quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Socialismo é coisa de museu


Socialismo é coisa de museu


adeus-leninO que sobrou do socialismo do século XX foi basicamente Cuba e Coreia do Norte. Cuba vive uma transição lenta para o capitalismo e a Coreia continua na mesma onda há décadas: usa seu programa nuclear para barganhar ajuda humanitária dos países desenvolvidos. Na China, o Partido Comunista abriu mão do socialismo há muito tempo para se manter no poder. Em nenhum desses lugares existe mais movimento socialista com pretensões expansionistas nem seus governos têm qualquer interesse para expandir seu modelo social para fora de suas fronteiras. Não há mais nada no mundo que se assemelhe a um Comintern. Não existe mais socialismo.
O maior mérito do socialismo no século passado foi realizado de forma não intencional: foi forçar o capitalismo a mudar em favor dos mais pobres. As experiências políticas da primeira metade do século XX mostraram que o empobrecimento em massa resultante de grandes crises sociais e econômicas deixa amplas parcelas da população à mercê de ideologias extremistas. Ao ver sua existência ser posta em risco por elas, o capitalismo teve que se reinventar e atenuar seu ímpeto predatório. Para isso, lançou mão de políticas de equalização social, proteção do emprego, universalização de serviços públicos e sistemas de seguridade social.
Nas primeiras décadas do século XX, ficou claro que o liberalismo econômico não era mais capaz de reduzir as desigualdades sociais e proporcionar qualidade de vida para os mais pobres. Era preciso que o Estado atuasse com políticas públicas inclusivas para resolver as disparidades sociais que ameaçavam jogar o continente europeu num turbilhão de movimentos revolucionários.
A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique na Rússia, com o consequente desmanche do equilíbrio imposto pelo Congresso de Viena cem anos antes, deram o tom da violência que marcaria as décadas seguintes e grande parte do restante do século.
Depois da grande crise de 1929, o socialismo soviético forneceu aos países capitalistas desenvolvidos a fórmula para evitar a revolução mundial, e décadas depois se desintegrou por dentro e se anulou como alternativa política e social. Com o fascismo e o nazismo, a extrema-direita se apresentou como alternativa tanto ao socialismo marxista quanto ao liberalismo. Após mergulhar o mundo na Guerra e promover a barbárie inaudita do Holocausto, a extrema direita foi contida dentro dos limites em que não pudesse ameaçar a ordem democrática.
Os problemas da humanidade hoje se devem menos ao capitalismo do que à capacidade de redistribuição de recursos e administração de conflitos regionais dentro de um quadro político semelhante ao da social-democracia europeia. O capitalismo do século XX, seja em sua versão fascista, seja na versão social-democrata, entendeu que Estado Mínimo é uma noção tão perigosa quanto indesejável.
Já o fracasso da experiência soviética provou que o projeto marxista era menos atraente do que parecia. Se, por um lado, contribuiu para fazer  capitalismo se renovar, por outro foi incapaz ele mesmo de se renovar no sentido de uma abertura para as liberdades individuais e a produção de bens de consumo. Sem democracia e sem liberdade de mercado o socialismo estacou na improdutividade e na indolência.
Se chamamos as experiências socialistas do século XX de “socialismo real” em contraposição ao pensamento marxista que aponta para emancipação dos indivíduos em vez de sua subjugação pelo Estado totalitário, não deixa de ser verdade que o termo socialismo já agrega, em seu bojo, o germe do totalitarismo.
A democracia moderna tem como marco fundador a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que preconizava o direito de todo homem à vida, à liberdade e à propriedade. Para Marx, essa Declaração produzia apenas o que ele chamava de “homem egoísta”, porque a verdadeira emancipação humana seria alcançada pela ação revolucionária e a subsequente abolição da propriedade privada.
Em 1918, os bolcheviques proclamaram a Declaração dos direitos do povo trabalhador, como contraponto à declaração “burguesa” promulgada durante a Revolução Francesa. Mas ao abolir a propriedade privada, o Estado socialista se tornou uma nova classe dominante sobre os trabalhadores, tão ou mais implacável do que os governos “burgueses” que combatia.
O problema do socialismo real é que ele é o único socialismo possível. Não se elimina as distinções de classes sociais sem a existência de um Estado forte o suficiente para massacrar tudo o que cheire a oposição, e com isso desestimule os indivíduos à busca de inovação e de outras perspectivas. O socialismo pressupõe que ninguém possa não desejá-lo sob a ameaça de ser visto como inimigo da humanidade ou, como os bolcheviques gostavam de dizer, “inimigo do povo”. O socialismo transforma todos em inimigos potenciais de todos, transforma os indivíduos em agentes do governo ávidos a denunciar seu vizinho, amigo ou parente por ações “contrarrevolucionárias”. Não sobra nada além do Estado e sua nomenklatura, e uma massa de súditos aterrorizados.
Já sabemos qual foi o resultado disso: o gulag, o desterro de populações inteiras, milhões de inocentes desumanizados ou mortos.
Se o socialismo levou o capitalismo a se renovar, se reduziu o analfabetismo e até produziu alguma qualidade de vida, o preço humano que cobrou para se edificar foi alto demais para ainda ser lembrado como algo além de uma sucessão de tragédias. Socialismo e democracia são tão estranhos um ao outro quanto água e óleo.
Os crimes que o socialismo cometeu não são crimes intrínsecos à sua doutrina, como o racismo e o antissemitismo eram na doutrina nazista. Os que querem criminalizar o comunismo ou socialismo como fazemos com o nazismo erram. Mas podemos dizer também que moralmente e até doutrinariamente é um grande erro que alguém, uma organização ou um partido ainda se chamem de socialistas ou comunistas.
O mais importante, porém, é que, cem anos após a primeira revolução socialista, o socialismo como doutrina está acabado, virou peça de museu, embora muitos ainda não o reconheçam.
Foto de capa: cena de filme “Adeus, Lênin”, uma comédia dramática de 2003 que retrata o fim do socialismo na antiga Alemanha Oriental (RDA).

===========================================================

===========================================================

AMIGO/AMIGA , VAI LÁ NO YOUTUBE E DÁ UM LIKE E TAMBÉM INSCREVA-SE   NO CANAL ! OBRIGADO !É LÁ NO YOUTUBE . MUITO GRATO !



 
                                             https://www.youtube.com/watch?v=NQY84yFJjQg



Sem comentários:

Enviar um comentário