DOM PEDRO I E A ESCRAVIDÃO
"Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros"
-Dom Pedro I do Brasil
Dom Pedro I não acreditava em diferenças raciais e muito menos em uma
presumível inferioridade do negro como era comum à época e perduraria
até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Era também
completamente contrário à escravidão e pretendia debater com os
deputados da assembleia constituinte uma forma de extingui-la. O monarca
acreditava que a melhor maneira de eliminar a escravidão seria de uma
maneira gradual em conjunto com a imigração de trabalhadores europeus
para substituir a mão-de-obra que viria a faltar.
Pedro tinha noção de que não detinha meios para abolir o sistema
escravocrata, a não ser convencendo a sociedade brasileira. Contudo, a
escravidão não era utilizada por apenas ricos aristocratas como
popularmente se imaginava. Pessoas humildes compravam com seus poucos
recursos escravos que pudessem trabalhar por elas. Libertos também
detinham seus próprios escravos e até mesmo estes possuíam escravos. A
escravidão não se resumia somente a negros, e havia casos de brancos
escravos também. O Imperador combatia publicamente a escravidão e
entrava em choque com a população brasileira como um todo que via em
suas ações uma demonstração de "autoritarismo".
Segundo o próprio Pedro I:
"Os escravos nos inoculam todos os seus vícios, e nos fazem corações
cruéis, inconstitucionais e amigos do despotismo. Todo senhor de escravo
desde pequeno começa a olhar o seu semelhante com desprezo, acostuma-se
a proceder a seu alvedrio[arbítrio], sem lei nem roca, às duas por três
julga-se, por seu dinheiro e pelo hábito contraído, superior a todos os
mais homens, espezinha-os [humilha-os] quando empregado público, e
quando súdito em qualquer repartição não tolera nem sequer a menor
admoestação [repreensão com brandura], que logo o seu coração, pelo
hábito de vingar-se e de satisfazer-se as suas paixões, lhe esteja
dizendo: ‘Se tu foras meu escravo’…"
Poucas foram as pessoas que se aliaram a Pedro na primeira metade do
século XIX na luta pelo fim da escravidão, tais como: José Bonifácio,
João Severiano Maciel da Costa e Hipólito da Costa. A maior parte,
entretanto, permaneceu hostil às ideias abolicionistas. Seriam
necessárias várias décadas até que seu filho, Pedro II, e sua neta, a
princesa Isabel, lograssem convencer a sociedade brasileira da
necessidade de extinguir a escravidão, que era chamada de "cancro
[câncer] social".
De acordo com José Murilo de Carvalho, a prova "da força da escravidão é
o fato de que nenhuma das muitas revoltas regenciais propôs sua
abolição geral. Quando os malês se rebelaram em 1835, buscavam a
liberdade apenas para os irmãos de fé muçulmana". O abolicionismo de
Pedro I e de Pedro II viria a custar a coroa a ambos. Sobre o papel do
primeiro imperador na luta pelo fim da escravidão, a historiadora Isabel
Lustosa diz que:
[…] d. Pedro I foi um governante muito à frente da elite brasileira do
seu tempo. Ele afrontou os valores da escravidão, combatendo com vigor o
hábito de alguns funcionários públicos de mandar escravos para
trabalhar em seu lugar; concedendo lotes aos escravos que libertou na
Fazenda de Santa Cruz; no Rio de Janeiro e na Bahia, onde os ricos
circulavam em liteiras e qualquer pessoa que pudesse ter dois escravos
tinha condições de se fazer transportar pelas ruas numa rede amarrada
num pau que os escravos sustentavam nos ombros, lembra Macaulay, d.
Pedro andava a cavalo ou circulava numa carruagem puxada por cavalos ou
mulas e dirigida por ele mesmo; e, como foi visto, não permitiu que seus
súditos lhe prestassem a homenagem tradicional de carregar sua
carruagem nas costas por ocasião do Fico.
Por fim, segundo o Professor Gastão Reis, em Confraternização na ALERJ
no ano de 2013, o ponto culminante que forçou a abdicação de Dom Pedro I
em 1831 foi que, ainda naquele ano, Sua Majestade queria a abolição da
escravatura.
FONTES:
SOUSA, Otávio Tarqüínio de. A vida de D. Pedro I. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.
NARLOCH, Lenadro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. 2ª ed., revista e ampliada. São Paulo: Leya, 2011
CARVALHO, José Murilo de. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.17
LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.129
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