Prova de história do 5º ano gera polêmica sobre conteúdo ideológico em escola de Pelotas
Prova de história do 5º ano gera polêmica sobre conteúdo ideológico em escola de Pelotas
Prova de história do 5º ano gera polêmica sobre conteúdo ideológico em escola de Pelotas
Prova de história do 5º ano gera polêmica sobre conteúdo ideológico em escola de Pelotas
Mãe de aluna considera que questões não foram colocadas de forma apropriada para crianças de 10 anos. Escola diz que material está de acordo com diretrizes do MEC.Por Daniel Favero, G1 RS28/06/2017 15h13 Atualizado 29/06/2017 15h13
Prova questionada por pais de uma aluna (Foto: Arquivo Pessoal) O conteúdo de uma prova de história aplicada contra alunos da quinta série de uma escola particular de Pelotas, na Região Sul do Rio Grande do Sul, chamou atenção dos pais de uma das alunas, que consideraram o teste inadequado para crianças de 10 anos. Fotos do teste foram postadas nas redes sociais, e geraram indagação sobre a abordagem do conteúdo didático e o que consideram ser um excesso de doutrinação ideológica. A escola nega que o objetivo tenha sido esse.A prova de história apresenta questões sobre a Consolidação das Leis do Trabalho, desigualdade salarial e as reformas previdenciária e trabalhista. Os alunos tinham que responder a perguntas interpretando as charges."Achei muito descarada a questão política, não tinha conteúdo de história na prova, tinha um viés ideológico bem explícito", afirma a funcionária pública Janaína Mesquita, de 34 anos, mãe de uma das alunas."O que mais me incomoda é que essa prova parece que diz que a criança não é capaz de responder uma pergunta direta, de realmente aprender história e responder o que sabe (...) Como é que ela vai desenvolver uma escrita, elaboração de respostas, catar tudo lá no cérebro se não tem chance?", indaga uma pessoa nos comentários da postagem nas redes sociais.Uma das charges mostra um homem jogando uma carteira de trabalho no lixo, seguida de uma questão de múltipla escolha. "A charge faz referência à atual reforma trabalhista proposta pelo governo. Qual a opinião do chargista sobre ela?". A resposta correta era "ela seria péssima para os trabalhadores, por isso ele está jogando-a no lixo".Para Janaína, o conteúdo é inadequado para crianças de 9 a 10 anos idade, uma vez que as crianças não tinham margem de interpretação. Além disso, ela acredita que, com essa idade, os alunos ainda não tinham maturidade para fazer uma reflexão apropriada sobre o tema, e acabam tomando o conteúdo como verdade. "Um adolescente de 16, 17 ou 18 anos vai no site da Câmara buscar informação, mas uma criança não vai buscar a reforma trabalhista e levar ela impressa para questionar com o professor (...) Tu coloca uma ideia na cabeça das crianças, que não é bem isso, e explicar os pormenores é difícil, então eles ficam com aquilo como se fosse uma coisa ruim", analisa Janaina, citando outras referências que o professor já havia feito sobre mudanças na carga horária propostas pela reforma trabalhista.
Prova abordou o tema da reforma trabalhista em tramitação no Congresso (Foto: Arquivo Pessoal)Em outro trecho da prova, uma charge exibe um homem ao lado de um saco grande de dinheiro, oferecendo uma pequena bolsa para o um trabalhador, ao lado de outra imagem, de greve. A resposta considerada correta ao analisar as duas imagens é "os trabalhadores, por receberem baixos salários, entram em greve".Em outra questão sobre a função dos sindicatos, a resposta considerada correta é "defender os interesses dos trabalhadores".Janaina diz que postou as imagens no Facebook, e que recebeu o apoio de diversos pais. "Podem ter pais que tenham concordado com o conteúdo, mas muita gente me adicionou e prestou apoio", conta.
