes de qualquer
explicação pudesse ser aceitável, você precisaria de uma explicação para
ela, e uma explicação para a explicação da explicação, etc. Nada
poderia jamais ser explicado.
Portanto,
neste caso, a fim de reconhecer que o design inteligente é a melhor
explicação para a aparência de design no universo, você não precisa ter
uma explicação para o Projetista. A questão se o Projetista tem ou não
uma explicação simplesmente será deixada aberta para investigação
futura.
Segundo,
Dawkins pensa que no caso do Projetista divino para o universo, o
Projetista deve ser tão complexo quanto as coisas que estão sendo
explicadas, desta forma nenhum avanço explicativo estaria sendo feito ao
se postular o Projetista. Esta objeção dispara todo o tipo de perguntas
sobre o papel da simplicidade na avaliação de explicações competitivas.
Primeiro, Dawkins parece confundir a simplicidade de uma hipótese com a
simplicidade da entidade descrita na hipótese.[43] Postular uma causa
complexa para explicar algum efeito ainda pode ser uma hipótese simples,
especialmente quando comparada com as hipóteses rivais. Pense, por
exemplo, em nossos arqueólogos postulando um ser humano para explicar as
flechas e as pontas de cerâmica descobertas. Um ser humano é uma
entidade infinitamente mais complexa do que uma flecha ou que um pedaço
de cerâmica, mas a hipótese de um projetista humano é uma explicação
muito mais simples. Certamente é mais simples do que a hipótese de que
os artefatos tenham sido resultado não intencionado de, digamos, uma
debandada de búfalos que arrancou um pedaço de uma rocha que por acaso
se lascou no formato de pontas e flechas. O ponto é que é a hipótese
rival que está sendo avaliada pelo critério de simplicidade, não as
entidades postuladas.
Segundo,
existem muitos outros fatores além de simplicidade que os cientistas
pesam ao determinar qual hipótese é a melhor, como poder explanatório,
escopo explicativo, etc. Uma hipótese que tenha, por exemplo, um escopo
explicativo mais amplo pode ser menos simples do que sua hipótese rival,
mas ainda assim ser preferida porque explica mais coisas. Simplicidade
não é o único critério, e nem mesmo o mais importante para avaliação de
teorias!
Mas
deixe todos estes problemas de lado, pois o erro doloroso de Dawkins é
sua suposição de que um Projetista divino é uma entidade tão complexa
quanto o universo. Como uma consciência ou mente pura sem um corpo, Deus
é uma entidade notavelmente simples. Uma mente (ou alma) não é um
objeto físico composto de partes. Em contraste com o universo
contingente e matizado com todas suas quantidades inexplicáveis e
constantes, uma mente divina é surpreendentemente simples. Dawkins
protesta, “Um Deus capaz de monitorar e controlar permanentemente o
status individual de cada partícula do universo não pode ser
simples.”[44] Isto é uma confusão. Certamente uma mente pode ter ideias
complexas (ela pode pensar, por exemplo, em um cálculo infinitesimal) e
pode ser capaz de fazer tarefas complexas (como controlar a trajetória
de cada partícula do universo), mas a mente em si mesma é uma entidade
incrivelmente simples e não-física. Dawkins evidentemente confundiu as
ideias e os efeitos de uma mente, que podem, de fato, ser complexos, com
a própria mente, que é uma entidade incrivelmente simples. Portanto,
postular uma mente divina por trás do universo, definitivamente, é um
avanço em simplicidade, para tudo que vale.
Em seu
livro Dawkins de forma triunfante relata como ele apresentou seu suposto
argumento destruidor em uma conferência da Fundação Templeton sobre
ciência e religião na Universidade de Cambridge, apenas para ser
rejeitado pelos outros participantes, que o disseram que os teólogos
sempre consideraram que Deus é simples.[45] Eles estavam corretíssimos.
De fato, a atitude presunçosa e auto-exaltativa sobre sua objeção
equivocada, sustentada até mesmo em face de repetida correção por parte
de teólogos e filósofos proeminentes como Richard Swinburne e Keith
Ward, é uma maravilha de se ver.
Portanto,
das três alternativas diante de nós – necessidade física, acaso ou
design – a mais plausível das três, como explicação para o ajuste fino
cósmico, é o design. Desta forma, o argumento teleológico continua
robusto atualmente, como sempre foi, defendido de várias formas
diferentes por filósofos e cientistas como as Robin Collins, John
Leslie, Paul Davies, William Dembski, Michael Denton e outros.[46]
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