Elizabeth Loftus é uma psicóloga norte-americana, especialista em memória humana que desenvolveu uma extensa pesquisa acerca da natureza das memórias falsas.
Nas décadas de 80 e 90, os Estados Unidos viveram uma epidemia de "recuperação de memória" de abusos sofridos na infância, com pacientes de psicólogos e de psicoterapeutas que recordavam subitamente terem sido vítimas de violência – geralmente, sexual – por parte de pais, professores ou outros adultos.
Vários processos judiciais foram abertos pelas "lembranças" ressurgidas. O que Elizabeth Loftus tentou demonstrar foi que era possível que as memórias fossem falsas e tivessem sido criadas e implantadas na mente dos pacientes pelos próprios terapeutas.
Na década de 90, Loftus e Jacqueline E. Pickrell tentaram implantar uma memória específica em adultos, que hipoteticamente teria ocorrido quando tinham 5 anos de idade e que envolvia estar perdidos num shopping ou numa grande loja.
As autoras questionaram os 24 participantes, com idades entre os 18 e os 53 anos, para se tentarem lembrar de eventos de infância que tinham sido relatados às investigadoras por um familiar. Para cada participante foi preparada uma brochura com quatro historias, contendo três delas eventos que de facto aconteceram (foram relatadas pelos familiares) e a quarta, um acontecimento falso, construído pelas autoras sobre um possível passeio ao shopping. Foi confirmado pelos familiares que o participante nunca se tinha perdido aos cinco anos. O enredo da história “perdido no shopping” incluiu os seguintes elementos: perdido durante um período prolongado, choro, ajuda e consolo por uma mulher idosa e, finalmente, a reunião com a família.
Depois de ler cada história da brochura, os participantes escreveram sobre o que eles se lembravam do evento. Se eles não se lembrassem dele, eram instruídos a escrever “eu não me lembro disto”.
Em duas entrevistas seguidas, as investigadoras informavam os participantes acerca do seu interesse em comparar detalhadamente as suas recordações com as dos seus parentes. Os parágrafos sobre o evento não foram lidos literalmente aos participantes, em vez disso foram fornecidos excertos para sugerir a recordação. Os participantes recordaram aproximadamente 49 dos 72 eventos verdadeiros (68%) logo depois da leitura inicial da brochura e também em cada uma das duas entrevistas seguidas. Depois de lerem a brochura, sete dos 24 participantes (29%) lembraram-se tanto parcialmente como totalmente do falso evento construído para eles, e nas duas entrevistas seguidas seis participantes (25%) continuaram a afirmar que eles se lembravam do evento fictício.
Estatisticamente, havia algumas diferenças entre as verdadeiras e as falsas recordações: os participantes usaram mais palavras para descrever as recordações verdadeiras, e avaliaram-nas como estando um pouco mais claras do que as recordações falsas. Mas se um espectador fosse observar muitos dos participantes a descreverem um evento, seria realmente difícil para ele dizer se a história era uma recordação verdadeira ou falsa.
Claro que estar perdido, por mais assustador, não é o mesmo que ser molestado. Mas o estudo de “perdido no shopping” não é sobre experiências reais de estar perdido; é sobre implantar falsas memórias de estar perdido. O modelo mostra um modo de induzir falsas recordações e dá um passo em direcção ao entendimento de como isto poderia acontecer no mundo real. Além disso, o estudo fornece evidência de que as pessoas podem ser conduzidas a lembrarem-se do seu passado de modos diferentes, e elas podem até mesmo ser persuadidas a “lembrar-se” de eventos completos que nunca aconteceram.
Sem comentários:
Enviar um comentário