Pai compartilhou prova em seu perfilna internet (Foto: Reprodução/Facebook) Ela teve uma reunião com a direção da escola, e ouviu que o conteúdo estava de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação. Mas, ao mesmo tempo, considera que, apesar de ser baseada no livro didático, a prova representou muito da opinião do professor."Se ele [o professor] tem uma posição, ele tem o direito de ter, mas cobrar isso em uma prova para crianças é errado, porque se tu discorda, pode rodar [repetir] de ano", afirma."A CLT foi criada no governo Vargas [Getúlio], isso é história, mas o que foi pedido é mais uma questão de opinião (....) A charge do empreendedor como malvado explorador e o trabalhador como pobre coitado", diz Janaína, ao relatar uma questão ideológica que ela percebeu no conteúdo cobrado dos alunos.Mas não foram todos que viram problemas no conteúdo. "Não entendo como inadequado, não achei fora de contexto, acho que o conteúdo estava adequado. Pode ter conotação com viés político para alguns pais, mas não foi algo direcionado, acho que foi bem abordado", diz a professora universitária Idel Milani, que tem uma filha em uma das turmas de 5º ano, e que fez a prova. Escola diz que pais também devem educar A escola, por sua vez, diz que apenas uma das 90 famílias de alunos de 5º ano reclamou do conteúdo. A instituição acrescenta que convidou a família para conversar, que as colocações feitas pela mãe foram ouvidas, e será dada atenção ao tema.De acordo com a diretora administrativa da escola, Mônica Botelho, os pais também devem participar da educação dos filhos em casa.Por meio de nota, a escola diz que incentiva os alunos a serem cidadãos críticos e participativos desde cedo. "Para nós, o aluno deve ser sempre protagonista de seu próprio aprendizado. A interação com colegas, com professores e com os ambientes é o eixo articulador desta aprendizagem". A prova, conforme a escola, avaliou os conhecimentos ensinados em sala de aula sobre o trabalho durante a República, Império, Colônia e as conquistas dos trabalhadores na atualidade, em acordo com o material didático.
Material, segundo a escola, está de acordo com as diretrizes do MEC (Foto: Divulgação/Escola Santa Mônica)"A Escola Santa Mônica utiliza o Sistema Positivo de Ensino (SPE), adotado por escolas de todo o Brasil. O SPE é constantemente atualizado por um centro de pesquisas próprio, no qual especialistas analisam vivências de sala de aula e pesquisam ferramentas de ensino que ampliam o aprendizado. O resultado desse trabalho compõem livros didáticos, livros digitais, softwares educativos e o Portal Educacional. Portanto, o conteúdo de 5º ano do ensino fundamental trabalhado na avaliação não foi sugerido pela escola, e sim elaborado por um grupo de especialistas no qual a escola confia", explica a nota.Conforme a escola, é respeitada a limitação de faixa etária dos estudantes na abordagem dos assuntos."A proposta e intenção da avaliação foi de ir ao encontro do conteúdo desenvolvido em sala de aula, com questões objetivas e dissertativas, ambas de interpretação das imagens apresentadas. A habilidade de interpretação entra em todos os componentes curriculares da nossa escola, desde a educação infantil. Esta habilidade e competência vai sendo desenvolvida e aprimorada, se ajustando a faixa etária dos alunos ao longo dos anos. Prova disso é que mais de 97% dos alunos foram aprovados nesta avaliação. Nossos alunos são expostos a diversas visões de mundo ao longo da sua formação e isso é fundamental para que eles possa fazer suas próprias escolhas ao longo da vida", finaliza o comunicado. O G1 também procurou o MEC, que se manifestou por meio de nota. Confira na íntegra:"As instituições privadas de educação básica são regidas, de acordo com a LDB [Lei de Diretrizes e Bases], nos artigos 17 e 18, pelos sistemas municipais ou estaduais/Distrito Federal. A mesma LDB, no artigo 4, também deixa clara que é dever do Estado a educação escolar pública, garantido, entre outros pontos, o material didático-escolar. Diante disso, não existe nenhuma diretriz do MEC para elaboração dos livros das escolas particulares ou sobre quais livros essas instituições devem usar. Cabem aos conselhos estaduais de Educação a fiscalização, supervisão e avaliação dos estabelecimentos particulares. No âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), somente são atendidas as escolas públicas".
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