É maravilhoso que a Oxfam reconheça o “progresso surpreendente na redução da pobreza” nas últimas décadas, e que “os negócios podem ser uma grande força para o bem” a este respeito. Mas eu quero ser ganancioso. Quero que a Oxfam e todas as outras organizações que, com louvável razão, desejam ver uma redução na extensão da pobreza global, deem mais um passo: reconheçam que muito desse progresso surpreendente andou lado a lado com o crescimento e a difusão do livre comércio, da democracia, dos direitos de propriedade e do estado de direito em todo o mundo.
Esta semana 1 houve um debate no CapX – antes de um debate semelhante organizado pelo Centre for Policy Studies na Conferência do Partido Conservador Britânico – sobre as causas e as possíveis curas para a desigualdade global.
Sim, há desigualdade em excesso. E nós certamente “ainda não chegamos lá”. Mas devemos celebrar abertamente o fato de que a porcentagem da população mundial que vive com menos de US$ 1,90 por dia caiu de 44% em 1980 para 9,6% em 2015.


Proporção da população mundial vivendo em pobreza absoluta, 1820-2015. Em laranja, vivendo na pobreza (menos de US$ 2 por dia) de acordo com dados de Bourguignon e Morrison. Em vermelho, vivendo na extrema pobreza (menos de US$ 1 por dia) de acordo com dados de Bourguignon e Morrison. Em preto, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia de acordo com dados do Banco Mundial.

