Moro compara prisão preventiva de corruptos à de 'serial killers'
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, deu pistas de que a operação pode estar chegando ao fim. Segundo o juiz, a maior parte dos trabalhos em Curitiba já foram feitos e a operação se espalhou pelo Brasil.
"[...] A parte mais relevante do caso envolve os beneficiários com foro privilegiado. E aí a jurisdição não é em Curitiba. Se encontram no STF. Pontualmente, casos de beneficiários com foro privilegiado que perderam suas posições, como o ex-presidente da Câmara, ele foi processado e julgado e cumpre pena neste momento. Nessa perspectiva, me parece que os trabalhos em Curitiba, embora seja imprevisível um fim, já percorreram um bom caminho".
O magistrado reconheceu, no entanto, que a força-tarefa não acabará com a corrupção do país.
"As pessoas muitas vezes têm uma ideia que a operação Lava Jato vai acabar com a corrupção. Isso não vai acontecer [...] A Lava Jato tem começo, meio e fim. Vai acabar e espero que ela acabe bem. Mas novos casos de corrupção certamente vão surgir. E que vão exigir novos desafios por parte das instituições brasileiras.
Moro afirmou que a prisão preventiva de suspeitos de corrupção segue a mesma lógica da detenção de um "serial killer" antes do julgamento final.
Ele afirmou que boa parte das medidas cautelares tem como objetivo proteger a sociedade e as vítimas de novos crimes.
"Aqui podemos fazer uma comparação com uma situação que vemos muito no cinema: casos de serial killers. Não vai esperar ele ser preso até o fim do julgamento para que haja uma nova vítima", afirmou.
"O mesmo raciocínio existe para a corrupção sistêmica. O que foi observado é que essas pessoas praticavam esses crimes de maneira sistemática, reiterada. Daí a necessidade de usar um instrumento drástico para impedir a prática desses crimes", declarou o magistrado.
Ele citou o caso do ex-ministro José Dirceu, sem nomeá-lo, que é acusado de receber propina enquanto era julgado no caso do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal). A declaração foi dada em entrevista à GloboNews exibida na noite desta terça-feira (17).
Moro classificou como "proposta absurda" a tentativa de impedir delação premiada de pessoas presas. Ele disse, porém, que a Lava Jato entra numa fase em que se exige "acordos com condições mais rigorosas".
Ele citou como exemplo o caso do operador financeiro Lúcio Funaro, que ficará dois anos preso. A Procuradoria-Geral da República foi criticada pelos termos do acordo com Joesley Batista, da JBS.
"É importante evitar benefícios excessivos a esses indivíduos", afirmou.
Moro disse que, embora veja reação de agentes políticos a fim de afetar o combate à corrupção, avalia que "nada de efetivo foi feito". Mas vê como frustrante a ausência de lideranças políticas que consigam avançar nas "pautas reformistas", como fim do foro privilegiado.
"A maior frustração resultante de todo esse caso é o fato de que ainda faltam lideranças políticas que se sobressaiam com esse discurso em defesa aos trabalhos de investigação e com discurso reformista", disse o magistrado.
DEMOCRACIA
O magistrado relacionou o baixo apoio à democracia aos reiterados casos de corrupção. A parcela de brasileiros que apoia pelo menos uma forma de governo "não democrática" e que mostra simpatia por militares no poder é maior do que a média global, segundo um levantamento realizado pelo americano Centro de Pesquisas Pew em 38 países.
"Essa própria frustração que as pessoas manifestam em relação à democracia não é contra a democracia em si, mas é verificar que existem pessoas que se aproveitam de posições de poder para agir em benefício privado", afirmou.
Ele voltou a negar ter pretensões políticas. Disse que "as pesquisas perdem tempo quando colocam o meu nome".
Moro também comentou críticas a dois episódios protagonizados por ele. O magistrado defendeu sua presença na estreia do filme "Polícia Federal: a lei é para todos", inspirado na Lava Jato.
"Não fiz o filme. Não tenho controle sobre ele. Fui convidado para a estreia e fui. Não tem qualquer relação. Confesso que nem comi pipoca, como sugere uma foto", disse ele.
Ele disse também que a foto sorrindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) num evento "não significa nada".
"Fui num evento público em que, na organização, acabei ficando ao lado dele. O senador é espirituoso e tem seus momentos jocosos. Mas isso não significa nada, nenhuma aprovação de eventuais atos ilícitos do senador. A foto sugere mais do ela significa. Aliás, ela não significa nada", declarou Moro.
Ele não quis comentar os casos relacionados ao ex-presidente Lula, já condenado num dos processos.
"Sobre o caso do Lula, é uma pergunta complicada para eu responder porque ele já foi condenado num caso, o caso se encontra em apelação no TRF-4, e é um tribunal composto por magistrados absolutamente sérios, que vão tomar a melhor decisão no caso, confirmando ou não a condenação... e por outro lado ele tem casos pendentes aqui na vara. Então, eu não me sinto confortável em falar sobre o caso dele, já que existem casos pendentes que ainda vão demandar julgamentos da minha parte", declarou.
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