Como existe muita controvércia na internet quanto a se Jesus Cristo existiu ou não, vamos a conclusão de meu prezado amigo Ateu Acauan:
Assunto tratado no tópico Revista Galilei
O consenso dos historiadores é que não há mais motivos para se duvidar da existência de Jesus de Nazaré do que haveria para se duvidar da existência de Sócrates, com a diferença de que a Sócrates não se atribuíram dotes sobrenaturais.
Mas agregados mitológicos são esperados em figuras históricas de grande vulto, o que, por si só, não é suficiente para por em dúvida a existência do personagem em questão.Há evidências suficientes de que a mitologia montada em torno da pessoa de Jesus de Nazaré foi toda constituída após sua morte, o que motivou uma revisão em sua biografia para adequa-la àquela que seria esperado do messias judaico.
Só que os cristãos primitivos foram muito além da proposta inicial de apontar Cristo como Messias e terminaram por deificá-lo.
Dificilmente este complexo processo se daria sobre um personagem fictício.
São justamente as imperfeições nas narrativas biográficas, decorrentes da possível tentativa de conciliar fatos autênticos com agregados mitológicos, que conferem alguma veracidade histórica à Jesus de Nazaré, uma vez que uma biografia totalmente inventada não precisaria dos retoques que a denunciam como maquiada.
Além do que, a dinâmica histórica dos movimentos religiosos na palestina da época apontam para um momento crucial em que movimentos reformistas judaicos sem grande projeção terminam por gerar uma nova e poderosa religião, cujos seguidores foram capazes de entranhá-la em todo o mundo romano, terminando por conquistá-lo.
Tais dinâmicas dificilmente se iniciam sem um filósofo fundador e líder agregador, que catalize as potencialidades do momento histórico e disparem as forças reformistas ou mesmo revolucionárias.
Seria como, daqui a alguns séculos, cogitar que Marx e Lenin não existiram e que a revolução soviética se deu apenas por convergência espontânea das vontades populares.
E otras cositas más associadas às técnicas de exegese histórica que levam os historiadores a ver mais probabilidades na existência de Jesus do que na sua invenção.
Jesus e Papai Noel
Há uma diferença clara entre as biografias de Papai Noel e Jesus de Nazaré.
Não há uma biografia do Papai Noel. Mesmo que São Nicolau tenha inspirado o personagem, a certo momento a ficção ganha identidade própria e se desprende completamente da pessoa real que a motivou.
Isto não acontece com Jesus de Nazaré, onde temos uma biografia reinterpretada e, muito possivelmente, enxertada para dar sustentação à mitologia da divindade, mas ainda assim, temos uma biografia.
Os elementos principais da vida do Cristo são contraditórios demais com os arquétipos de emissários divinos para terem sido inventados com fim de enquadrá-lo como tal.
A história de um homem de origem pobre, que vive entre os populares, prega a eles e, por conta disto, é julgado e condenado a uma morte desonrosa não é lá muito espetacular.
Afinal, os romanos estavam sempre crucificando alguém por algum motivo. Um a mais ou a menos tanto faria como tanto fazia.
O ponto é este.
Os seguidores de Jesus precisam criar uma mitologia que se sustente APESAR de sua biografia e não por causa dela.
É diferente de um Ulisses, de Homero, por exemplo, em tudo e por tudo a perfeita encarnação do herói.
Por que alguém que se submeteu ao poder romano e foi crucificado sem resistência, com seus discípulos fugindo como coelhos assustados seria um modelo inspirador?
Se fosse para inventar tudo, seria muito mais conveniente contar a história de um messias que foi resgatado da cruz por anjos portando espadas flamejantes entre trovões e raios.
Só que ninguém acreditaria nisto na época, porque, possivelmente, havia uma história real, conhecida por todos, que contava exatamente o contrário.
Já a narrativa que conta uma ressurreição milagrosa, mas testemunhada em privado por meia dúzia de gatos pingados, todos partidários do dito cujo, já era mais difícil de ser desmentida.
O fato de vários elementos biográficos na vida de Jesus precisarem ser remodelados e reinterpretados para que ele pudesse ser apresentado como Deus, pelos critérios da exegese histórica evidencia que estes elementos tem grandes chances de ser verdadeiros, pois contrariam os interesses ideológicos dos próprios narradores. Duas perguntas que os historiadores se fazem nestes casos são:
1. Retirados os elementos fictícios ou com grande probabilidade de serem fictícios, o que sobra?
2. Qual a relevância histórica do que sobrou?
Se retirarmos os elementos fictícios do Superman não sobra nada e, caso sobrasse, Clark Kent não teria relevância histórica que merecesse atenção.
Quando retiramos os elementos provavelmente fictícios da biografia de Jesus de Nazaré, sobra a história da vida do fundador do cristianismo, a base moral e filosófica da civilização do ocidente. As duas correntes filosóficas que formataram o Ocidente foram a grega clássica e a filosofia cristã medieval, principalmente a Escolástica. Com Santo Tomás de Aquino a filosofia cristã foi amalgamada à filosofia socrática aristotélica, criando uma concepção da realidade centrada no indivíduo, o que seria a base de todos os valores da civilização ocidental.
É só com a ascenção do Iluminismo e a instituição do estado laico que o ocidente se afastou filosoficamente do cristianismo, embora seus valores permanecessem influenciando o estado democrático capitalista.
Um líder religioso, com concepções reformistas quanto ao judaísmo, pregou na Palestina do século I, desagradou as autoridades religiosas locais e foi executado pelos romanos.
Como sua mensagem era ao mesmo tempo simples para ser entendida pelas massas e forte a ponto de converter homens cultos como Paulo, se disseminou e criou uma mitologia própria em torno da pessoa que a originou.
O que está em discussão é se existiu um Jesus que inventou o cristianismo ou se foi o cristianismo que inventou Jesus.
Ou seja, se um homem real e histórico criou as bases da doutrina e filosofia cristã ou se os adeptos da doutrina e filosofia cristã criaram um homem para ocupar o papel de seu fundador mítico-divino.
Historicamente, é mais provável que um homem tenha lançado as bases de um movimento religioso, do que um movimento religioso sem um líder real identificado tenha criado o mito fundador no qual se baseia.
Seria um fenômeno particularmente estranho de circularidade histórica.
O problema é que o cristianismo é o que se poderia chamar de uma doutrina biográfica.
Ela se fundamenta completamente na biografia de seu fundador.
FONTE CLICK AQUI
Sem comentários:
Enviar um comentário