Também devemos ter cuidado ao analisar os dados sobre a riqueza e a desigualdade de renda. Por exemplo, como Tim Worstall explicou , “riqueza” é definida como ativos menos dívidas. Assim, um estudante brilhante de Harvard, que terá dívidas estudantis significativas e sem ativos reais (mas com fantástica renda potencial) será classificado como uma das pessoas menos ricas do mundo.
Usando essa definição, há mais pessoas pobres nos EUA ou na Europa do que na China: de fato, 30% das pessoas mais pobres do mundo, quando medidas pela riqueza, estão, com efeito, nos países ricos da Europa e da América do Norte. Mas isso ocorre porque os países ricos têm mercados financeiros relativamente eficientes, o que permite que as pessoas contraiam dívidas para ir à universidade ou comprar suas próprias casas.
Mesmo quando se trata de desigualdade de renda, a demografia pode muito bem estar prestes a provocar otimismo. Como a Oxfam apontou (juntamente com Thomas Piketty), o retorno sobre o capital foi maior do que o retorno sobre o trabalho nos últimos anos – o que significa que os ativos dos ricos crescerem mais rapidamente do que os salários dos pobres.
Em parte, isso pode ser colocado na conta de programas de compras de ativos nas economias ocidentais, como o Quantitative Easing 2 . Mais importante do que isso, no entanto, é o simples fato de que dois bilhões de trabalhadores menos remunerados e pouco qualificados se juntaram à economia global. Devemos nos surpreender que os ganhos dos trabalhadores pouco qualificados em outros lugares tenham caído, enquanto os ganhos do trabalho altamente qualificado e do capital aumentaram?
A coisa fundamental para entender, no entanto, é que esse processo chegou ao fim. O recentecrescimento exponencial da força de trabalho global atingiu seu clímax. Em muitas economias ocidentais, bem como na China, a força de trabalho está diminuindo. O processo acima irá então reverter: quando o trabalho não for tão abundante, sua participação na prosperidade futura pode aumentar.
Se aceitarmos que a pobreza está caindo drasticamente (ou até universalmente) e que a desigualdade pode cair diante das pressões demográficas, então talvez seja melhor olhar para o que é melhor fazer para incentivar ainda mais os bem-vindos desdobramentos.
Nesse sentido, reduzir a pobreza absoluta é certamente a maneira mais eficaz e mais desejável de reduzir a desigualdade?
Aqui podemos observar a Zâmbia, como Mark Goldring da Oxfam fez em seu artigo anterior na CapX . Ele ressalta que, enquanto o crescimento do PIB per capita foi de, em média, 3% entre 2004 e 2013, o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza de US$ 1,25 aumentou de 65% em 2003 para 74% em 2010.
Mas por que isso ocorreu?
Aqui vale a pena olhar para o Índice de Liberdade Econômica, que relata :
As práticas governamentais corruptas deixam milhões de zambianos em pobreza severa. O sistema judicial é fraco e é insuficiente na aplicação imparcial da lei, prejudicando os esforços de combate à corrupção. A corrupção também é um grande obstáculo e impedimento para o investimento estrangeiro.
Os altos preços das commodities causaram uma década de forte crescimento econômico, mas a economia se beneficiaria enormemente da diversificação. As inchadas folhas de pagamento do governo, as constantes mudanças das leis tributárias sobre o setor de mineração, que assustam os investidores, e a crescente dívida pública exacerbam os problemas da economia.
A melhor maneira de melhorar a vida de milhões de zambianos seria abordar as causas do problema. Isso significa concentrar nossos esforços na luta contra a corrupção e na defesa do estado de direito. Mas também significa incentivar os direitos de propriedade, cuja importância é ilustrada por este artigo por um trabalhador auxiliar da Zâmbia.
Como Hernando de Soto explicou, as reformas dos títulos de terra podem ter um enorme impacto, desbloqueando os US$ 10 trilhões de capital que atualmente é impossível para os pobres terem acesso. O trabalho de ONGs como a Oxfam nesta área, bem como de uma série de think tanks de livre mercado , pode continuar a proporcionar benefícios tangíveis e duradouros.
Podemos ousar ser otimista. Lenta e esporadicamente, e com muitas exceções, o mundo está se tornando um lugar melhor – pelo menos em termos de quanto ele se beneficia da fórmula mágica de livre comércio, de direitos de propriedade, de democracia e de estado de direito. E esta zona de prosperidade está se espalhando a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento da história humana.
Considere a democracia. Como Johan Norberg aponta em seu novo livro, Progress: Ten Reasons to Look Forward to the Future :
Nenhum país africano viu uma transferência pacífica de poder nas urnas nas décadas de 1960 e 1970, e houve apenas uma na década de 1980. Mas, de repente, na década de 1990, 12 países realizaram eleições pacíficas. […] Mas de repente, desde 1990, mais de trinta governos e presidentes africanos perderam eleições e saíram do governo.
Não é apenas a democracia. Nunca antes o mundo viu tal crescimento na expectativa de vida, educação universal, alfabetização, saneamento e direitos humanos. Tudo enquanto a guerra e a fome estão em declínio rápido.
Nada disso, eu enfatizo, deve ser um argumento para a complacência. Sempre haverá muitos casos de falha no mercado, de venalidade humana e decapitalismo de compadres . Nem podemos ser imunes às terríveis consequências da guerra e dos desastres naturais. Não há receita para a utopia.
Mas o progresso surpreendente das últimas décadas deve ser motivo de otimismo – que a qualidade de vida de literalmente bilhões de pessoas em todo o mundo continuará a melhorar.
E, se for esse o caso, as recomendações de políticas , seja para defensores do Partido Trabalhista Britânico ou para os apoiadores do Partido Conservador Britânico, seja para a Oxfam ou para ideólogos de mercado livre, devem ser claras: incentivar mercados livres e competitivos, o estado de direito, os direitos de propriedade e o bom governo.

Esse artigo foi originalmente publicado como Why we can dare to be optimistic about inequality para oCapX .

Notas:

  1. O artigo foi originalmente publicado em setembro de 2016. (N. do E.) 
  2. Política monetária heterodoxa na qual o governo compra ativos financeiros do mercado para aumentar a oferta monetária (já que o dinheiro que está usando para pagar pelos ativos está entrando em circulação) e baixar a taxa de juros. (N. do E.)